Na vastidão da zona rural de algum recanto do Maranhão, onde o tempo parece escorrer em compasso lento, há um personagem que atravessa os caminhos poeirentos carregando o peso da história e da indiferença humana.
Já sabes de
quem falo? Ainda não? Tudo bem!
Ele é o
jumento, um herói anônimo relegado ao esquecimento pelos caprichos da
modernidade e pela crueldade dos homens.
Com seu
passo balançante e carregando consigo a carga pesada de cocos babaçu,
acondicionados em cestos de jacá, ele é expulso pelo seu suposto dono, como se
sua presença fosse apenas um incômodo a ser descartado. Outros jumentos seguem,
cada um com sua carga peculiar, seja ela palhas de coco ou outros afazeres
agrícolas, transportados em cambitos improvisados. São cenas corriqueiras, mas profundamente
simbólicas, de um animal que foi cantado por Luiz Gonzaga como "nosso
irmão".
Agora já
sabes quem é nosso herói do sertão.
Desde tempos
imemoriais, o jumento tem sido companheiro humano, suportando nas suas costas
as vicissitudes da jornada pela sobrevivência. Foi nas suas costas que o Menino
Jesus, fugindo da perseguição do governador, encontrou refúgio ao lado de sua
mãe. Foi ele que ajudou a mitigar a sede do sertão, carregando toneladas de
terra para a construção de açudes. Segundo a tradição cantada pelo Rei do Baião,
todos os jumentos possuem uma cruz em sua pelagem, marcada pelo momento em que
o Menino Deus, em sua inocência divina, fez um pequeno xixi.
O homem é mau. Depois de tanto usar se livra
dele como se descarta o que não presta. Os tempos mudaram, e o reconhecimento
se transformou em desdém. Os jumentos, outrora heróis anônimos das estradas,
agora são relegados à margem da sociedade, esquecidos e abandonados à própria
sorte. São vistos como obstáculos a serem evitados nas estradas asfaltadas e de
piçarras, frequentemente atropelados impiedosamente, enquanto a culpa recai
injustamente sobre eles.
O homem, em
sua crueldade e indiferença, deixou de reconhecer a nobreza e a importância do
jumento. Após tantos anos de serviço fiel, são descartados como objetos
descartáveis, vendidos para a indústria de cosméticos, onde sua pele é
transformada em matéria-prima para produtos de beleza.
E assim,
lentamente, o jumento, esse companheiro silencioso e leal, desaparece da
paisagem rural, relegado ao esquecimento e à extinção. Num futuro não muito
distante, nossos filhos e netos só poderão conhecê-los através de fotografias e
relatos nostálgicos. É a triste sina do "nosso irmão", o jumento, um
herói anônimo que se tornou vítima da ingratidão humana.
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