quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Veja como usar melhor o dinheiro extra do 13º


Um tsunami de R$ 130 bilhões vai irrigar a economia do país até 20 de dezembro. Começou ontem o pagamento da segunda parcela do 13º salário para aposentados e pensionistas e, na sexta-feira, cai na conta bancária dos brasileiros com carteira assinada a primeira parte do benefício. A enxurrada de dinheiro na praça não quer dizer, porém, que os trabalhadores fecharão o ano endinheirados. Neste período do ano, se de um lado a parcela a receber aumenta, por outro, também crescem as contas a pagar, as tentações do consumo, a vontade de quitar as dívidas e de fazer aquela tão sonhada viagem de férias.

Tudo ao mesmo tempo agora. Mas será que o dinheiro extra será suficiente para bancar tudo isso? O Estado de Minas consultou especialistas, que dão dicas para os trabalhadores sobre as melhores formas de usar o benefício. A prioridade número 1 é pagar dívidas ou pelo menos parte delas. "É preciso lembrar que o 13º salário não é nenhuma Mega-Sena", lembra José César Castanhar, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV). 

De acordo com ele, parece simples e racional escolher como gastar o benefício, mas será preciso eleger prioridades. "O dinheiro do 13º chega num momento peculiar do ano. Existe uma tradição de comprar presentes, então é inevitável que parte dele seja destinado a esse fim." Para quem tem um pouco de disciplina e pensa no longo prazo, a saída é tirar uma parcela desse recurso para investir. Há ainda as férias e os impostos de início do ano, sem contar matrícula e material escolar para os filhos. Resumo da ópera: mais uma vez, o trabalhador brasileiro terá que se desdobrar.

NEGOCIANDO DÉBITOS
Quando uma pessoa tem uma dívida, dificilmente pagará por ela menos do que 3% de juros mensais. Nenhuma aplicação financeira existente hoje no país rende mais do que isso no mesmo período de tempo. Por isso, a quitação ou o abatimento das dívidas deve ser a prioridade número 1 dos consumidores. "O ideal é encerrar o ano livre de endividamento, mas se não der, pelo menos a pessoa pode tentar reduzi-lo", explica Júlio Hegedus Neto, analista de investimento e economista da Lopes Filho & Associados Consultores de Investimento. No entanto, é bom aproveitar essa época do ano para pagar uma parcela maior, o que fortalece o consumidor na hora de negociar um desconto na dívida.

A maioria dos mineiros têm dívidas que ultrapassam R$ 500, mas pretendem quitá-las nos próximos 30 dias. É o que aponta a pesquisa de inadimplência Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) em novembro. Para facilitar o pagamento dos débitos em atraso, a CDL promove, até o dia 30, uma campanha de recuperação de crédito, com descontos que podem ultrapassar 50%. A intenção, segundo o presidente da entidade, Bruno Falci, é permitir que os consumidores endividados reabilitem o seu crédito para voltar ao mercado até o Natal.

Em sua quarta edição, o evento deve receber até o fim desta semana 50 mil consumidores. Desse total, pelo menos 15 mil vão tirar o nome do cadastro de maus pagadores do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). "Nosso o objetivo é proteger os clientes, mas também as empresas", diz Falci.

Regularizando sua situação, os consumidores poderão retornar ao mercado de consumo, o que contribuiu para aumentar as vendas de produtos e serviços. De acordo Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a grande incógnita para os próximos meses é o que vai acontecer com o crédito e com a inadimplência no país a partir de janeiro. "Ainda não sabemos se o índice vai recuar, o que pode ocorrer somente no segundo semestre de 2013".

COMPRA COM DESCONTOS
Os especialistas se dividem no que diz respeito às compras do fim de ano com o dinheiro do 13º salário. Para Júlio Hegedus, o ideal é não embarcar na onda de consumo e comprar lembrancinhas, mesmo assim somente para os mais chegados. Segundo ele, vale apelar para promoções pré-natalinas, bazares e queimas de estoque ou então esperar o Natal passar e aproveitar as megaliquidações depois do réveillon. Para a médica e educadora financeira Naila do Espírito Santo, no entanto, é preciso que o dinheiro traga bem-estar. Por isso, é importante separar uma parcela do benefício paras as compras e para as festas natalinas, sem esquecer de fazer uma reserva para as despesas de início de ano.

Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), explica que 19% dos empresários do comércio estão com estoques acima do adequado neste fim de ano. O índice revela certo desapontamento com a velocidade das vendas ocorridas até agora. Por isso, muitos deles estão partindo para promoções antecipadas. A expectativa é que as vendas do comércio brasileiro cresçam 8% ante igual período do ano passado, quando a expansão ficou em 6,7%. Para Marianne Hanson, também economista da CNC, as liquidações no país estão ganhando força e tradição. Segundo ela, como alguns setores estão com vendas mais fracas que as do ano passado, o número de promoções pode aumentar.

Os trabalhadores que querem investir parte do 13º salário, mas têm prazo curto e programado para usá-lo, devem depositá-lo na caderneta de poupança, indicam analistas de investimentos ouvidos pelo Estado de Minas. Com a taxa de juros básicos da economia (Selic) no patamar de 7,25% ao ano, que deverá ser mantida na reunião que se inicia hoje e termina amanhã do Comitê de Política Monetária (Copom), os rendimentos da aplicação fecharam outubro, últimos dados disponíveis, em 0,43% ao mês. "Além de pagar as contas, o dinheiro a ser reservado para quitar os impostos e a matrícula escolar no início de 2013 deve ser guardado na caderneta. Não dá para fazer estripulia", ensina o analista de investimentos Paulo Vieira.

Com as novas regras da caderneta de poupança, os depósitos realizados a partir de 4 de maio deste ano passaram a ter a Selic como parâmetro de rendimento. Com a taxa igual ou menor que 8,5%, a poupança rende 70% da Selic mais TR. Com a Selic maior que 8,5%, o rendimento é de 0,5% mais TR. Apesar disso, a captação tem se elevado nos últimos meses. "A poupança tem preservado as captações por causa da elevação do rendimento nas classes mais baixas, que não têm recursos suficientes para aplicar em outros investimentos e nem conhecem produtos mais sofisticados", explica Vieira.

Para o economista Júlio Hegedus Neto, os trabalhadores que pretendem usar a parcela economizável do 13º salário nos próximos meses devem optar por aplicações que garantam liquidez imediata como poupança e fundos DI.

FOCO NO INVESTIMENTO
A melhor opção para quem pode deixar uma parcela do 13º rendendo por mais tempo são os títulos públicos, orienta o analista de investimento Júlio Hegedus Neto. De acordo com ele, depois da queda da Selic, há poucas saídas para remunerar melhor o capital do investidor. Uma das opções, explica, é entrar no Tesouro Direto. "Para quem pode ficar com o dinheiro por mais tempo, uma boa saída são as notas do Tesouro Nacional, série B (NTNBs), que são atreladas à inflação e mantêm ganho real. A poupança está na linha d'água. O investidor não tem para onde correr", sustenta.

Quem quiser uma remuneração melhor terá que pesquisar mais, procurar fundos agressivos e, por isso mesmo, arriscados, em empresas gestoras de investimentos. "Os bancos têm uma taxa de administração muito alta. O melhor é optar pelos gestores, buscar fundos multimercado", orienta. De acordo com ele, a quantidade de dinheiro para começar a investir num desses fundos depende de cada gestor. "É preciso pesquisar para encontrar uma opção de acordo com o perfil de cada um."

Para a educadora financeira Naila do Espirito Santo, o ideal é dividir o 13º em três partes: uma para pagar as contas de janeiro, outra para as festas e os presentes e mais uma para poupar com o objetivo de realizar um sonho. "Quem pensa a longo prazo deve guardar uma parte maior", ensina. Especialmente se não tiver dívidas, o dinheiro do trabalhador deve ser canalizado para os investimentos. "No Tesouro Direto é possível escolher opções de aplicação bem variadas", diz José Cézar Castanhar, professor de finanças da FGV. Outra vantagem é que a taxa de administração é bem menor que a cobrada por corretoras e pelos bancos. "O Tesouro admite aplicações com valores a partir de R$ 100", avisa.
FONTE: ESTADO DE MINAS

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