Associação de Mulhere e Mães de Autistas do Maranhão se Reúne em Bacabal

Mães atípicas se sentem valorizadas pela entidade

Pedreiras, Lima Campos e Trizidela do Vale são premiados com Selo de Referência em Atendimento pelo Sebrae

A Sala de Pedreiras ganhou Selo Ouro

Programa Saúde Ocular Beneficia Cerca de 200 Crianças em Bacabal

Programa é uma parceria entre as secretarias de Educação e Saúde

Sessão Solene na Câmara Municipal de Bacabal Celebra o Dia Internacional da Mulher

Vereadoras Nathália Duda e Regilda Santos conduzem Sessão Solene

domingo, 28 de abril de 2024

A Carta



A casa estava silenciosa naquela tarde de maio, a luz fraca filtrando-se pelas cortinas entreabertas. Maria, uma mulher de meia-idade, sentou-se à mesa da cozinha, mãos trêmulas segurando uma xícara de café já frio. Seu filho, Gabriel, havia saído na noite anterior e não voltara. Era um padrão com o qual ela já estava infelizmente familiarizada.

Gabriel, agora com 21 anos, havia sido um raio de sol em sua vida, mas também uma tempestade implacável. Desde os 11 anos, Gabriel se afundara nas profundezas do vício. As drogas o haviam roubado de Maria, deixando-a com apenas lembranças de um garoto que costumava brincar no quintal. Ela não sabia mais como ajudá-lo. As noites eram longas e solitárias, e o medo a sufocava.

_ Mãe! Me dá dinheiro Mãe!!! – Entrou Gabriel de repente. cambaleou pela porta da cozinha, os olhos injetados de vermelho, o corpo trêmulo.

Maria o encarou, com coração apertado.

_ Meu filho, você precisa parar com isso. Você está se matando.

_ Me larga mãe. Me dá logo um dinheiro ai!!

_ Não! Dessa vez não Gabriel!! – Disse Maria seriamente!

_ Mas eu quero!!! – Gritou Gabriel agressivo.

_ Eu não dou Gabriel. – Respondeu Maria.

_ Vagabunda! – Disse Gabriel já agredindo a mãe.

Maria gritou com o rosto sangrando, Gabriel enfurecido de raiva quebrou tudo dentro de casa, chamando a atenção de vizinhos que socorreram Maria enquanto ele fugia em disparada pelas ruas do bairro.

Maria foi levada ao hospital com o rosto desfigurado. Recebeu atendimento para médico e voltou para casa pensativa, sentindo-se derrotada pela vida; as horas se passaram, sozinha no silêncio do seu quarto pensava no futuro do filho.

Era quase meia noite quando o celular tocou, fazendo-a pular. Com o coração apertado, ela atendeu. Era um policial, Coronel Túlio do outro lado da linha, falando sobre uma possível ocorrência envolvendo Gabriel. Sem pensar duas vezes, Maria pegou suas chaves e saiu apressada.

Chegando à delegacia, foi levada a uma sala onde Gabriel estava, visivelmente abalado. Ele estava em crise de abstinência, tremendo e suando, uma expressão de dor no rosto. Maria se aproximou dele, sentando-se ao seu lado. Ela não sabia o que dizer, então apenas segurou sua mão, transmitindo silenciosamente seu amor e apoio.

_Me desculpe, mãe ... - Disse Gabriel com a voz trêmula. - Eu não queria te agredir. Eu só... Eu só não aguentava mais.

Maria sentiu um nó na garganta. Ela olhou nos olhos do filho, vendo a dor e a angústia que ele carregava. Ela queria poder tirar toda aquela dor dele, mas sabia que não podia. Ela o abraçou com força, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto machucado.

_Eu sei, meu filho. Eu sei... - Sussurrou ela, acariciando seus cabelos. - Vamos buscar ajuda, juntos. Você não está sozinho nessa luta.

Os dias seguintes foram difíceis, com Gabriel passando por um processo de desintoxicação na Fazenda da Esperança onde fora bem recebido por Padre Lauro. Maria estava ao seu lado a cada momento, apoiando-o incondicionalmente. À medida que o Dia das Mães se aproximava, ela pensava no que gostaria de receber: a segurança de que seu filho estava bem, livre do domínio das drogas.

Na manhã do Dia das Mães, Gabriel apareceu na cozinha de casa com um sorriso tímido no rosto. Ele segurava um pequeno envelope nas mãos. Maria o abraçou com força, sentindo uma onda de alívio e gratidão inundar seu coração.

_Obrigado, mãe. - Disse Gabriel, entregando-lhe o envelope. -Por nunca desistir de mim, mesmo quando eu mesmo já havia desistido.

Maria abriu o envelope e encontrou dentro dele uma carta escrita à mão por Gabriel. Ele expressava todo o amor, gratidão e arrependimento que sentia porque não conseguia dizer com palavras. Maria sorriu através das lágrimas, abraçando-o com força.

Ao abrir a carta, Maria encontrou um bilhete de passagem para uma viagem que ela sempre sonhou em fazer, mas nunca teve a chance. Visitar parentes que moravam numa praia do litoral cearense. Gabriel, com a ajuda de pessoas que conheceu durante sua reabilitação, organizou tudo em segredo. Ele queria que sua mãe tivesse um momento de descanso e felicidade depois de tantos anos de preocupação e sofrimento. Juntos, mãe e filho embarcaram nessa viagem de cura e recomeço.

José Casanova
Professor, Jornalista e Escritor membro da 
Academia Bacabalense de Letras

Nota do autor: A luta contra o vício é uma jornada dolorosa e complexa. Que esta crônica seja uma homenagem a todas as que enfrentam essa batalha com amor e coragem

domingo, 7 de abril de 2024

Autismo: Desconhecimento e desserviço por David Morais

Em outubro do ano passado, No  último dia 23 de outubro, no Programa The Noite, o apresentador Danilo Gentili entrevistou a autista e jornalista Amanda Ramalho. A qual falou da sua trajetória e do seu diagnóstico de autismo. Sendo várias vezes interrompida na sua fala pelo apresentador Gentili que comunicou ter sido “diagnosticado” com autismo há mais de um ano.

Ao fazer o comunicado do  seu “diagnóstico” , o apresentador disse que teria sido informado que teria que “fazer exame” para saber em “qual espectro”, nível do autismo estaria. Desinformado e mal assessorado, pois não há exame para detectar o TEA(Transtorno do Espectro Autista). A avaliação é clínica. Pode ser com psicólogo(a) ou médico(a). Geralmente, a partir do relatório psicológico , o (a) médico(a) realiza testes para fechar o diagnóstico. Isso levando ano ou anos para fechar o diagnóstico. Assim, foi o meu diagnóstico e de muitos(as) outros(as) autistas adultos.

Não existe menos ou mais autista. Autista é autista. O diagnóstico mostra o nível de suporte a partir do prejuízo vivido e vivenciado. Somando-se  a necessidade de intervenções terapêuticas. Dessa forma, o diagnóstico só faz sentido se a pessoa precisa de ajuda e não para quem não  quer saber se é autista como bem disse o apresentador mencionado anteriormente, prestando tamanho desserviço devido ser uma pessoa pública. Como um autista adulto digo que já basta a sociedade capacitista e racista tentar invalidar o meu diagnóstico e destilar estigmas e preconceitos.

Fiquei pensando: se o apresentador Danilo Gentili não queria saber se era autista. Por que foi buscar o diagnóstico? Muito contraditório. Não é mesmo? Ao mesmo tempo, banalizando o diagnóstico que não é nenhum “ diploma para fazer piada”. Não sabendo que a Lei 12.764/12 determina que a pessoa com TEA é considerada pessoa com deficiência para todos os efeitos legais. Em função do meu ativismo  e militância neurodivergente, conheço e tenho conhecimento de  vários  adultos que não querem buscar o diagnóstico e de muitos que não querem comunicar o diagnóstico. Um direito pessoal e intransferível. Mas que não dá o direito de banalizar o diagnóstico.

“ O autismo virou modinha”; “ Você não tem cara de autista”; “ todo mundo é um pouco autista”; “ autismo  e TDAH( Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade)  são  invenções mentais para não demonstrar fraqueza”; sendo falas e expressões que , na verdade,  são banalizações do diagnóstico que acabam repercutindo negativamente, constrangendo e prejudicando, principalmente, autistas adultos com transtornos comórbidos : ansiedade generalizada e depressão.

Diante de tantos desconhecimentos e desserviços que já se apresentaram, gostaria de falar da  minha condição de autista adulto com diagnóstico tardio , nível 2 de suporte  com comorbidades associadas. De vez em quando , percebo que ainda há os(as) fiscais do autismo que não são nada empáticos(as) e, sim, peçonhentos(as). Visto que, ficam fazendo julgamentos e questionamentos sobre os meus direitos enquanto pessoa com deficiência. Direitos não são privilégios. São adaptações necessárias visando intervenções, tratamento e uma melhor qualidade de vida.

Leitor e leitora? Mas tanto falei de diagnóstico que o mesmo pareceu ser ofertado facilmente. No entanto, não é. Mostrando-se um tanto difícil devido à escassez de oferta de profissionais qualificados, sobretudo, na rede pública. Apesar de alguns avanços, entendo que são necessárias políticas públicas que garantam o acesso ao diagnóstico e o atendimento especializado para todos e todas que precisam.

Sei que os desconhecimentos  e os desserviços sobre o autismo continuarão. Contudo, a luta  seguirá firme no sentido de levar a conscientização e promover as mais diversas políticas públicas de inclusão. “É hora da inclusão”. Por uma sociedade antirracista e anticapacitista!

Antonio David Filho da Silva Morais, conhecido como   “David Morais”. Autista e TDAH. Ativista e militante neurodivergente. Burilador de palavras. Membro da Coordenação da UNEGRO MA. Bem como, Membro da Coordenação Municipal do MOAB( Movimento do Orgulho Autista) em Santa Inês MA e da Coordenação Estadual /MA do VNDI  ( Movimento Vidas Negras com Deficiência Importam).