O planeta terra havia crescido culturalmente, com avanços científicos
e a ascensão da inteligência artificial,
que competia com a raça humana, que do
ponto de vista ético e moral entrara em declínio sem solução. A guerra tomara
conta da história. No Brasil as ruas estavam vazias, os prédios em ruínas, e o
céu cinzento parecia pesar sobre os ombros daqueles que ainda resistiam. Em um
mundo à beira do colapso, onde cada dia era uma batalha pela sobrevivência, um
grupo de pessoas decidiu que era hora de celebrar a vida de uma maneira única e
especial: realizar o último carnaval antes do fim do mundo.
Nada unia mais o povo a não ser a cultura, tão desvalorizada
pelas autoridades planetárias. Reunido as últimas forças , começaram os preparativos semanas antes, com os poucos
recursos que ainda restavam sendo cuidadosamente guardados e compartilhados
entre os sobreviventes. Músicos improvisaram instrumentos com o que tinham à
mão, e artesãos trabalharam incansavelmente para criar fantasias coloridas e
máscaras elaboradas.
O tempo não representava nada
para as pessoas, o apocalipse paralisou todos os relógios digitais,
os únicos a funcionarem era os
jurássicos relógios a corda, que os mais
novos nem sabiam como usar. Quando o dia finalmente chegou, as ruas
ganharam vida de uma maneira que há muito não se via. O som dos tambores ganharam
as ruas desertas, e as pessoas saíam de suas casas, vestidas com seus trajes
festivos, prontas para esquecer, nem que fosse por um momento, as agruras do
mundo em decadência.
Dona Maria improvisara uma bandeira verde e rosa, e com muito zelo e habilidade manual, fizera sua
fantasia de porta bandeira, e seu filho com fragmentos de uma bomba improvisou
sua roupa de Mestre Sala. Os sorrisos de ambos eram genuínos, as risadas do
povo contagiantes. Por um instante, as preocupações do amanhã foram deixadas de
lado, e as pessoas se permitiram apenas serem felizes, mesmo que fossem pela
última vez.
Enquanto o sol se punha no horizonte, pintando o céu de tons
de laranja e rosa, o grupo se reuniu em torno de uma fogueira improvisada. Ali,
sob as estrelas, eles dançaram e cantaram, celebrando a vida e a cultura que
estavam prestes a desaparecer. A mídia noticiou o fato como folclore,
comportamento primitivos de um país chamado Brasil, os robôs com inteligência
artificial se divertiam achando tudo aquilo muito engraçado.
E, quando a última chama se apagou e o último tambor parou de
ecoar, as pessoas se abraçaram, sabendo que aquele momento seria eternamente
guardado em suas memórias. Havia cheiro de gente no que fizeram, o colorido das
roupas improvisadas contrastavam com o
cotidiano cinza que criaram para si ao aceitarem serem manipulados por
falsos líderes políticos e religiosos.
Ao longe perceberam o brilho de mais um cogumelo gigante de
uma bomba atômica. Um robô passou
apressado e disse:
_ Corram humanos, que o tempo é curto e a Sapucaí é grande!
Os humanos olharam-se
apreensivos e, calmamente , saíram em
retirada , pois mesmo em meio ao caos e à escuridão, o carnaval trouxera luz e
esperança, lembrando a todos que, enquanto houver vida, há também possibilidade
de alegria e sobrevivência.
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