Associação de Mulhere e Mães de Autistas do Maranhão se Reúne em Bacabal

Mães atípicas se sentem valorizadas pela entidade

Pedreiras, Lima Campos e Trizidela do Vale são premiados com Selo de Referência em Atendimento pelo Sebrae

A Sala de Pedreiras ganhou Selo Ouro

Programa Saúde Ocular Beneficia Cerca de 200 Crianças em Bacabal

Programa é uma parceria entre as secretarias de Educação e Saúde

Sessão Solene na Câmara Municipal de Bacabal Celebra o Dia Internacional da Mulher

Vereadoras Nathália Duda e Regilda Santos conduzem Sessão Solene

domingo, 25 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA : Anseios de um catador de latinhas

 

Nas ruas fervilhantes de Salvador, segundo a sabedoria popular; atrás do trio elétrico, só não vai quem já morreu.  Tão invisível quanto quem já morreu, atrás do Trio elétrico segue Fernando com seu corpo naturalmente malhado, cabelos encaracolados e olhar curioso, o catador de latinhas, busca em meio a multidão fragmentos de uma vida melhor. Enquanto os foliões pulam ao som do axé, ele caminha com seu carrinho, recolhendo latinhas e observando a festa com olhos críticos.

Fernando sempre foi um observador atento do Carnaval. Para ele, a festa representa muito mais do que música e dança. É um retrato da sociedade, onde a alegria e o consumo contrastam com a realidade de muitos. A ideia que passa é que na Bahia não há tristeza. Ledo engano. A alegria fantasiosa do carnaval não passa de uma máscara social.

Enquanto separa as latinhas, Fernando reflete sobre a origem do trio elétrico, criado por Dodô e Osmar nos anos 50. Ele sabe que por trás da festa há uma complexa cadeia produtiva: músicos, artistas, técnicos, bares, malharias restaurantes e vendedores ambulantes que dependem do Carnaval para sobreviver.  A  festa considerada pagã, parece perder público, muitas pessoas optam por eventos mais afastado e menos barulhentos.

No entanto, apesar de ser fundamental para sua vida, Fernando não consegue evitar questionar o valor que a sociedade dá a essa festa em comparação a outras questões urgentes, como políticas públicas de saúde, educação, saneamento básico, preservação do meio ambiente e do patrimônio histórico das cidades.  Ele se pergunta se todo o dinheiro gasto no Carnaval não poderia ser melhor utilizado em benefício da população.

Enquanto isso, os trios elétricos seguem seu caminho, arrastando multidões e deixando para trás um rastro de sujeira, alegria e diversão. Fernando continua seu trabalho, recolhendo as latinhas e as reflexões que o Carnaval lhe proporciona, na esperança de um futuro onde a festa seja motivo de celebração, mas não a única prioridade.

Por José Casanova
Professor,  Jornalista e Escritor membro da 
Academia Bacabalense de Letras

 

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

PARLAMENTO MUNICIPAL DE BACABAL REALIZA SESSÃO DE ABERTURA DO ANO LEGISLATIVO DE 2024 Para marcar oficialmente o início das atividades no parlamento municipal, a Câmara de Bacabal realizou duas sessões consecutivas na quarta-feira, 21 de fevereiro. Presidida por Melquiades Neto (MDB), ao lado da primeira secretária Natália Duda (MDB), e do segundo secretário Reginaldo do Posto (PDT), a Sessão Solene foi inaugurada com a execução do hino nacional e uma leitura bíblica conduzida pela vereadora Regilda Santos (PL). Na ocasião, a vereadora Natália Duda fez a leitura da mensagem do prefeito Edvan Brandão, destacando as ações de sua gestão e a importância da atuação dos vereadores para o contínuo desenvolvimento da cidade e superação dos desafios. Dando prosseguimento aos trabalhos, a Sessão Ordinária contemplou a aprovação de diversas proposições em benefício da sociedade bacabalense. Entre elas, o Projeto de Lei nº 1583/2024, de autoria do vereador Venâncio do Peixe (PDT), que nomeia a Praça Francisco Antônio de Lima (Chico Manoel) no bairro Juçaral. Também foi aprovado o Projeto de Decreto nº 01/2024, proposto pelo vereador Fernando da Luziana (PDT), conferindo o Título de Cidadão Bacabalense ao médico cirurgião geral, cirurgião vascular e endovascular, Dr. José Carlos Portela Silva. Além disso, o Projeto de Lei nº 1579/2023, originado do Poder Executivo, foi aprovado, criando o Fundo Especial da Procuradoria Geral do Município de Bacabal. A Sessão ainda contemplou a aprovação de requerimentos solicitando diversos serviços da Prefeitura, desde obras de infraestrutura, doação de terrenos, perfuração de poço artesiano até iluminação pública. A presença de 14 dos 17 parlamentares, além do público na galeria, evidenciou o engajamento e interesse na condução dos assuntos pertinentes ao Município. Em sua análise, o presidente da Casa, Melquiades Neto, expressou sua satisfação com o retorno das atividades parlamentares, ressaltando: “Sessão muito proveitosa, retomamos no Plenário da Casa com várias matérias aprovadas. Porém, não paramos durante o recesso. Já iniciamos as tratativas sobre a questão do SAAE, que iremos buscar fazer o que estiver ao nosso alcance para melhoria do órgão e é claro, agradecer a todos os colegas vereadores e à comunidade aqui presente.” Com o compromisso de continuar trabalhando em prol do desenvolvimento e bem-estar da população, a Câmara de Bacabal segue em sua missão legislativa, buscando sempre atender às demandas da sociedade.

Para marcar oficialmente o início das atividades no parlamento municipal, a Câmara de Bacabal realizou duas sessões consecutivas na quarta-feira, 21 de fevereiro. Presidida por Melquiades Neto (MDB), ao lado da primeira secretária Natália Duda (MDB), e do segundo secretário Reginaldo do Posto (PDT), a Sessão Solene foi inaugurada com a execução do hino nacional e uma leitura bíblica conduzida pela vereadora Regilda Santos (PL).

Na ocasião, a vereadora Natália Duda fez a leitura da mensagem do prefeito Edvan Brandão, destacando as ações de sua gestão e a importância da atuação dos vereadores para o contínuo desenvolvimento da cidade e superação dos desafios.

Dando prosseguimento aos trabalhos, a Sessão Ordinária contemplou a aprovação de diversas proposições em benefício da sociedade bacabalense. Entre elas, o Projeto de Lei nº 1583/2024, de autoria do vereador Venâncio do Peixe (PDT), que nomeia a Praça Francisco Antônio de Lima (Chico Manoel) no bairro Juçaral. Também foi aprovado o Projeto de Decreto nº 01/2024, proposto pelo vereador Fernando da Luziana (PDT), conferindo o Título de Cidadão Bacabalense ao médico cirurgião geral, cirurgião vascular e endovascular, Dr. José Carlos Portela Silva. Além disso, o Projeto de Lei nº 1579/2023, originado do Poder Executivo, foi aprovado, criando o Fundo Especial da Procuradoria Geral do Município de Bacabal.

A Sessão ainda contemplou a aprovação de requerimentos solicitando diversos serviços da Prefeitura, desde obras de infraestrutura, doação de terrenos, perfuração de poço artesiano até iluminação pública.

A presença de 14 dos 17 parlamentares, além do público na galeria, evidenciou o engajamento e interesse na condução dos assuntos pertinentes ao Município. Em sua análise, o presidente da Casa, Melquiades Neto, expressou sua satisfação com o retorno das atividades parlamentares, ressaltando: “Sessão muito proveitosa, retomamos no Plenário da Casa com várias matérias aprovadas. Porém, não paramos durante o recesso. Já iniciamos as tratativas sobre a questão do SAAE, que iremos buscar fazer o que estiver ao nosso alcance para melhoria do órgão e é claro, agradecer a todos os colegas vereadores e à comunidade aqui presente.”

Com o compromisso de continuar trabalhando em prol do desenvolvimento e bem-estar da população, a Câmara de Bacabal segue em sua missão legislativa, buscando sempre atender às demandas da sociedade.














terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA - RACISMO: a insistência da ignorância

 

No estacionamento movimentado de um supermercado famoso na Terra da Bacaba, onde as cores e os sons dos atabaques africanos da cidade se misturam, um episódio revelador de nossa realidade se desenrola, como um retrato em negativo de nossa sociedade. Uma professora universitária, negra, chamada Núbia Reis, aguarda pacientemente ao lado de seu carro. Seus pensamentos, talvez mergulhados em questões acadêmicas, são interrompidos por uma voz estridente.

Uma mulher branca, de aparência distinta, se aproxima. Tem todos os traços físicos de uma cigana, talvez com “olhar obliquo e dissimulado”, imortalizada na obra de Machado de Assis. Seus gestos carregam a certeza de quem nunca foi questionado. Ela insiste que a professora cobre panelas, que poderia cobrar no cartão de crédito. A professora, educada e firme, explica que não poderia comprar no momento, apenas aguardava sair no seu  carro.

A mulher branca não aceita a resposta. Sua insistência se transforma em agressão verbal. Ela chama a professora de "negra", com um tom pejorativo que carrega séculos de discriminação. Ela a chama de "fedida", numa tentativa vil de associar a negritude a algo sujo e indesejável. E, por fim, ela a chama de "macaca", utilizando o termo racista mais grotesco, herança de uma época em que os negros eram tratados como animais.

O que sente uma pessoa vítima de racismo? Só que  sofre na pele  e no coração o sabe. Núbia é de fato uma bela mulher negra e empoderada, representa muito bem as mulheres quilombolas de São Sebastião dos Pretos, Piratininga, Catucá  e tantas outras comunidades remanentes de quilombo reconhecidas ou não  neste país. Núbia traz na veias o sangue de Dandara, a força de Zumbi dos Palmares, a energia do tambor de crioula de dona  Maria de Geraldo, patrimônio imaterial de nossa cultura,  que rufa na madrugada espetando o mal olhado do preconceito e da ignorância.

Esse episódio, embora lamentável, não é isolado. Ele se repete pelas ruas do Brasil a fora. É o reflexo do racismo estrutural que permeia nossa sociedade nas escolas, repartições públicas e privadas e até nas instituições que deveriam promover nossa proteção e  garantir nossos direitos. Um racismo que se disfarça em pequenas atitudes do cotidiano, mas que tem raízes profundas em nossa história.

No Brasil, um país construído sobre as costas dos ancestrais escravizados, o racismo se manifesta de diversas formas. As comunidades quilombolas , que lutam pela preservação de sua cultura e identidade, muitas vezes são em sua maioria marginalizadas e esquecidas. Ele está presente na educação, onde o racismo estrutural se manifesta na falta de representatividade e nas barreiras enfrentadas pelos estudantes negros. É urgente e necessário a formação de professores antirracistas para desmitificar a tez da educação.

O racismo também se faz presente no futebol, nas artes, nas relações de trabalho, e, de forma ainda mais cruel, na violência contra a mulher negra. Mulheres como Núbia que são vítimas de um sistema que as coloca em uma posição de vulnerabilidade, onde sua cor de pele as torna alvo de preconceito e discriminação.

Diante desse cenário, iniciativas como a União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro) se tornam ainda mais importantes. Essa entidade luta incansavelmente contra o racismo, buscando promover a igualdade e a justiça social.  Equidade de oportunidade para todos através de políticas publicas que garantam os direitos humanos e fortaleçam a democracia é fundamental na construção de uma nação livre, igualitária e soberana.

As consequências do racismo são devastadoras. Ele gera traumas, perpetua desigualdades e limita o potencial de toda uma população. Por isso, é fundamental que cada um de nós se engaje nessa luta. Precisamos reconhecer nossos privilégios, combater os estereótipos e construir uma sociedade mais justa e inclusiva para todos. Enquanto perdurar o preconceito, não podemos falar em consciência humana, mas fortalecer a consciência negra independente do percentual de melanina que temos em nossos corpos

Quanto a professora Núbia, agora mais do que nunca, precisa de nossa solidariedade e apoio, a mulher branca que a agrediu verbalmente precisa de educação, empatia e consciência de seus próprios preconceitos. Pois só assim poderemos, juntos, desconstruir as estruturas do racismo e construir um futuro onde a cor da pele não defina o valor de uma pessoa.

Ubuntu!

 Por José Casanova
Professor, Jornalista e Escritor membro da 
Academia Bacabalense de Letras

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Rogério Santos apoia grupos culturais em Bacabal

O ex-vereador Rogério Santos sempre apoiou grupos culturais em Bacabal e região, principalmente no Bairro da Cohab onde o mesmo reside e tem um  ótimo relacionamento com a comunidade. Neste período Carnavalesco, Rogério foi convidado pela comunidade a ser padrinho do Bloco dos Sem?, grupo que já surgiu forte na cidade.

Rogério deu todo apoio para que o bloco fosse ás ruas, acompanhado do seu irmão Carlos Jorge, da família e dos amigos, Rogério mais uma vez consegue se destacar na comunidade, o Bloco dos Sem? já faz planos para se fortalecer no  ano que vem.

A brincadeira entre amigos da Cohab não teve incidentes e colaborou para fortalecer os laços de amizade no bairro Cohab, Rogério Santos agradeceu o apoio dos Deputados Davi Bradão e Roberto Costa para colocar a brincadeira na rua.















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CRÔNICA DO DIA: Memórias de um menino Poeta

 

Quando faço o download dos arquivos das lembranças da minha infância, sou transportado para um mundo de magia e descobertas. Lá dentro, encontro os tesouros que moldaram quem eu sou hoje, memórias preciosas que guardo com carinho.

Lembro-me das tardes que passei brincando no quintal de casa. Quando havia casas e quintais. Hoje as árvores dos quintais são derrubadas para dá lugar a quitinetes de aluguel. Quando o espaço é pouco, constrói-se para cima e chamam de condomínio fechado, espaços onde as pessoas se fecham a fugir de si mesmas.

 Os quintais eram um mundo à parte, onde a imaginação reinava e qualquer objeto podia se transformar em um artefato mágico. Uma simples caixa de papelão se tornava um navio pirata navegando por mares desconhecidos, enquanto um pedaço de pau virava uma espada afiada, pronta para enfrentar perigos imaginários. Jogávamos peteca, soltámos Papagaio (Pipa) sem cerol , o importante  era colorir o céu com a brincadeira, no futebol sonhávamos em ser Pelé, Zico, Garrincha, Dr. Sócrates e praticávamos inocentes roubos no pé de manga rosa na casa do vizinho.

As histórias que inventávamos naquele quintal me ensinaram muito sobre criatividade e trabalho em equipe. Aprendi a valorizar a amizade e a importância de sonhar grande, mesmo que isso significasse enfrentar monstros e dragões em nossas brincadeiras. Éramos tão inocentes que brincávamos de bandido e polícia, mas nunca de políticos. A inocência tinha sabor de liberdade.

Outra lembrança que se destaca é a dos passeios de bicicleta pelas ruas tranquilas do bairro. Nessas pedaladas, aprendi sobre perseverança e dedicação, pois não desistir era a única opção já que minhas pedaladas não davam para acompanhar os colegas de perto.

Meu pai sempre me dizia que a vida é como andar de bicicleta: é preciso manter o equilíbrio e seguir em frente, mesmo quando parece difícil. Essa lição ficou gravada em minha mente e me acompanha até hoje, lembrando-me de nunca desistir diante dos obstáculos que a vida apresenta.

Lembro-me de minha primeira professora;  Maria, dona Conceição Miranda , era assim que eu a chamava com orgulho, não posso esquecer da professora auxiliar Jesus Miranda. No expositor das lembranças também guardo os momentos em que me refugiava nos livros, viajando para mundos distantes e vivendo aventuras inesquecíveis através das palavras. Essas histórias me ensinaram sobre empatia, coragem e a importância de nunca deixar de sonhar, mesmo quando o mundo real parecia sombrio.

Hoje, olho para trás e vejo como essas experiências moldaram quem eu sou. A criança que brincava no quintal se tornou um adulto que valoriza a criatividade e a imaginação, o menino que roubava manga do quintal do vizinho, um adulto que respeita o direito de propriedade.  O garoto que pedalava na bicicleta Monareta  se transformou em alguém que sabe a importância da perseverança e da determinação. E o jovem que se refugiava nos livros se tornou um amante da literatura, sempre em busca de novas histórias para se inspirar, como esta crônica que você está a ler.

Caso meus país fossem vivos, diriam que  o baú  das minhas lembranças está cheio de momentos que moldaram quem eu sou hoje. São lembranças que guardo com carinho e que me lembram todos os dias da magia da infância e do poder transformador das experiências vividas naqueles anos preciosos. Gostaria de viver outra vez, em outra época, em outro corpo, pra terminar a história que comecei...

Por José Casanova
Professor, Jornalista e Escritor membro da
Academia Bacabalense de Letras

 

domingo, 18 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: Primeiro dia de aula em Alto Alegre

 

No pequeno e próspero  município de Alto Alegre do Maranhão, a chegada do novo ano letivo é sempre aguardada com expectativa. O primeiro dia de aula, em especial, é como a abertura de um grande espetáculo, onde cada personagem tem seu papel definido.

Os professores, ansiosos e dedicados, prepararam suas salas de aula com carinho e atenção aos mínimos detalhes. No entanto, nem todos agem assim, há aqueles que já chegam na escola catando os feriados no calendário, ou até mesmo numa total falta de empatia com os colegas, mau bate o horário, já querem saber que faltou para subir os horários para irem embora mais cedo.

Vale lembrar que cartazes coloridos, murais com boas-vindas e material didático impecavelmente organizado demonstravam o zelo da equipe pedagógica em receber os alunos.

Por outro lado, os alunos, em sua maioria, parecem alheios à agitação que toma conta da cidade. Para muitos deles, o retorno às aulas representava não apenas o reencontro com os amigos, mas também o reinício das cobranças e responsabilidades escolares. Para outros é um sacrifício voltar para escolas, estudar para eles é chato e cansativos, por mais que  os professores pensem um projeto de  vida para eles, a família não sabemos se é viva ou morta, a maioria são criados pelos avós, muitas vezes vítimas da violência domestica praticada pelos próprios netos.

Os gestores, por sua vez, buscavam fazer diferente a cada ano, assim age professra Sandra e professor Gidean , diretores da escola  Santa Mônica e professor Renato da escola Mamede Pires e outros gestores escolares ,implementando projetos pedagógicos inovadores e aprimorando a infraestrutura das escolas. As reuniões ,às vezes são intermináveis, os planejamentos minuciosos e as expectativas elevadas são características marcantes desse período.

Enquanto isso, no sindicato dos professore , o pequeno grande homem, professor Mano cobra os direitos trabalhistas e luta por melhores condições de trabalho para  categoria. As reivindicações são constantes e, muitas vezes, conflitantes com as possibilidades financeiras da secretaria de educação.

Por falar em secretaria de educação, a mesma é liderada pelo professor Ribamar Moura , grande mestre desse jogo de xadrez educacional. Conduzindo a política pública de educação com habilidade e estratégia, ela precisa equilibrar as demandas dos professores, dos alunos, dos gestores, do sindicato e da comunidade, garantindo que todas as peças do tabuleiro se movam de forma harmoniosa e produtiva.

Cá estou eu a pensar e observar as  águas turvas do Tapuio,  será  que receberei os precatórios antes de Morrer? Nem Camilo explica... Deixarei de herança para meus filhos...

Portanto, o primeiro dia de aula em Alto Alegre é muito mais do que o início de um novo ano letivo. É o reflexo de um sistema complexo, onde cada peça tem sua importância e seu papel a desempenhar, em busca de um objetivo comum: a construção de um futuro melhor  para cidade, através da educação.

Por José Casanova
Professor, Jornalista e Escritor  membro da
Academia Bacabalense de Letras

 

 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA - URQUIZA: O Mestre do Origami

No coração da Terra da Bacaba, entre o caos dos carros e o burburinho das pessoas, vive Urquiza, um artesão cujas mãos habilidosas transformam simples folhas de papel em obras de arte impressionantes. Parece que há mágica nas mãos de Urquiza. Esse magnetismo oculto em suas mãos o  tornou conhecido como  Mestre do Origami, Urquiza não apenas dobra e molda o papel, mas também conta histórias através de suas criações.

Toda manhã, Urquiza inicia uma verdadeira via sacra visitando pequenas lojas locais em busca do papel perfeito. Cada loja é uma estação que lembra o sofrimento do Cristo no caminho para o calvário. Fazer cultura na Terra da Bacaba é um martírio social. Em sua busca pela matéria prima, ele procura  texturas únicas e cores vibrantes, pois cada papel conta uma história diferente. De volta ao seu modesto estúdio, mergulha em seu mundo de dobras e vincos, transformando o papel em belas formas que ganham vida sob suas mãos habilidosas.

Cada peça de Urquiza tem uma história por trás, uma experiência vivida que ele compartilha através de sua arte.  Em cada peça produzida há as digitais dos  seus dedos leves e enigmáticos Uma águia que representa a liberdade após um período difícil, uma rosa que simboliza o amor eterno, um dragão que retrata a força e a sabedoria. Cada dobra é cuidadosamente planejada, cada peça é única e carregada de significado.

O que pensa o artesão em seu estaze criativo só eles mesmo sabem, mas nem tudo são dobras suaves e perfeitas para o artista do  pepel. Urquiza enfrenta desafios em seu ofício. A busca por papel de qualidade nem sempre é fácil, e a constante inovação para manter viva uma arte tradicional em um mundo moderno é um desafio constante. No entanto, para Urquiza, cada desafio é uma oportunidade de crescimento e aprendizado.

Para Urquiza, o significado por trás de seu trabalho vai além da arte visual. Além da estética do origami, há uma imagem acústica nas suas peças. Cada peça é uma expressão de paciência, perseverança e amor pela arte. É um lembrete da importância de preservar e valorizar as tradições artísticas, que não apenas enriquecem nossas vidas visualmente, mas também nos conectam com nossa história e cultura.

Assim, Urquiza , o Mago do Origami, continua sua trajetória criativa, dobrando histórias e criando arte que transcende o papel e toca os corações daqueles que têm a sorte de contemplar sua obra.

Por José Casanova
Professor, jornalista e escritor membro da 
Academia Bacabalense de Letras

 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: O último Carnaval

 

O planeta terra havia crescido culturalmente, com avanços científicos e a ascensão da inteligência artificial, que  competia com a raça humana, que do ponto de vista ético e moral entrara em declínio sem solução. A guerra tomara conta da história. No Brasil as ruas estavam vazias, os prédios em ruínas, e o céu cinzento parecia pesar sobre os ombros daqueles que ainda resistiam. Em um mundo à beira do colapso, onde cada dia era uma batalha pela sobrevivência, um grupo de pessoas decidiu que era hora de celebrar a vida de uma maneira única e especial: realizar o último carnaval antes do fim do mundo.

Nada unia mais o povo a não ser a cultura, tão desvalorizada pelas autoridades planetárias. Reunido as últimas forças , começaram os  preparativos semanas antes, com os poucos recursos que ainda restavam sendo cuidadosamente guardados e compartilhados entre os sobreviventes. Músicos improvisaram instrumentos com o que tinham à mão, e artesãos trabalharam incansavelmente para criar fantasias coloridas e máscaras elaboradas.

O tempo não representava nada  para as pessoas, o apocalipse paralisou todos os relógios digitais, os  únicos a funcionarem era os jurássicos relógios a corda, que os mais  novos nem sabiam como usar. Quando o dia finalmente chegou, as ruas ganharam vida de uma maneira que há muito não se via. O som dos tambores ganharam as ruas desertas, e as pessoas saíam de suas casas, vestidas com seus trajes festivos, prontas para esquecer, nem que fosse por um momento, as agruras do mundo em decadência.

Dona Maria improvisara uma bandeira verde e rosa, e com   muito zelo e habilidade manual, fizera sua fantasia de porta bandeira, e seu filho com fragmentos de uma bomba improvisou sua roupa de Mestre Sala. Os sorrisos de ambos eram genuínos, as risadas do povo contagiantes. Por um instante, as preocupações do amanhã foram deixadas de lado, e as pessoas se permitiram apenas serem felizes, mesmo que fossem pela última vez.

Enquanto o sol se punha no horizonte, pintando o céu de tons de laranja e rosa, o grupo se reuniu em torno de uma fogueira improvisada. Ali, sob as estrelas, eles dançaram e cantaram, celebrando a vida e a cultura que estavam prestes a desaparecer. A mídia noticiou o fato como folclore, comportamento primitivos de um país chamado Brasil, os robôs com inteligência artificial se divertiam achando tudo aquilo muito engraçado.

E, quando a última chama se apagou e o último tambor parou de ecoar, as pessoas se abraçaram, sabendo que aquele momento seria eternamente guardado em suas memórias. Havia cheiro de gente no que fizeram, o colorido das roupas improvisadas contrastavam com o  cotidiano cinza que criaram para si ao aceitarem serem manipulados por falsos líderes políticos e religiosos.

Ao longe perceberam o brilho de mais um cogumelo gigante de uma bomba atômica. Um  robô passou apressado e disse:

_ Corram humanos, que o tempo é curto e a Sapucaí é grande!

 Os humanos olharam-se apreensivos e, calmamente ,  saíram em retirada , pois mesmo em meio ao caos e à escuridão, o carnaval trouxera luz e esperança, lembrando a todos que, enquanto houver vida, há também possibilidade de alegria e sobrevivência.

 Por José Casanova

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: O mundo é dos espertos!

 

No movimento constante de pessoas que chegam e partem do terminal rodoviário da minha cidade natal, vindas de diferentes lugares ou rumando para destinos diversos, encontramos os agentes das empresas de ônibus. Seu trabalho consiste em atrair passageiros para suas respectivas companhias, enquanto fazem comparações entre a eficiência de sua empresa e a suposta lentidão das concorrentes, chegando até mesmo a comparar seus ônibus a aeronaves.

O frenesi é palpável quando um passageiro desembarca de seu veículo de origem, seja ele um motociclista, um taxista ou o condutor de um veículo de pequeno porte. Conhecendo essa dinâmica, decidi testar os vendedores de passagens em u ma ocasião em que cheguei à rodoviária e fui abordado por um deles.

_ Bom dia meu patrão! – Disse solícito um dos jovens, vestido numa farda surrada da empresa.

Estava, como sempre, acompanhado de outros vendedores de outras empresas é claro. Vivi ali o ritual do voo dos urubus sobre a carniça   do lucro. Para eles o passageiro não passa de uma cifra monetária. 

_ Bom dia meu filho! – Respondi com carinho.

_ O Senhor vai viajar pra onde? Posso lhe ajudar? – Insistiu o rapaz pensando na venda da passagem.

_ Vou tirar minha passagem pra Belém. – Respondi.

Enquanto ele me acompanhava dei a cartada final:

_ Há alguma possibilidade de passagem gratuita para idosos? – perguntei fingindo inocência .

Pronto. Era o que faltava para estragar o dia do vendedor de passagens. Não tenho culpa se tenho sessenta anos e o governo acha que sou idoso. Passagens gratuita pra idosos e pessoas com deficiência é o terror dos agentes de viagem.  Naquele momento os “urubus” que planejavam comer a carniça da terceira idade, saíram todos de perto me deixando a falar sozinho.

Será que foi alguma coisa que eu falei?...  Vida que segue...  E seguiu mesmo, não é que nessa hora chega a famosa Lúcia Correia em sua cadeira de rodas, mulher cadeirante fundadora da associação dos deficientes, estava acompanhada dos filhos Wladimir e Dandara e vinha justamente agendar uma passagem gratuita para pessoa com deficiência e mobilidade reduzida. O teor da conversa dela com os vendedores de passagem deixo a cargo de vocês caros leitores, escrevam o pedaço “indizível’ da crônica.

Testemunhei outro episodio pitoresco na mesma rodoviária. Chegou um cliente e pergunta a uma vendedora qualquer se tinha coxinha. Então a vendedora do box vizinho logo respondeu  que  tinha. Isso garantiu para a mesma a venda da cozinha e um refrigerante . Até aí tudo bem. Como a quantidade de coxinhas estava quase no fim, ela a que foi mais esperta, resolveu colocar mais coxinhas no recipiente, sabe o que aconteceu em seguida?

Um acidente faz com que caíssem no chão pelo menos cinco coxinhas. Esperta, olha para todos os lados e percebe que todos perceberam o incidente e não teve outra opção a não ser jogar as coxinhas no lixo. Veja bem o lucro da venda de uma que ela “espertamente” vendeu foi para lixeira em cinco unidades.

Como diria meu pai: O mundo é dos espertos!... Será?

Por José Casanova
Professor, Jornalista e escritor membro da 
Academia Bacabalense de Letras

P.S.: Esta crônica foi inscrita a  partir e de tema proposto pelo escritor Poeta Triste
 

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: Falas do silêncio

Prefiro não dizer onde começa essa história, que me veio à cabeça como um poema chega pela inspiração ao poeta. Sei que estou numa metrópole, onde os filhos do concreto permeiam nossas rotinas diárias e noturnas, nesta selva de pedras bem projetada ,existe um som muitas vezes negligenciado: o silêncio. Não é aquele silêncio pacífico das madrugadas serenas, mas sim um silêncio carregado de solidão, de desconexão, de desespero.

Em uma rua barulhenta, onde os motores roncam e as multidões se movem em um frenesi constante, há um homem que se destaca não pelo seu alarido, mas pela ausência dele. Ele está lá todos os dias, sentado em seu banco de madeira, com os olhos perdidos no vazio e a alma sobrecarregada de histórias não contadas.

Meu faro de jornalista decidiu desvendar o enigma por trás da figura silenciosa. Seres humanos enigmáticos sempre me renderam histórias interessantes.

 Aproximei-me do homem silencioso, que está sentava em seu banco de madeira, olhando para o horizonte. Seus olhos refletiam as cores do vazio, e expressavam a aquarela do silêncio.

_Com licença, posso me sentar ao seu lado? – Perguntei ao homem, já ligando meu smartfone na intenção de gravar nossa conversa.

O Homem acenou levemente com a cabeça em consentimento.

_ Obrigado. Meu nome é Marcos, sou jornalista. Eu tenho notado você aqui todos os dias. Você se importaria de me contar um pouco sobre você?

Ele Olha-me atentamente  por um momento, avaliando-me  silenciosamente, como se desvendasse todos meus segredos e falou:

_ Eu costumava ser um poeta.

_Um poeta? Que interessante! Suas palavras chamavam atenção das pessoas, conseguia tocar muitos corações com suas poesias, não é?

_ Sim, elas costumavam. Mas isso foi há muito tempo.

_ O que aconteceu? Por que parou de escrever? – quis saber curioso

O Homem Suspira profundamente. Olha nos meus olhos e volta a olhar para o vazio.

_ Um dia, as palavras simplesmente desapareceram. Não consegui mais encontrá-las, não consegui mais pronunciá-las. – Disse o homem vestido numa camisa onde se via a imagem estampada de Fernando Pessoa.

_Isso deve ter sido difícil. Como você lida com isso agora?  - Insistir.

_Eu aprendi a encontrar paz no silêncio. Nas entrelinhas das coisas não ditas. Nos efeitos de sentidos da vida, nos pedaço indizíveis  dos poemas. – Respondeu o homem.

Agora utilizava a linguagem de um crítico literários, dava pra ver que o homem silencioso deveria ter conhecimento profundo do universo da literatura. Refletir um pouco  falei:

_ O silêncio se tornou sua voz, então?

_Talvez.  – Respondeu secamente. _O que você quer saber realmente, às vezes, é mais fácil ser ouvido quando você não está falando.

Assenti com a cabeça. Há momentos na vida que o melhor a fazer é concordar.

_Você acredita que o silêncio tem algo a nos ensinar? – Voltei a perguntar.

_ Sim, tenho certeza absoluta. O silêncio fala em volumes altos, se você estiver disposto a ouvir. – afirmou o homem.

_ Obrigado por compartilhar sua história comigo. Posso escrever sobre isso? – Perguntei num sorriso.

_ Você acha mesmo que alguém vai se interessar por isso? Não há palavras necessárias para o silêncio. Se elas puderem ajudar alguém a entender, então escreva.

Levantei do banco, agradecendo ao homem, e comecei a fazer minhas primeiras anotações  que dariam origem a essa crônica.

_Adeus, e obrigado mais uma vez.

_ Adeus, amigo. Que suas palavras encontrem o coração daqueles que precisam ouvir.- Ironizou o homem.

Sair o deixando novamente imóvel em seu silêncio contemplativo.Parte superior do formulário Descobri que aquele homem era um poeta renomado, cujas palavras costumavam tocar os corações de muitos. No entanto, em um fatídico dia, em meio ao tumulto da cidade, ele perdera a capacidade de falar. Literalmente vitima de uma depressão grave, que afetou drasticamente sua energia e motivação, levando-o à diminuição da fala e da capacidade de escrever.

Quero com essa crônica revelar como o silêncio desse homem se transformou em uma metáfora para a maneira como tantos de nós existem, aprisionados no estrondo ensurdecedor da vida moderna, incapazes de expressar verdadeiramente nossos sentimentos e emoções.

Como homem das letras, compreendo que o silêncio daquele homem não era um anátema, mas sim uma oportunidade para os outros ouvirem suas próprias vozes interiores, para se reconectarem com a essência da vida frequentemente abafada pelo tumulto ao nosso redor.

Assim, a crônica encerra-se com uma reflexão sobre a importância de encontrar momentos de silêncio em meio ao caos, de escutar as vozes que ecoam dentro de nós e de nos reconectarmos com o que verdadeiramente importa na vida. E, quem sabe, talvez descobrir a beleza no silêncio que grita, fala e sussurra.

Por José Casanova

 

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: Não, é Não!!!!!



Em uma tarde quente de sexta-feira de carnaval, as ruas pulsavam com a energia típica da cidade grande em período carnavalesco. Entre o vaivém de pessoas, carros e sons urbanos, havia uma conversa que vinha de uma esquina próxima, uma conversa que despertava a atenção de todos que passavam por ali.

_Não é não!!! -  Dizia uma jovem com firmeza, seus olhos transmitindo uma determinação inabalável.

O rapaz que ouvira o Não, olhou perplexo para as pessoas que presenciavam a cena. Nunca se sentiu tão constrangido. Sua masculinidade foi parar na lata do lixo. Perdeu a fantasia viril para brincar o carnaval.

Essas três palavras aparentemente simples carregam consigo um peso imenso, uma mensagem que transcende o momento e mergulhava  profundamente na alma de todos os presentes. Ela estava rejeitando um avanço indesejado de um rapaz que insistia em suas investidas, e seu "não" era mais do que uma simples negação; era um manifesto contra a cultura de violência e desrespeito que muitas vezes assola as mulheres em nossa sociedade.

Não era mulher de muitos nãos, mas sentiu-se incomodada, invadida , assediada pelas as investidas do rapaz. O que poderia ser uma prazerosa paixão de carnaval, tornou-se quase um caso de polícia.

A cena me fez refletir sobre a importância crucial de promover a conscientização e a prevenção da violência contra a mulher. Afinal, a violência não começa no momento em que um golpe é desferido; ela começa muito antes, nas sutilezas do dia a dia, nas palavras e atitudes que desvalorizam e desrespeitam a dignidade das mulheres.

Em nossa busca por uma sociedade mais justa e igualitária, é fundamental reconhecer e combater os comportamentos que perpetuam a cultura do machismo e da violência. Precisamos educar nossos filhos e filhas desde cedo, ensinando-lhes o valor do respeito mútuo, da empatia e do consentimento.

"Não é não" deve ser mais do que uma frase; deve ser um princípio orientador de nossas interações e relacionamentos. Como  disse o poeta da música popular “uma mulher não quer uma cantada, prefere o setimento”. Devemos aprender a ouvir e respeitar os limites das mulheres, reconhecendo que seu corpo e sua autonomia pertencem somente a elas mesmas.

À medida que a tarde avançava e os blocos carnavalesco eram pra fantasia; a conversa na esquina se dissipava, então me vi inspirado pela coragem e determinação daquela jovem. Resolvi escrever essa crônica na certeza que poderei de alguma forma ajudar outras mulheres.  Aquela jovem não apenas defendeu seu próprio direito à autodeterminação, mas também plantou uma semente de mudança na consciência de todos os que testemunharam seu ato de resistência.

Que possamos todos nos unir nessa luta contra a violência e o desrespeito às mulheres, comprometendo-nos a criar um mundo onde o "não" de uma mulher seja sempre respeitado, onde sua segurança e dignidade sejam garantidas, e onde todos possam viver livres do medo e da opressão. Porque, afinal, não é não, e nunca deveria ser de outra forma.

Por José Casanova
Professor, Jornalista e Escritor Membro da
Academia Bacabelense de Letras

 

 

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA - Jumento: o herói anônimo

Na vastidão da zona rural de algum recanto do Maranhão, onde o tempo parece escorrer em compasso lento, há um personagem que atravessa os caminhos poeirentos carregando o peso da história e da indiferença humana.

Já sabes de quem falo? Ainda não? Tudo bem!

Ele é o jumento, um herói anônimo relegado ao esquecimento pelos caprichos da modernidade e pela crueldade dos homens.

Com seu passo balançante e carregando consigo a carga pesada de cocos babaçu, acondicionados em cestos de jacá, ele é expulso pelo seu suposto dono, como se sua presença fosse apenas um incômodo a ser descartado. Outros jumentos seguem, cada um com sua carga peculiar, seja ela palhas de coco ou outros afazeres agrícolas, transportados em cambitos improvisados. São cenas corriqueiras, mas profundamente simbólicas, de um animal que foi cantado por Luiz Gonzaga como "nosso irmão".

Agora já sabes quem é nosso herói do sertão.

Desde tempos imemoriais, o jumento tem sido companheiro humano, suportando nas suas costas as vicissitudes da jornada pela sobrevivência. Foi nas suas costas que o Menino Jesus, fugindo da perseguição do governador, encontrou refúgio ao lado de sua mãe. Foi ele que ajudou a mitigar a sede do sertão, carregando toneladas de terra para a construção de açudes. Segundo a tradição cantada pelo Rei do Baião, todos os jumentos possuem uma cruz em sua pelagem, marcada pelo momento em que o Menino Deus, em sua inocência divina, fez um pequeno xixi.

O  homem é mau. Depois de tanto usar se livra dele como se descarta o que não presta. Os tempos mudaram, e o reconhecimento se transformou em desdém. Os jumentos, outrora heróis anônimos das estradas, agora são relegados à margem da sociedade, esquecidos e abandonados à própria sorte. São vistos como obstáculos a serem evitados nas estradas asfaltadas e de piçarras, frequentemente atropelados impiedosamente, enquanto a culpa recai injustamente sobre eles.

O homem, em sua crueldade e indiferença, deixou de reconhecer a nobreza e a importância do jumento. Após tantos anos de serviço fiel, são descartados como objetos descartáveis, vendidos para a indústria de cosméticos, onde sua pele é transformada em matéria-prima para produtos de beleza.

E assim, lentamente, o jumento, esse companheiro silencioso e leal, desaparece da paisagem rural, relegado ao esquecimento e à extinção. Num futuro não muito distante, nossos filhos e netos só poderão conhecê-los através de fotografias e relatos nostálgicos. É a triste sina do "nosso irmão", o jumento, um herói anônimo que se tornou vítima da ingratidão humana.

 p.s: Esra crônica foir escrita a partir de tema sugerido pelo escritor Poeta Triste.

Por José Casanova
Professor Jornalista e escritor membro da
Academia Bacabalense de Letras

 

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: O Museu das Lembranças Esquecidas

 

No coração de uma cidade anônima, entre becos ocultos e vielas esquecidas, erguia-se um edifício peculiar que escapa à atenção do olhar desatento. Não havia grandes placas indicativas nem sinalizações vibrantes; apenas um portão modesto, quase imperceptível, guardava a entrada para um lugar extraordinário: o Museu das Lembranças Esquecidas. Pensei em encontrar ali lembranças do meu passado apagadas pelo tempo.

Quando me veio a ideia de escrever esta crônica, pensei no poeta Cazuza e seu museu de grades novidades.  Em sua clássica letra ele afirmava ver “ o futuro repetir o passado”, o tempo deixa marcas que só ele mesmo nos faz esquecer.

Ao cruzar o limiar desse museu singular, os visitantes não eram recepcionados por obras de arte ou artefatos históricos, mas sim por uma atmosfera de silêncio e contemplação. O prédio parecia nos penetrar com seus olhos, cheirar nossa alma, ouvir nossos  batimentos cardíacos, sentir o gosto dos nossos medos, e deixar em nós as marcas de suas digitais.

 O ar carregava consigo o peso das memórias depositadas pelos que ansiavam esquecer. Cada corredor, cada sala, revelava histórias e sentimentos que alguém desejava apagar do registro do tempo.

O tempo, o próprio, a segurar sua ampulheta que nunca para de contar o tempo, era o curador desse museu, criado pela imaginação fértil de um poeta. Caso o  tempo fosse algo ou alguém palpável, o trataria com um deus e oferecia minha vida como oferenda materializada nas memórias que não quero esquecer.

As paredes do museu eram testemunhas mudas de dramas pessoais, onde a dualidade entre o desejo de esquecer e a inevitabilidade das memórias se manifestava. Uma sala, por exemplo, exibia caixas de cristal contendo fragmentos de paixões que se desvaneceram com o tempo. Fotografias, cartas antigas e pequenos objetos revelavam histórias de amores perdidos, mas nunca totalmente esquecidos. O Museu contava a história de mim mesmo numa terapia no mínimo exótica, como é a minha vida.

No andar superior, um corredor sombrio abrigava compartimentos trancados que guardavam segredos inconfessáveis. Cada fechadura escondia eventos traumáticos que alguém esperava libertar da própria mente. Contudo, mesmo no Museu das Lembranças Esquecidas, essas lembranças persistiam como fantasmas sutis, sussurrando verdades indomáveis.

Cada visitante vivenciava em sua mente a tortura de suas próprias lembranças. Cada um de acordo  com suas ações na vida. Eu que busquei em vão a felicidade, para minha surpresa, encontrei ali uma das alas mais intrigante, dedicada aos momentos de felicidade que, por razões obscuras, alguém escolhera esquecer. Quadros coloridos e objetos festivos preenchiam o ambiente, revelando que nem todas as memórias depositadas eram sombrias. A dualidade se manifestava novamente, sugerindo que o esquecimento, por vezes, implicava sacrifícios dolorosos.

À medida que eu e outros os visitantes percorríamos os corredores do museu, nos víamos  imersos em uma reflexão profunda sobre a natureza da memória. Onde reside a fronteira entre lembrar e esquecer? Seria possível realmente apagar o passado, ou estaríamos fadados a conviver com suas lembranças?

Ao sair do Museu das Lembranças Esquecidas, os visitantes carregavam consigo não apenas a imagem de um lugar singular, mas também a compreensão de que as memórias, por mais que tentemos esquecer, mostram quem somos. E assim, entre a vontade de esquecer e a inevitabilidade das memórias, a complexidade da experiência humana se desdobrava, revelando-se como um intrincado quebra-cabeça que só o tempo poderia decifrar.

Tempo... Tempo... Tempo... Sobre o que mesmo é esta crônica? Tenho andado muito esquecido ultimamente...

Por José Casanova
Professor, Jornalista e escritor da
Academia Bacabalense de Letras

 imagem: Internet

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: Entre Cliques e Corações

Estamos a viver em um mundo onde as relações humanas são escritas por linhas digitais, um emaranhado complexo de cliques e corações. Nessa era tecnológica, onde a conexão é medida em megabytes e as palavras são substituídas por emojis, as relações humanas florescem em meio aos algoritmos. A tecnologia que devia diminuir distâncias, nos afastas mesmo estando tão próximos uns dos outros

No epicentro desse fenômeno, encontramos Alice, sim, aquela “Alice no país das maravilhas”, agora já crescida; revela-se uma alma inquieta navegando nas águas tumultuadas da rede. Como qualquer adolescente, seus dias são preenchidos por amizades digitais, aquelas que se manifestam em forma de solicitações de amizade e curtidas. No entanto, por trás da tela brilhante, ela sente um não sei o “quê” de desconexão.

Num mundo onde a comunicação é instantânea, as nuances do contato humano muitas vezes se perdem. A arte de olhar nos olhos e interpretar as entrelinhas parece estar em extinção. Alice continua a correr contra o temo feito o coelho Lewis Carroll. Os relacionamentos, agora, são regidos por algoritmos, verdadeiros magos da previsão de  nossas preferências, mas raramente capturam a complexidade das emoções humanas.

Em meio a essa paisagem digital, Alice se ver mais uma vez perdida em uma encruzilhada. Ela se pergunta se suas conexões virtuais são genuínas ou apenas projeções cuidadosamente editadas da realidade. As conversas reduzidas a caracteres e as emoções expressas em emojis criam uma barreira sutil entre ela e aqueles que considera amigos. O Complexo torna-se simples e o simples perde-se no labirinto do complexo.

Contudo, em meio a esse desafio digital, Alice descobre um oásis de autenticidade. Quando menos esperava,  em uma noite chuvosa, um telefonema inesperado de um amigo distante revelou a magia da verdadeira conexão. As palavras reais, sem filtros, fluíam como música, e as risadas ressoavam mais alto do que qualquer emoji poderia expressar.

Essa experiência trouxe a Alice uma clareza reconfortante. Enquanto a tecnologia abria portas para novas formas de comunicação, a essência da conexão humana ainda residia na simplicidade de ouvir e ser ouvido. Como ser humano, sentia necessidade de ser humana. Porque as coisas mais simples do mundo, de repente se tornam tão complexas?

Na era digital, onde as amizades são quantificadas por seguidores e a intimidade é medida em pixels, é crucial lembrar que, por trás de cada tela, há um coração pulsante em busca de conexão genuína. Afinal, em um mundo de cliques e corações, as relações humanas continuam a desafiar os limites dos algoritmos, perseverando na busca eterna pela autenticidade.

Por José Casanova
Professor, Jornalista e Escritor da 
Academia Bacabalense de Letras