Quando faço o download dos arquivos das lembranças da minha
infância, sou transportado para um mundo de magia e descobertas. Lá dentro,
encontro os tesouros que moldaram quem eu sou hoje, memórias preciosas que
guardo com carinho.
Lembro-me das tardes que passei brincando no quintal de casa.
Quando havia casas e quintais. Hoje as árvores dos quintais são derrubadas para
dá lugar a quitinetes de aluguel. Quando o espaço é pouco, constrói-se para
cima e chamam de condomínio fechado, espaços onde as pessoas se fecham a fugir
de si mesmas.
Os quintais eram um
mundo à parte, onde a imaginação reinava e qualquer objeto podia se transformar
em um artefato mágico. Uma simples caixa de papelão se tornava um navio pirata
navegando por mares desconhecidos, enquanto um pedaço de pau virava uma espada
afiada, pronta para enfrentar perigos imaginários. Jogávamos peteca, soltámos
Papagaio (Pipa) sem cerol , o importante
era colorir o céu com a brincadeira, no futebol sonhávamos em ser Pelé,
Zico, Garrincha, Dr. Sócrates e praticávamos inocentes roubos no pé de manga
rosa na casa do vizinho.
As histórias que inventávamos naquele quintal me ensinaram
muito sobre criatividade e trabalho em equipe. Aprendi a valorizar a amizade e
a importância de sonhar grande, mesmo que isso significasse enfrentar monstros
e dragões em nossas brincadeiras. Éramos tão inocentes que brincávamos de
bandido e polícia, mas nunca de políticos. A inocência tinha sabor de
liberdade.
Outra lembrança que se destaca é a dos passeios de bicicleta
pelas ruas tranquilas do bairro. Nessas pedaladas, aprendi sobre perseverança e
dedicação, pois não desistir era a única opção já que minhas pedaladas não
davam para acompanhar os colegas de perto.
Meu pai sempre me dizia que a vida é como andar de bicicleta:
é preciso manter o equilíbrio e seguir em frente, mesmo quando parece difícil.
Essa lição ficou gravada em minha mente e me acompanha até hoje, lembrando-me
de nunca desistir diante dos obstáculos que a vida apresenta.
Lembro-me de minha primeira professora; Maria, dona Conceição Miranda , era assim que
eu a chamava com orgulho, não posso esquecer da professora auxiliar Jesus
Miranda. No expositor das lembranças também guardo os momentos em que me
refugiava nos livros, viajando para mundos distantes e vivendo aventuras
inesquecíveis através das palavras. Essas histórias me ensinaram sobre empatia,
coragem e a importância de nunca deixar de sonhar, mesmo quando o mundo real
parecia sombrio.
Hoje, olho para trás e vejo como essas experiências moldaram
quem eu sou. A criança que brincava no quintal se tornou um adulto que valoriza
a criatividade e a imaginação, o menino que roubava manga do quintal do
vizinho, um adulto que respeita o direito de propriedade. O garoto que pedalava na bicicleta
Monareta se transformou em alguém que
sabe a importância da perseverança e da determinação. E o jovem que se
refugiava nos livros se tornou um amante da literatura, sempre em busca de
novas histórias para se inspirar, como esta crônica que você está a ler.
Caso meus país fossem vivos, diriam que o baú das minhas lembranças está cheio de momentos
que moldaram quem eu sou hoje. São lembranças que guardo com carinho e que me
lembram todos os dias da magia da infância e do poder transformador das
experiências vividas naqueles anos preciosos. Gostaria de viver outra vez, em
outra época, em outro corpo, pra terminar a história que comecei...
Professor, Jornalista e Escritor membro da
Academia Bacabalense de Letras
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