sábado, 31 de julho de 2010

Terapia celular a passos largos

A esperança de milhares de pessoas com lesões medulares em todo o mundo ganhou ontem uma injeção de ânimo. A Administração de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) autorizou que células-tronco embrionárias sejam aplicadas experimentalmente em seres humanos pela primeira vez. Trata-se do primeiro e único ensaio clínico com células-tronco embrionárias humanas aprovado no mundo até agora.

A empresa de biotecnologia Geron vai recrutar até dez pacientes com lesões medulares para receber injeções de células nervosas progenitoras, produzidas pela diferenciação de células-tronco embrionárias humanas in vitro. A intenção é que essas células progenitoras, uma vez dentro da medula, se diferenciem em um tipo específico de célula do sistema nervoso central, chamada oligodendrócito. Ela reveste os nervos e permite a transmissão dos sinais elétricos enviados do cérebro para o organismo.

MOVIMENTOS DE VOLTA

Em experimentos com ratos lesionados, a técnica se mostrou eficaz, devolvendo parte dos movimentos e do controle motor e sensorial aos animais. O início dos testes em humanos já havia sido autorizado em janeiro de 2009, mas o aparecimento de cistos na medula de alguns dos animais tratados fez com que a FDA colocasse a autorização “em espera”, até que a empresa investigasse.

“Há uma expectativa muito grande de toda a comunidade científica sobre esse projeto”, disse o médico Tarcísio Eloy Pessoa de Barros Filho, vice-diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Os resultados com animais são muito interessantes.”

Ele explica que muitas lesões medulares são causadas pela deterioração dos oligodendrócitos, sem que haja necessariamente um rompimento das fibras nervosas — as chamadas lesões fechadas. Os oligodendrócitos formam as chamadas bainhas de mielina, que encapam os nervos e funcionam como uma fita isolante sobre um fio elétrico. Sem elas, os impulsos nervosos não conseguem percorrer o nervo.

As células progenitoras desenvolvidas pela Geron não têm a capacidade de formar neurônios. Por isso, só serão admitidos no estudo de pacientes com lesões fechadas. A aplicação delas deverá ser feita entre 7 e 14 dias após a ocorrência da lesão. “Se for uma lesão antiga, já cicatrizada, não vai funcionar”, explica a pesquisadora Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo.

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