sábado, 10 de julho de 2010

Velho Chico pede socorro

Enquanto enchentes provocadas por chuvas causam mortes e destruição no Nordeste, um dado expõe outro capítulo do infortúnio das populações da região, que não poderá ser resolvido no curto prazo nem com doações: o outrora caudaloso Rio São Francisco está perdendo vazão. A constatação — tema de artigo publicado no portal EcoDebate, Cidadania e Meio Ambiente — tem como base estudo do National Center for Atmospheric Research (NCAR), que analisou informações coletadas entre 1948 e 2004, nos 925 maiores rios do mundo. Vários deles, em algumas das regiões mais populosas, estão perdendo águas.

O trabalho foi publicado ano passado no Journal of Climate, da Sociedade Meteorológica Americana, e chama atenção para o que pode ser o prenúncio de um desastre natural no futuro. O Velho Chico foi o rio que mais sofreu diminuição das águas em 50 anos — nada menos que 35% de sua capacidade. No mesmo período, o volume hídrico na bacia do Amazonas caiu apenas 3,1%, enquanto outros cursos d’água no Brasil apresentaram elevação. A situação crítica foi lembrada por Ruben Siqueira, coordenador da Comissão Pastoral da Terra da Bahia (CPT), à abertura do Encontro de Atingidos e Atingidas pelo Projeto de Transposição do Rio São Francisco, realizado mês passado, em Campina Grande (PB).

O quadro é até irônico quando se lembra letra de “Sobradinho”, de Sá e Guarabyra: “O homem chega, já desfaz a natureza/Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar/ O São Francisco lá pra cima da Bahia/ Diz que dia menos dia vai subir bem devagar”. Hoje, o temor é outro.

O rio nasce em São Roque de Minas, na Serra da Canastra, Minas Gerais, a aproximadamente 1.200 metros de altitude, atravessa a Bahia, em divisa ao norte com Pernambuco, e constitui divisa natural dos estados de Sergipe e Alagoas, até desaguar no Oceano Atlântico. Ele se desloca, em grande parte, pelo Semi-árido do Nordeste — região com extrema carência de recursos hídricos e baixo índice de desenvolvimento humano. O Velho Chico tem grande importância ecológica e socioeconômica.

“É um rio com todas as evidências de um quadro hídrico crítico. No entanto, o governo continua com esses projetos que privilegiam a produção de cana-de-açúcar para etanol em toda a bacia do São Francisco”, criticou Siqueira, referindo-se ao projeto de transposição para irrigação de plantações, que já causou protestos, greves de fome e mobiliza de sertanejos a artistas.
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