Por: Flávio Dino
Na próxima terça-feira, centenas de milhões de famílias no mundo inteiro celebram o nascimento de Jesus, ocorrido há 2012 anos. A data é a primeira em importância no calendário cristão e a celebração mais profundamente enraizada na memória afetiva do povo brasileiro.
Este ano, para mim, a data vem acompanhada de imensa tristeza, pela perda de meu filho Marcelo, causada por ganância, negligência, desumanidade em um hospital que deveria salvar vidas. Penso, neste momento, em muitos daqueles que não podem passar o Natal com sua família completa. Quantas famílias que por algum motivo – violência, crime, falha hospitalar – passarão o Natal sem algum de seus parentes?
Sintonizado nessa profunda dor, renovo minha reflexão sobre um importante ensinamento cristão que sempre me inspira nos caminhos da vida: “o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz” (Tiago 3,18). Muitas vezes, essa paz é mal compreendida. Não devemos entendê-la como a simples ausência de conflitos. Se essa ideia fosse real, poderíamos entender como paz o silêncio dos que se resignam diante das intempéries da vida e calam diante das injustiças, ou a prostração diante das dificuldades. E este não é o exemplo que Jesus nos deixou.
Em um dos episódios mais marcantes narrados pela Bíblia, Jesus, antes de ser condenado à crucificação, chega a um templo em Jerusalém e o encontra ocupado por mercadores. Não teve dúvidas: “Expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas” (Mateus 21-12).
Os sacerdotes do templo se surpreenderam pela contundência com que Jesus tratou os mercadores. No entanto, Ele justificou a ação pelo respeito ao local divino. Com essa passagem importante da Bíblia, Jesus deixa claro, a todos nós que seguimos seus ensinamentos, que paz não é ausência de luta. Todos passamos por situações parecidas em nossas vidas e temos de entrar em disputas para obter a justiça que tanto queremos, por meio da qual poderemos obter a tão sonhada paz – plena e verdadeira.
Outra passagem da Bíblia que me vem à cabeça neste momento de Natal é do Evangelho de Mateus. Ele conta a história de um proprietário que não planta nada em seu terreno e o arrenda a outras pessoas para que plantem oliveiras. Ao final da parábola, Jesus se dirige aos fariseus: “Eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será dado a uma nação que dê os seus frutos”, (Mateus 21-43).
‘Dar frutos’, ou seja, aproveitar as possibilidades que se abrem em nosso caminho e ser generoso diante da fartura que somos capazes de produzir é um dos preceitos mais caros ao cristianismo. Por isso, indigno-me sempre com realidades que encontro no Maranhão. A riqueza que nosso estado produz segue mal distribuída entre os maranhenses. Ou seja, a riqueza maranhense existe e cresce, mas não “dá frutos”, pois se perde nos ralos da concentração desumana, da corrupção e da incompetência.
Essa é a realidade anticristã sobre a qual devemos meditar e orar. E contra a qual devemos lutar, para encontrar a paz. Afinal, “bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mateus 5:-6)
Bom Natal a todos!
Flávio Dino, 43 anos, é presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), foi deputado federal e juiz federal
0 comentários:
Postar um comentário