Prefiro não
dizer onde começa essa história, que me veio à cabeça como um poema chega pela
inspiração ao poeta. Sei que estou numa metrópole, onde os filhos do concreto
permeiam nossas rotinas diárias e noturnas, nesta selva de pedras bem projetada
,existe um som muitas vezes negligenciado: o silêncio. Não é aquele silêncio
pacífico das madrugadas serenas, mas sim um silêncio carregado de solidão, de
desconexão, de desespero.
Em uma rua
barulhenta, onde os motores roncam e as multidões se movem em um frenesi
constante, há um homem que se destaca não pelo seu alarido, mas pela ausência
dele. Ele está lá todos os dias, sentado em seu banco de madeira, com os olhos
perdidos no vazio e a alma sobrecarregada de histórias não contadas.
Meu faro de jornalista
decidiu desvendar o enigma por trás da figura silenciosa. Seres humanos
enigmáticos sempre me renderam histórias interessantes.
Aproximei-me do homem silencioso, que está
sentava em seu banco de madeira, olhando para o horizonte. Seus olhos refletiam
as cores do vazio, e expressavam a aquarela do silêncio.
_Com
licença, posso me sentar ao seu lado? – Perguntei ao homem, já ligando meu smartfone
na intenção de gravar nossa conversa.
O Homem acenou
levemente com a cabeça em consentimento.
_ Obrigado.
Meu nome é Marcos, sou jornalista. Eu tenho notado você aqui todos os dias.
Você se importaria de me contar um pouco sobre você?
Ele Olha-me
atentamente por um momento, avaliando-me
silenciosamente, como se desvendasse
todos meus segredos e falou:
_ Eu
costumava ser um poeta.
_Um poeta?
Que interessante! Suas palavras chamavam atenção das pessoas, conseguia tocar
muitos corações com suas poesias, não é?
_ Sim, elas
costumavam. Mas isso foi há muito tempo.
_ O que
aconteceu? Por que parou de escrever? – quis saber curioso
O Homem Suspira
profundamente. Olha nos meus olhos e volta a olhar para o vazio.
_ Um dia, as
palavras simplesmente desapareceram. Não consegui mais encontrá-las, não
consegui mais pronunciá-las. – Disse o homem vestido numa camisa onde se via a
imagem estampada de Fernando Pessoa.
_Isso deve
ter sido difícil. Como você lida com isso agora? - Insistir.
_Eu aprendi
a encontrar paz no silêncio. Nas entrelinhas das coisas não ditas. Nos efeitos
de sentidos da vida, nos pedaço indizíveis
dos poemas. – Respondeu o homem.
Agora
utilizava a linguagem de um crítico literários, dava pra ver que o homem
silencioso deveria ter conhecimento profundo do universo da literatura.
Refletir um pouco falei:
_ O silêncio
se tornou sua voz, então?
_Talvez. – Respondeu secamente. _O que você quer saber
realmente, às vezes, é mais fácil ser ouvido quando você não está falando.
Assenti com
a cabeça. Há momentos na vida que o melhor a fazer é concordar.
_Você
acredita que o silêncio tem algo a nos ensinar? – Voltei a perguntar.
_ Sim, tenho
certeza absoluta. O silêncio fala em volumes altos, se você estiver disposto a
ouvir. – afirmou o homem.
_ Obrigado
por compartilhar sua história comigo. Posso escrever sobre isso? – Perguntei
num sorriso.
_ Você acha
mesmo que alguém vai se interessar por isso? Não há palavras necessárias para o
silêncio. Se elas puderem ajudar alguém a entender, então escreva.
Levantei do
banco, agradecendo ao homem, e comecei a fazer minhas primeiras anotações que dariam origem a essa crônica.
_Adeus, e
obrigado mais uma vez.
_ Adeus,
amigo. Que suas palavras encontrem o coração daqueles que precisam ouvir.-
Ironizou o homem.
Sair o
deixando novamente imóvel em seu silêncio contemplativo.Parte superior do formulário Descobri que aquele
homem era um poeta renomado, cujas palavras costumavam tocar os corações de
muitos. No entanto, em um fatídico dia, em meio ao tumulto da cidade, ele perdera
a capacidade de falar. Literalmente vitima de uma depressão grave, que afetou drasticamente sua energia e motivação,
levando-o à diminuição da fala e da capacidade de escrever.
Quero com
essa crônica revelar como o silêncio desse homem se transformou em uma metáfora
para a maneira como tantos de nós existem, aprisionados no estrondo
ensurdecedor da vida moderna, incapazes de expressar verdadeiramente nossos
sentimentos e emoções.
Como homem
das letras, compreendo que o silêncio daquele homem não era um anátema, mas sim
uma oportunidade para os outros ouvirem suas próprias vozes interiores, para se
reconectarem com a essência da vida frequentemente abafada pelo tumulto ao
nosso redor.
Assim, a
crônica encerra-se com uma reflexão sobre a importância de encontrar momentos
de silêncio em meio ao caos, de escutar as vozes que ecoam dentro de nós e de
nos reconectarmos com o que verdadeiramente importa na vida. E, quem sabe,
talvez descobrir a beleza no silêncio que grita, fala e sussurra.
Por José Casanova