quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: O último Carnaval

 

O planeta terra havia crescido culturalmente, com avanços científicos e a ascensão da inteligência artificial, que  competia com a raça humana, que do ponto de vista ético e moral entrara em declínio sem solução. A guerra tomara conta da história. No Brasil as ruas estavam vazias, os prédios em ruínas, e o céu cinzento parecia pesar sobre os ombros daqueles que ainda resistiam. Em um mundo à beira do colapso, onde cada dia era uma batalha pela sobrevivência, um grupo de pessoas decidiu que era hora de celebrar a vida de uma maneira única e especial: realizar o último carnaval antes do fim do mundo.

Nada unia mais o povo a não ser a cultura, tão desvalorizada pelas autoridades planetárias. Reunido as últimas forças , começaram os  preparativos semanas antes, com os poucos recursos que ainda restavam sendo cuidadosamente guardados e compartilhados entre os sobreviventes. Músicos improvisaram instrumentos com o que tinham à mão, e artesãos trabalharam incansavelmente para criar fantasias coloridas e máscaras elaboradas.

O tempo não representava nada  para as pessoas, o apocalipse paralisou todos os relógios digitais, os  únicos a funcionarem era os jurássicos relógios a corda, que os mais  novos nem sabiam como usar. Quando o dia finalmente chegou, as ruas ganharam vida de uma maneira que há muito não se via. O som dos tambores ganharam as ruas desertas, e as pessoas saíam de suas casas, vestidas com seus trajes festivos, prontas para esquecer, nem que fosse por um momento, as agruras do mundo em decadência.

Dona Maria improvisara uma bandeira verde e rosa, e com   muito zelo e habilidade manual, fizera sua fantasia de porta bandeira, e seu filho com fragmentos de uma bomba improvisou sua roupa de Mestre Sala. Os sorrisos de ambos eram genuínos, as risadas do povo contagiantes. Por um instante, as preocupações do amanhã foram deixadas de lado, e as pessoas se permitiram apenas serem felizes, mesmo que fossem pela última vez.

Enquanto o sol se punha no horizonte, pintando o céu de tons de laranja e rosa, o grupo se reuniu em torno de uma fogueira improvisada. Ali, sob as estrelas, eles dançaram e cantaram, celebrando a vida e a cultura que estavam prestes a desaparecer. A mídia noticiou o fato como folclore, comportamento primitivos de um país chamado Brasil, os robôs com inteligência artificial se divertiam achando tudo aquilo muito engraçado.

E, quando a última chama se apagou e o último tambor parou de ecoar, as pessoas se abraçaram, sabendo que aquele momento seria eternamente guardado em suas memórias. Havia cheiro de gente no que fizeram, o colorido das roupas improvisadas contrastavam com o  cotidiano cinza que criaram para si ao aceitarem serem manipulados por falsos líderes políticos e religiosos.

Ao longe perceberam o brilho de mais um cogumelo gigante de uma bomba atômica. Um  robô passou apressado e disse:

_ Corram humanos, que o tempo é curto e a Sapucaí é grande!

 Os humanos olharam-se apreensivos e, calmamente ,  saíram em retirada , pois mesmo em meio ao caos e à escuridão, o carnaval trouxera luz e esperança, lembrando a todos que, enquanto houver vida, há também possibilidade de alegria e sobrevivência.

 Por José Casanova

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