Ainda estou em transe! Como sou muito
passional a todo o momento me pego chorando. Não consegui dormir ontem,
não almocei e só consegui comer um pouco no jantar. Meu estômago dá
voltas, tenho náuseas e depois de tudo o que aconteceu, só tenho duas
certezas:
1ª) eles não vão NUNCA me fazer ter medo.
2ª) eles não vão conseguir nos calar. NUNCA!!
Eu não vou ficar aqui tentando ensinar a
polícia a fazer seu trabalho e dizer o que fazer para que peguem os
assassinos do meu amigo, jornalista Décio Sá. Eles têm lá suas técnicas
e, quando querem, chegam aos culpados. Também a mim não cabe fazer
elucubrações para desvendar os motivos do assassinato do “detonador” –
como ele gostava de ser chamado. Para mim ele está muito claro: seu
trabalho profícuo, corajoso, determinado e leal aos princípios do
verdadeiro jornalismo investigativo.
Décio trabalhava muito. Suas fontes eram
preciosíssimas. E se engana quem pensa que elas vinham apenas de dentro
do grupo político no qual gravitava tanto como amigo da governadora
Roseana Sarney, do irmão dela, Fernando e do cunhado, Ricardo Murad,
quanto pelo fato de ser empregado nas empresas da família Sarney. As
fontes de Décio também vinham dos adversários na política da mesma
família. No período em que atuei nos bastidores para combater o esbulho
político que foi a eleição de Jackson Lago, montado no esquema de um
bilhão de reais de José Reinaldo, não raro vi Décio atender na sala em
que eu trabalhava, na Assembleia Legislativa, ligações de desafetos de
seus patrões, como Roberto Rocha, Rodrigo Lago, etc. A agenda de
contatos – e de fontes potenciais – de Décio era talvez mais completa do
que a do Cerimonial do Palácio dos Leões.
Décio tinha lado e era fiel a esse seu
grupo. E ai de quem disser para mim que jornalista deve ser imparcial. O
extraordinário jornalista Ricardo Kostcho, que foi porta-voz do
ex-presidente Lula, ensinou certa feita que “Jornalista, ao contrário do
que a hipocrisia de muitos quer negar, também tem lado, time, partido,
igreja, amigos, alma e coração. Não somos robôs da notícia. Nunca
escondi o que penso e sinto. O leitor tem o direito de saber com quem
está falando”. Se era fiel ao grupo Sarney, também o era no subgrupo que
se digladia para suceder Roseana: estava com o ministro Edson Lobão e
contra Luís Fernando Silva, que tem a simpatia de Jorge Murad, marido de
sua patroa, Roseana. Nesse grupo Décio era visto com profunda
antipatia, principalmente quando publicava informações sempre
verdadeiras sobre a visão caolha de Luís Fernando fazer política. Nesse
grupo, o porta-voz era seu colega de redação no EMA e desafeto pessoal
Marcos D’Eça. Ambos trocavam acusações e, muitas vezes, ofensas, em seus
respectivos blogs.
O brutal, covarde, insano e estúpido
assassinato de Décio Sá, me deixou atônito, estupefato, chocado e
revoltado. Mas não com medo. Eu não tenho medo de covardes. Eu tenho
medo é de ser silente, conivente, cúmplice dessa escória que procura
fazer fortuna roubando, corrompendo, matando pais de família e deixando
órfã uma sociedade impotente e perplexa. Eu tenho medo é que continue
vingando a posição daqueles que, detentores de deformidades de caráter
permanente, se locupletam no poder econômico, crescem no submundo
político e, comprando consciências e condescendências no Judiciário,
sentem-se semideuses, capazes de dispor da vida de seres humanos que,
com certeza, não são seus semelhantes.
Tenho certeza em que neste momento em
que choro a perda de um amigo e o sério golpe na liberdade de Imprensa
que há três gerações move e é tão cara à minha família, alguns dos que
estão na agenda de Décio abrem garrafas de champanhe. São bandidos
morais e, muitos, de fato.
Mas quem matou Décio não foram os dois
bandidos de aluguel que o fuzilaram no dia do Santo Guerreiro, São
Jorge. Não foram só eles e os mandantes. Há muita gente que ajudou a
apertar o gatilho daquela pistola .40 e ceifou a vida de Décio.
O Governo do Estado ajudou a matar um
cidadão. Embora palco de vários assassinatos, assaltos e acidentes
violentos, a Avenida Litorânea não tem um policiamento ostensivo. O
secretário de Segurança, que agora aciona sua tropa de elite para
procurar os assassinos, não tem uma política séria e atuante de
prevenção de crimes. São coisas do passado até as barreiras policiais
que existiam nos retornos e nas áreas mais violentas da cidade.
Também apertou aquele gatilho a Prefeitura de São Luís, hoje entregue a um dinossauro político que não se deu conta que seu tempo é pretérito e que a instituição que herdou num golpe de estupidez política da população não é cabide de emprego para mimar sua filha e nem um cofre sem fundo onde o princípio básico é limpá-lo até onde puder.
Também apertou aquele gatilho a Prefeitura de São Luís, hoje entregue a um dinossauro político que não se deu conta que seu tempo é pretérito e que a instituição que herdou num golpe de estupidez política da população não é cabide de emprego para mimar sua filha e nem um cofre sem fundo onde o princípio básico é limpá-lo até onde puder.
Tivesse nosso alcaide acordado de sua
iniquidade e mandado instalar câmeras de vigilância na Litorânea, a
principal via turística de São Luís não teria se transformado na
sucursal do inferno.
Também ajudou a detonar a espoleta
daquela pistola a negligência e omissão de seus patrões: apesar de já
ter sido vítima de uma ação balaia tresloucada e irresponsável comandada
pelo ex-chefe da espoliada Coliseu Renato Dionísio, que apedrejou as
instalações do Sistema Mirante, na Avenida Ana Jansen e, também, apesar
da recente agressão a um de seus técnicos por um grupo de celerados
filhinhos-de-papai, fato ocorrido na porta da empresa, a direção da
Mirante jamais mandou instalar câmaras na área externa do prédio. É bem
verdade que isso não impediria sua morte, mas poderia tornar mais rápida
e mais fácil a identificação dos matadores de aluguel.
Por fim, ajudamos, também, todos nós
que, entrando na máquina de fazer doido, essa disputa incessante por
projeção social e financeira, incentivamos, estimulamos e abastecemos a
corrida rumo ao topo sabe-se lá que quê. Décio, um menino negro e pobre
“sem parentes importantes e vindo do interior” – como constava na sua
página na internet -, tinha ambições inerentes à sua idade: queria
ganhar dinheiro. Muito dinheiro. Queria ajudar a família e dar conforto e
tranquilidade para sua mulher e dois filhos. Uma com 8 anos e outro
ainda em gestação. Por isso foi usado por políticos, empresários e toda
sorte de gente sem escrúpulos que massageavam seu ego enquanto o
empurravam para o precipício, fazendo inimigos covardes que planejaram
sua morte.
Décio morreu. Ainda tenho náuseas e
nojo. Mas, permanece a certeza que os facínoras que pagaram pela sua
morte – porque eram covardes para cometer eles mesmos o crime -, jamais
calarão a nossa voz. Nem nos incutirão medo.
Que Deus o receba!O texto acima foi escrito pelo jornalista Régis Marques. Ele publicou o texto antes no facebook. Abaixo o relato de Régis. com dados do Blog do Itevaldo