domingo, 9 de março de 2025

CRÔNICA DO DIA - Luighi: O Choro de um Gigante

Luighi chorou. Na rede nacional, diante das câmeras que costumam dar as costas para casos como o seu, o jovem jogador do Palmeiras, de apenas 18 anos, fez o que muitos homens negros aprenderam desde cedo a não fazer: ele expôs sua dor. Questionou a missão da imprensa esportiva, reunindo o que tantos insistem em silenciar.

Luighi chorou, mas não foi fraco. Foi coragem.

No próximo jogo, ele entrará em campo com a mesma camisa, mas com outro peso nos ombros. O técnico pode pedir que ele mantenha o foco, que jogue o jogo e não a batalha. Mas como seguir as orientações táticas quando se luta para ser tratado como igual? Quando o simples ato de existir e jogar incomoda tanto?

Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid, já mostrou como se posiciona um verdadeiro líder. Quando Vinícius Júnior foi alvo de racismo, Ancelotti ignorou uma pauta futebolística e se decidiu a falar de tática. Ele apontou o problema onde estava: o racismo estrutural que permite que jogadores negros sejam atacados impunemente.

O caso de Luighi é mais um capítulo da mesma história, da mesma ferida aberta. “A pessoa negra precisa ser mil vezes melhor que a branca para ter condição de igualdade”, dizem. Mas até quando? Quantos Vinícius, quantos Luighis precisam chorar ao vivo para que aconteça uma mudança?

Freud dizia que toda exclusão tem seu retorno. O racismo fere, adoece, mata – e, no fim, pode atingir até aqueles que acreditam estar protegidos por suas preferências. Essa violência se espalha, cria sociedades doentes, corrói qualquer ideia de humanidade. Mas o racismo reverso não existe: o que existe é um sistema que sempre teve um lado bem definido.

O futebol deveria ser um campo onde o talento fala mais alto que o cor da pele. Mas a bola nem sempre está nos pés de quem joga. Às vezes, ela é com aqueles que apitam, com os que narram, com os que escolhem o que será notícia e o que será esquecido. O racismo não vive apenas nos gritos das arquibancadas – ele se manifesta no silêncio de quem deveria reagir.

Não basta ser contra o racismo, é preciso ser antirracista. É preciso ir além do discurso politicamente correto e agir de verdade. Punições severas, leis que funcionam, câmeras que denunciam e microfones que amplifiquem as vozes certas. Se a sociedade continuar aceitando o racismo como parte do espetáculo, nada mudará.

O choro de Luighi não pode ter sido em vão. A luta não é só dele. Não é só dos negros. É de todos que acreditam que a dignidade não pode ser medida pela cor da pele. Se o racismo ainda não te tocou, saiba que ele está à espreita, corroendo as bases do mundo onde você também pisa.

Portanto, entre em campo caro leitor(a),  drible o preconceito e faça o gol da cidadania. Racismo nunca mias. somos todos Luighi!!!!!

Por José Casanova
Membro da Academia Bacabalense de Letras
Membro da Academia Mundial de Letras da Humanidade
Tutor da Academia Maranhense de Letras Infantojuvenil

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