POR BRUNO ASTUTO
Depois de registrar no livro ‘Olhar de João’ seus 35 anos de carreira como fotógrafo, o príncipe D. João de Orleans e Bragança escolheu Paraty para inaugurar, quinta-feira, uma exposição com 30 imagens selecionadas entre as 140 que compõem a obra, publicada pela Meta no fim do ano passado. A mostra acontece na Galeria Zoom e dá uma ideia dos caminhos já percorridos pelo membro mais popular da família imperial brasileira.
O cenário, de fato, não poderia ser outro: além da intimidade que mantém com o casario e as calçadas pé-de-moleque, D. João é um embaixador informal da cidade durante a Festa Literária de Paraty, que também começa na quinta-feira. “Os autores lá fora disputam um espaço na Flip, que já se tornou mais importante economicamente para a cidade do que o Carnaval e o Ano Novo”, diz. É no Centro Histórico que ele mantém seu escritório imobiliário, onde bate ponto de segunda à sexta e onde conversou com PG3.
Foto: Giancarlo Mecarelli
Na maior simplicidade, D. Joãozinho abre, a cada ano, os jardins de sua casa para o mais concorrido evento off-Flip, o almoço dos escritores — este ano, a programação traz Fernando Henrique Cardoso, Peter Burke, Robert Cramb, Moacyr Scliar, Ferreira Gullar e outros. A presença no encontro é quase obrigatória, to-do mundo vai.
Isabel Allende é a figura mais esperada, mas o príncipe não está ansioso pela confirmação da presença da escritora chilena em sua casa. “O almoço étradição desde a primeira Flip, há seis anos, todos vêm, ela deve vir, afinal, é tudo pertinho, dá para chegar a pé”.
BRASIL PROFUNDO – “Selecionamos fotos que dão uma ideia bem ampla desses 35 anos percorrendo o Brasil. Não são fotos de viagem. O Brasil inteiro é minha casa. Tem os índios ianomâmi, comunidades quilombolas, tem o Rio, a Bahia, um trabalho em Vigário Geral com o AfroReggae. O que sempre me atraiu para fotografar foi o conhecimento sobre esses lugares. Minha paixão continua sendo o aprendizado sobre os costumes, o convívio com as pessoas humildes, mas cheias de dignidade. A estética da imagem vem depois disso”.
NO FOCO – “A relação com o fotografado é uma coisa que fica. Vou dar um exemplo. Depois de 32 anos que estive lá, pedi a uma amiga, que estava de viagem marcada para o Xingu, para levar uma foto minha com um índio, filho de um cacique, que fiz na época. Queria que ela desse a foto para ele de presente, que encontrasse esse homem de qualquer maneira. Vou ter de esperá-la voltar para saber se o achou”.
PRÓXIMA SÉRIE: “Não tenho nada planejado, mas isso surge de uma hora para a outra. No ano passado, fui convidado pelo governo de Alagoas para refazer o caminho que D. Pedro II percorreu ao subir o Rio São Francisco. A viagem foi interessantíssima, mas imagina, 220 km de barco? Surgiram algumas imagens maravilhosas daí”.
NOBREZA. “O que costumo dizer é que meu orgulho não é o meu nome, mas a história da minha família. A unidade nacional veio com a Independência, o Brasil teria se dividido em vários países, como aconteceu na América Latina. E o País é esta potência graças à minha família, pessoas que dedicaram a vida ao País, sem a Polícia Federal na porta procurando indícios de corrupção como se vê com os políticos há décadas”.
PODER: “O Brasil já tem uma democracia solidificada, mas estou apreensivo sobre setores do governo atual que querem cercear liberdades, a liberdade de expressão, de imprensa, é algo sagrado poder se dizer o que pensa. E por acaso são aqueles que mais lutaram contra a ditadura que estão lá, cerceando. Sou apartidário, não posso nem falar de partido político, falo sobre cidadania”.
PARATY. “Diferentemente de alguns lugares que cresceram muito, Paraty não expulsou seus moradores antigos para fora do centro histórico. Meu pai veio para esta cidade há 50 anos, conheço essas ruas desde criança. Não estou mais com a pousada, agora ela está arrendada, mas meus negócios são todos aqui, é em Paraty que eu trabalho, tenho o escritório da minha imobiliária. Ao contrário das outras pessoas, eu passo a semana aqui e os fins de semana no Rio”.
FLIP. “Hoje o período da festa literária é altíssima estação em Paraty. Para o turismo, em termos de ocupação e economia, é período melhor que o Carnaval e o Réveillon. O mais interessante nesta época é que as pessoas de fora se misturam com os locais, tem gente que vem mesmo sem ingresso para nada. Eu vou a pelo menos a duas ou três mesas por dia”.
OFF FLIP. “O almoço já é tradição, sempre na quinta-feira da abertura. Vai faltar apenas o Lou Reed. Todos os autores comparecem ao almoço. A Isabel Allende, estando em Paraty já na quinta, também deve vir. O cardápio é sempre de comidas tipicamente brasileiras, serviço para 120 pessoas, pelo menos. Os escritores vão chegando, aqui é tudo pertinho, a gente faz tudo a pé. Tanto que no mesmo dia abro a exposição e lanço meu livro, ‘Olhar de João’. Depois, sábado que vem, é o dia em que abro os jardins da minha casa para os poetas, um sarau com o pessoal do Corujão da Poesia. Os jovens precisam de espaço, aqui qualquer um pode chegar”.
fonte: O Dia
Depois de registrar no livro ‘Olhar de João’ seus 35 anos de carreira como fotógrafo, o príncipe D. João de Orleans e Bragança escolheu Paraty para inaugurar, quinta-feira, uma exposição com 30 imagens selecionadas entre as 140 que compõem a obra, publicada pela Meta no fim do ano passado. A mostra acontece na Galeria Zoom e dá uma ideia dos caminhos já percorridos pelo membro mais popular da família imperial brasileira.
O cenário, de fato, não poderia ser outro: além da intimidade que mantém com o casario e as calçadas pé-de-moleque, D. João é um embaixador informal da cidade durante a Festa Literária de Paraty, que também começa na quinta-feira. “Os autores lá fora disputam um espaço na Flip, que já se tornou mais importante economicamente para a cidade do que o Carnaval e o Ano Novo”, diz. É no Centro Histórico que ele mantém seu escritório imobiliário, onde bate ponto de segunda à sexta e onde conversou com PG3.
Foto: Giancarlo Mecarelli
Na maior simplicidade, D. Joãozinho abre, a cada ano, os jardins de sua casa para o mais concorrido evento off-Flip, o almoço dos escritores — este ano, a programação traz Fernando Henrique Cardoso, Peter Burke, Robert Cramb, Moacyr Scliar, Ferreira Gullar e outros. A presença no encontro é quase obrigatória, to-do mundo vai.
Isabel Allende é a figura mais esperada, mas o príncipe não está ansioso pela confirmação da presença da escritora chilena em sua casa. “O almoço é
BRASIL PROFUNDO – “Selecionamos fotos que dão uma ideia bem ampla desses 35 anos percorrendo o Brasil. Não são fotos de viagem. O Brasil inteiro é minha casa. Tem os índios ianomâmi, comunidades quilombolas, tem o Rio, a Bahia, um trabalho em Vigário Geral com o AfroReggae. O que sempre me atraiu para fotografar foi o conhecimento sobre esses lugares. Minha paixão continua sendo o aprendizado sobre os costumes, o convívio com as pessoas humildes, mas cheias de dignidade. A estética da imagem vem depois disso”.
NO FOCO – “A relação com o fotografado é uma coisa que fica. Vou dar um exemplo. Depois de 32 anos que estive lá, pedi a uma amiga, que estava de viagem marcada para o Xingu, para levar uma foto minha com um índio, filho de um cacique, que fiz na época. Queria que ela desse a foto para ele de presente, que encontrasse esse homem de qualquer maneira. Vou ter de esperá-la voltar para saber se o achou”.
PRÓXIMA SÉRIE: “Não tenho nada planejado, mas isso surge de uma hora para a outra. No ano passado, fui convidado pelo governo de Alagoas para refazer o caminho que D. Pedro II percorreu ao subir o Rio São Francisco. A viagem foi interessantíssima, mas imagina, 220 km de barco? Surgiram algumas imagens maravilhosas daí”.
NOBREZA. “O que costumo dizer é que meu orgulho não é o meu nome, mas a história da minha família. A unidade nacional veio com a Independência, o Brasil teria se dividido em vários países, como aconteceu na América Latina. E o País é esta potência graças à minha família, pessoas que dedicaram a vida ao País, sem a Polícia Federal na porta procurando indícios de corrupção como se vê com os políticos há décadas”.
PODER: “O Brasil já tem uma democracia solidificada, mas estou apreensivo sobre setores do governo atual que querem cercear liberdades, a liberdade de expressão, de imprensa, é algo sagrado poder se dizer o que pensa. E por acaso são aqueles que mais lutaram contra a ditadura que estão lá, cerceando. Sou apartidário, não posso nem falar de partido político, falo sobre cidadania”.
PARATY. “Diferentemente de alguns lugares que cresceram muito, Paraty não expulsou seus moradores antigos para fora do centro histórico. Meu pai veio para esta cidade há 50 anos, conheço essas ruas desde criança. Não estou mais com a pousada, agora ela está arrendada, mas meus negócios são todos aqui, é em Paraty que eu trabalho, tenho o escritório da minha imobiliária. Ao contrário das outras pessoas, eu passo a semana aqui e os fins de semana no Rio”.
FLIP. “Hoje o período da festa literária é altíssima estação em Paraty. Para o turismo, em termos de ocupação e economia, é período melhor que o Carnaval e o Réveillon. O mais interessante nesta época é que as pessoas de fora se misturam com os locais, tem gente que vem mesmo sem ingresso para nada. Eu vou a pelo menos a duas ou três mesas por dia”.
OFF FLIP. “O almoço já é tradição, sempre na quinta-feira da abertura. Vai faltar apenas o Lou Reed. Todos os autores comparecem ao almoço. A Isabel Allende, estando em Paraty já na quinta, também deve vir. O cardápio é sempre de comidas tipicamente brasileiras, serviço para 120 pessoas, pelo menos. Os escritores vão chegando, aqui é tudo pertinho, a gente faz tudo a pé. Tanto que no mesmo dia abro a exposição e lanço meu livro, ‘Olhar de João’. Depois, sábado que vem, é o dia em que abro os jardins da minha casa para os poetas, um sarau com o pessoal do Corujão da Poesia. Os jovens precisam de espaço, aqui qualquer um pode chegar”.
fonte: O Dia