No movimento constante de pessoas que chegam e
partem do terminal rodoviário da minha cidade natal, vindas de diferentes
lugares ou rumando para destinos diversos, encontramos os agentes das empresas
de ônibus. Seu trabalho consiste em atrair passageiros para suas respectivas
companhias, enquanto fazem comparações entre a eficiência de sua empresa e a
suposta lentidão das concorrentes, chegando até mesmo a comparar seus ônibus a
aeronaves.
O frenesi é palpável quando um passageiro
desembarca de seu veículo de origem, seja ele um motociclista, um taxista ou o
condutor de um veículo de pequeno porte. Conhecendo essa dinâmica, decidi
testar os vendedores de passagens em u ma ocasião em que cheguei à
rodoviária e fui abordado por um deles.
_
Bom dia meu patrão! – Disse solícito um dos jovens, vestido numa farda surrada
da empresa.
Estava,
como sempre, acompanhado de outros vendedores de outras empresas é claro. Vivi
ali o ritual do voo dos urubus sobre a carniça do lucro.
Para eles o passageiro não passa de uma cifra monetária.
_ Bom dia meu filho! – Respondi com carinho.
_
O Senhor vai viajar pra onde? Posso lhe ajudar? – Insistiu o rapaz pensando na
venda da passagem.
_
Vou tirar minha passagem pra Belém. – Respondi.
Enquanto
ele me acompanhava dei a cartada final:
_
Há alguma possibilidade de passagem gratuita para idosos? – perguntei fingindo
inocência .
Pronto.
Era o que faltava para estragar o dia do vendedor de passagens. Não tenho culpa
se tenho sessenta anos e o governo acha que sou idoso. Passagens gratuita pra
idosos e pessoas com deficiência é o terror dos agentes de viagem. Naquele momento os “urubus” que planejavam
comer a carniça da terceira idade, saíram todos de perto me deixando a falar
sozinho.
Será que foi alguma coisa que eu falei?... Vida que segue... E seguiu mesmo, não é que nessa hora chega a
famosa Lúcia Correia em sua cadeira de rodas, mulher cadeirante fundadora da
associação dos deficientes, estava acompanhada dos filhos Wladimir e Dandara e
vinha justamente agendar uma passagem gratuita para pessoa com deficiência e
mobilidade reduzida. O teor da conversa dela com os vendedores de passagem
deixo a cargo de vocês caros leitores, escrevam o pedaço “indizível’ da
crônica.
Testemunhei outro episodio pitoresco na mesma rodoviária.
Chegou um cliente e pergunta a uma vendedora qualquer se tinha coxinha. Então a
vendedora do box vizinho logo respondeu que tinha. Isso garantiu para a mesma a venda da
cozinha e um refrigerante . Até aí tudo bem. Como a quantidade de coxinhas estava
quase no fim, ela a que foi mais esperta, resolveu colocar mais coxinhas no recipiente,
sabe o que aconteceu em seguida?
Um acidente faz com que caíssem no chão pelo
menos cinco coxinhas. Esperta, olha para todos os lados e percebe que todos
perceberam o incidente e não teve outra opção a não ser jogar as coxinhas no lixo.
Veja bem o lucro da venda de uma que ela “espertamente” vendeu foi para lixeira
em cinco unidades.
Como diria meu pai: O mundo é dos espertos!... Será?
Professor, Jornalista e escritor membro da
Academia Bacabalense de Letras
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