segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: Memórias de um menino Poeta

 

Quando faço o download dos arquivos das lembranças da minha infância, sou transportado para um mundo de magia e descobertas. Lá dentro, encontro os tesouros que moldaram quem eu sou hoje, memórias preciosas que guardo com carinho.

Lembro-me das tardes que passei brincando no quintal de casa. Quando havia casas e quintais. Hoje as árvores dos quintais são derrubadas para dá lugar a quitinetes de aluguel. Quando o espaço é pouco, constrói-se para cima e chamam de condomínio fechado, espaços onde as pessoas se fecham a fugir de si mesmas.

 Os quintais eram um mundo à parte, onde a imaginação reinava e qualquer objeto podia se transformar em um artefato mágico. Uma simples caixa de papelão se tornava um navio pirata navegando por mares desconhecidos, enquanto um pedaço de pau virava uma espada afiada, pronta para enfrentar perigos imaginários. Jogávamos peteca, soltámos Papagaio (Pipa) sem cerol , o importante  era colorir o céu com a brincadeira, no futebol sonhávamos em ser Pelé, Zico, Garrincha, Dr. Sócrates e praticávamos inocentes roubos no pé de manga rosa na casa do vizinho.

As histórias que inventávamos naquele quintal me ensinaram muito sobre criatividade e trabalho em equipe. Aprendi a valorizar a amizade e a importância de sonhar grande, mesmo que isso significasse enfrentar monstros e dragões em nossas brincadeiras. Éramos tão inocentes que brincávamos de bandido e polícia, mas nunca de políticos. A inocência tinha sabor de liberdade.

Outra lembrança que se destaca é a dos passeios de bicicleta pelas ruas tranquilas do bairro. Nessas pedaladas, aprendi sobre perseverança e dedicação, pois não desistir era a única opção já que minhas pedaladas não davam para acompanhar os colegas de perto.

Meu pai sempre me dizia que a vida é como andar de bicicleta: é preciso manter o equilíbrio e seguir em frente, mesmo quando parece difícil. Essa lição ficou gravada em minha mente e me acompanha até hoje, lembrando-me de nunca desistir diante dos obstáculos que a vida apresenta.

Lembro-me de minha primeira professora;  Maria, dona Conceição Miranda , era assim que eu a chamava com orgulho, não posso esquecer da professora auxiliar Jesus Miranda. No expositor das lembranças também guardo os momentos em que me refugiava nos livros, viajando para mundos distantes e vivendo aventuras inesquecíveis através das palavras. Essas histórias me ensinaram sobre empatia, coragem e a importância de nunca deixar de sonhar, mesmo quando o mundo real parecia sombrio.

Hoje, olho para trás e vejo como essas experiências moldaram quem eu sou. A criança que brincava no quintal se tornou um adulto que valoriza a criatividade e a imaginação, o menino que roubava manga do quintal do vizinho, um adulto que respeita o direito de propriedade.  O garoto que pedalava na bicicleta Monareta  se transformou em alguém que sabe a importância da perseverança e da determinação. E o jovem que se refugiava nos livros se tornou um amante da literatura, sempre em busca de novas histórias para se inspirar, como esta crônica que você está a ler.

Caso meus país fossem vivos, diriam que  o baú  das minhas lembranças está cheio de momentos que moldaram quem eu sou hoje. São lembranças que guardo com carinho e que me lembram todos os dias da magia da infância e do poder transformador das experiências vividas naqueles anos preciosos. Gostaria de viver outra vez, em outra época, em outro corpo, pra terminar a história que comecei...

Por José Casanova
Professor, Jornalista e Escritor membro da
Academia Bacabalense de Letras

 

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