Faltam médicos radioterapeutas no Maranhão. A confirmação é da Sociedade
Brasileira de Oncologia (SBOC - Regional Nordeste). São apenas quatro
profissionais com a especialidade para atender o Estado e seriam
necessários pelo menos mais quatro. O radioterapeuta é um oncologista
especializado em radioterapia e é o responsável pela administração de
radiação no organismo com câncer. "Se faz necessária uma distribuição
mais igualitária destes profissionais e estímulo a residência onde
exista o aparelhamento e a especialidade para desempenho da função",
destacou o presidente da SBOC Nordeste, Eriberto Queiroz Marques. No
Maranhão, a demanda de pacientes é, em média, três mil por ano em novos
casos diagnosticados, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Destes, entre 20% e 30% necessitam submeter-se à radioterapia. São 225
doentes para um radioterapeuta. O Inca estima seis mil novos casos no
estado este ano.
Para toda esta demanda o Maranhão possui apenas dois hospitais no tratamento de câncer: o Hospital Tarquínio Lopes Filho - Hospital Geral, do Governo do Estado; e o Hospital Aldenora Belo, administrado pela Fundação Antônio Jorge Dino e único de referência e especifico para tratamento de câncer. O Hospital Geral atua desde 2006 na oncologia clínica e cirúrgica com Serviço de Pronto Atendimento 24 horas e conta com equipe de 20 profissionais, sendo que, destes, apenas três com formação oncológica e nenhum radioterapeuta. No mês de março foram realizados 573 atendimentos em oncologia e registradas 64 internações.
Os números correspondem à média de 11% do total de atendimentos do hospital, que além do câncer trata outros tipos de doenças. Porém, mais de 80% da demanda do estado em doentes de câncer é acolhida no Hospital Aldenora Belo, especializado e estruturado para tratar mais de 200 tipos deste mal com atenção 24 horas em oncologia cirúrgica, quimioterapia e radioterapia. A equipe de 13 médicos oncologistas conta com quatro radioterapeutas - os únicos de todo o estado. Ainda este ano, mais um oncopediatra se somará ao quadro médico.
"Hoje o maior impasse do hospital são os equipamentos.
Precisaríamos de reforço neste ponto para atender satisfatoriamente à demanda. Mas, quanto a profissionais, não temos déficit", afirma a diretora técnica e radioterapeuta do Hospital Aldenora Belo, Silvia Feitosa. Os números do hospital são condizentes com a estrutura preparada para atendimento.
Só ano passado foram realizados 359.999 atendimentos ambulatoriais (consultas, exames, cirurgias, internações e demais serviços médicos). Atualmente, a demanda para radioterapia é de 250 pacientes, mas há 200 na fila de espera.
"Não há legislação prevendo direitos diferenciados para este profissional, mas ele é menos demandado com plantões e se ocupa dos atendimentos ambulatoriais", explica Silvia Feitosa.
Para suprir a falta de radioterapeutas seria necessária a soma do que o presidente da SBOC Nordeste classifica de "requisitos em equipamentos": acelerador linear (máquina que realiza o exame de radioterapia), bomba de cobalto, braquioterapia e a distribuição igualitária destes profissionais nas unidades. Enquanto faltam radioterapeutas, sobram oncologistas clínicos, compara Eriberto Marques. Nas residências médicas da Regional Nordeste, a média é de 120 oncologistas por etapa e são realizadas pelo menos três residências por ano. Tal número, afirma Marques, garante um contingente satisfatório destes profissionais para atender a demanda. "Ao menos neste setor não existe carência", enfatizou o presidente da SBOC Nordeste.
Fluxo do interior
Outro impasse na eficácia do atendimento é o índice de pacientes vindos do interior, o que representa atualmente metade de toda a demanda. São pacientes que chegam com a doença em estágio bastante avançado, pouco informados e por vezes sem condições mínimas para seguir corretamente o tratamento que dura no mínimo dois meses. "As ações de prevenção no interior do estado ainda são bem precárias", observa Silvia Feitosa. As acomodações para este público também são um desafio a cumprir pelo hospital: não há onde acolhê-los. A capital mantém uma casa de apoio adulto e outra infantil, cada uma com 25 leitos, servindo refeições diárias e oferecendo acompanhamento médico e assistência 24 horas. O hospital possui dois aparelhos de radioterapia e deve ganhar mais um ainda este ano.
O Hospital Aldenora Belo é mantido pelos atendimentos realizados via Sistema Único de Saúde (SUS) em 85%, convênios em 12%, consultas particulares em 2% e o restante apoio da comunidade que faz doações. As casas de apoio acolhem pacientes do interior do estado e são mantidas pelo serviço de telemarketing que arrecada donativos via contato com o usuário. O hospital é enquadrado como Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), em acordo com a política nacional oncológica do Ministério da Saúde.
Sensibilidade no trato
"Nós temos um preparo maior que outros profissionais da saúde para lidarmos com os pacientes de câncer. E apesar da atividade diária e do contato constante, não há como se acostumar com o problema", diz a médica radioterapeuta Silvia Feitosa. Ela é um dos quatro únicos profissionais no Maranhão com a especialidade oncológica. A demanda para a classe é alta: um atendimento a cada 15 minutos, que acaba aumentando devido à escassez desse especialista. Atuando no Hospital Aldenora Belo, Silvia diz que a equipe dispensa ao paciente um atendimento geral que vai da orientação, passando pela informação de questões como expectativas de vida, efeitos do tratamento e etapas de recuperação. A médica aponta a falta de equipamentos como maior obstáculo para oferecer atendimento eficaz. "Precisaríamos de mais uma máquina para realizar exames de radioterapia e teríamos então condições plenas de atender a demanda de quem nos procura", disse a médica.
Déficit
O salário desta categoria de profissional oscila entre R$ 8 mil para oncologista clínico e R$ 20 mil para radioterapeuta. São atividades profissionais bastante valorizadas quanto à formação e também especialidade. O debate da falta de oncologista radioterapeutas veio à tona após anúncio do Governo Federal sobre liberação de recursos da ordem de R$ 505 milhões para os hospitais da rede de unidades oncológicas do Sistema Único de Saúde (SUS). Os recursos serão aplicados em infraestrutura (R$ 325 milhões) e na compra de aceleradores lineares, equipamentos usados para radioterapia (R$ 180 milhões). Em contraponto, profissionais da área reclamam a necessidade de mais oncologistas e raditerapeutas.
O diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Luiz Antonio Santini, em audiência pública na Câmara dos Deputados, afirmou ser o maior problema da oncologia no país a falta de recursos humanos. Segundo ele, há déficit de médicos, principalmente nas especialidades que tratam o câncer, tanto em capitais quanto em regiões mais distantes.
Demanda
Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, 135 dos 269 hospitais habilitados em alta complexidade em oncologia no Sistema Único de Saúde (SUS) oferecem serviços de radioterapia. Há ainda 13 serviços funcionando fora de hospitais. No total, a rede pública responde por 75% de todos os atendimentos no país voltados para essa área. Só nos primeiros meses deste ano foram identificados 260 mil casos de câncer em mulheres, dos quais 27% são de mama e de colo do útero. O combate a esses dois tipos de câncer é considerado prioridade pela pasta. A previsão, de acordo com o ministério, é que nos próximos cinco anos sejam adquiridos 80 aceleradores lineares, expandindo o acesso ao tratamento para mais 28.800 pacientes ao ano. O Brasil tem projetos para instalação de fábrica destinada à produção nacional desse tipo de equipamento, datada para entrar em atividade em 2015, segundo o Ministério da Saúde.
Para toda esta demanda o Maranhão possui apenas dois hospitais no tratamento de câncer: o Hospital Tarquínio Lopes Filho - Hospital Geral, do Governo do Estado; e o Hospital Aldenora Belo, administrado pela Fundação Antônio Jorge Dino e único de referência e especifico para tratamento de câncer. O Hospital Geral atua desde 2006 na oncologia clínica e cirúrgica com Serviço de Pronto Atendimento 24 horas e conta com equipe de 20 profissionais, sendo que, destes, apenas três com formação oncológica e nenhum radioterapeuta. No mês de março foram realizados 573 atendimentos em oncologia e registradas 64 internações.
Os números correspondem à média de 11% do total de atendimentos do hospital, que além do câncer trata outros tipos de doenças. Porém, mais de 80% da demanda do estado em doentes de câncer é acolhida no Hospital Aldenora Belo, especializado e estruturado para tratar mais de 200 tipos deste mal com atenção 24 horas em oncologia cirúrgica, quimioterapia e radioterapia. A equipe de 13 médicos oncologistas conta com quatro radioterapeutas - os únicos de todo o estado. Ainda este ano, mais um oncopediatra se somará ao quadro médico.
"Hoje o maior impasse do hospital são os equipamentos.
Precisaríamos de reforço neste ponto para atender satisfatoriamente à demanda. Mas, quanto a profissionais, não temos déficit", afirma a diretora técnica e radioterapeuta do Hospital Aldenora Belo, Silvia Feitosa. Os números do hospital são condizentes com a estrutura preparada para atendimento.
Só ano passado foram realizados 359.999 atendimentos ambulatoriais (consultas, exames, cirurgias, internações e demais serviços médicos). Atualmente, a demanda para radioterapia é de 250 pacientes, mas há 200 na fila de espera.
"Não há legislação prevendo direitos diferenciados para este profissional, mas ele é menos demandado com plantões e se ocupa dos atendimentos ambulatoriais", explica Silvia Feitosa.
Para suprir a falta de radioterapeutas seria necessária a soma do que o presidente da SBOC Nordeste classifica de "requisitos em equipamentos": acelerador linear (máquina que realiza o exame de radioterapia), bomba de cobalto, braquioterapia e a distribuição igualitária destes profissionais nas unidades. Enquanto faltam radioterapeutas, sobram oncologistas clínicos, compara Eriberto Marques. Nas residências médicas da Regional Nordeste, a média é de 120 oncologistas por etapa e são realizadas pelo menos três residências por ano. Tal número, afirma Marques, garante um contingente satisfatório destes profissionais para atender a demanda. "Ao menos neste setor não existe carência", enfatizou o presidente da SBOC Nordeste.
Fluxo do interior
Outro impasse na eficácia do atendimento é o índice de pacientes vindos do interior, o que representa atualmente metade de toda a demanda. São pacientes que chegam com a doença em estágio bastante avançado, pouco informados e por vezes sem condições mínimas para seguir corretamente o tratamento que dura no mínimo dois meses. "As ações de prevenção no interior do estado ainda são bem precárias", observa Silvia Feitosa. As acomodações para este público também são um desafio a cumprir pelo hospital: não há onde acolhê-los. A capital mantém uma casa de apoio adulto e outra infantil, cada uma com 25 leitos, servindo refeições diárias e oferecendo acompanhamento médico e assistência 24 horas. O hospital possui dois aparelhos de radioterapia e deve ganhar mais um ainda este ano.
O Hospital Aldenora Belo é mantido pelos atendimentos realizados via Sistema Único de Saúde (SUS) em 85%, convênios em 12%, consultas particulares em 2% e o restante apoio da comunidade que faz doações. As casas de apoio acolhem pacientes do interior do estado e são mantidas pelo serviço de telemarketing que arrecada donativos via contato com o usuário. O hospital é enquadrado como Centro de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon), em acordo com a política nacional oncológica do Ministério da Saúde.
Sensibilidade no trato
"Nós temos um preparo maior que outros profissionais da saúde para lidarmos com os pacientes de câncer. E apesar da atividade diária e do contato constante, não há como se acostumar com o problema", diz a médica radioterapeuta Silvia Feitosa. Ela é um dos quatro únicos profissionais no Maranhão com a especialidade oncológica. A demanda para a classe é alta: um atendimento a cada 15 minutos, que acaba aumentando devido à escassez desse especialista. Atuando no Hospital Aldenora Belo, Silvia diz que a equipe dispensa ao paciente um atendimento geral que vai da orientação, passando pela informação de questões como expectativas de vida, efeitos do tratamento e etapas de recuperação. A médica aponta a falta de equipamentos como maior obstáculo para oferecer atendimento eficaz. "Precisaríamos de mais uma máquina para realizar exames de radioterapia e teríamos então condições plenas de atender a demanda de quem nos procura", disse a médica.
Déficit
O salário desta categoria de profissional oscila entre R$ 8 mil para oncologista clínico e R$ 20 mil para radioterapeuta. São atividades profissionais bastante valorizadas quanto à formação e também especialidade. O debate da falta de oncologista radioterapeutas veio à tona após anúncio do Governo Federal sobre liberação de recursos da ordem de R$ 505 milhões para os hospitais da rede de unidades oncológicas do Sistema Único de Saúde (SUS). Os recursos serão aplicados em infraestrutura (R$ 325 milhões) e na compra de aceleradores lineares, equipamentos usados para radioterapia (R$ 180 milhões). Em contraponto, profissionais da área reclamam a necessidade de mais oncologistas e raditerapeutas.
O diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Luiz Antonio Santini, em audiência pública na Câmara dos Deputados, afirmou ser o maior problema da oncologia no país a falta de recursos humanos. Segundo ele, há déficit de médicos, principalmente nas especialidades que tratam o câncer, tanto em capitais quanto em regiões mais distantes.
Demanda
Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, 135 dos 269 hospitais habilitados em alta complexidade em oncologia no Sistema Único de Saúde (SUS) oferecem serviços de radioterapia. Há ainda 13 serviços funcionando fora de hospitais. No total, a rede pública responde por 75% de todos os atendimentos no país voltados para essa área. Só nos primeiros meses deste ano foram identificados 260 mil casos de câncer em mulheres, dos quais 27% são de mama e de colo do útero. O combate a esses dois tipos de câncer é considerado prioridade pela pasta. A previsão, de acordo com o ministério, é que nos próximos cinco anos sejam adquiridos 80 aceleradores lineares, expandindo o acesso ao tratamento para mais 28.800 pacientes ao ano. O Brasil tem projetos para instalação de fábrica destinada à produção nacional desse tipo de equipamento, datada para entrar em atividade em 2015, segundo o Ministério da Saúde.
FONTE: Sandra Viana - O imparcial
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