A gravadora lançou mais de 100 discos entre 1967 e o início da década de 1980. O primeiro, Onze sambas e uma capoeira, reunia, em 12 faixas, os irmãos Chico e Cristina Buarque e Adauto Santos interpretando a obra de Paulo Vanzolini. Uma das raridades desta gravadora em que, afinal de contas, tudo é raridade, é a estreia fonográfica conjunta de Chico Maranhão e Renato Teixeira, o terceiro disco brinde distribuído pela agência de publicidade de Marcus Pereira a seus clientes por ocasião das festas de fim de ano. Logo ele abandonaria a publicidade, dedicando-se exclusivamente à gravadora, passando a realizar talvez o mais importante mapeamento musical brasileiro da história. Algumas dezenas de discos e pouco mais de uma década depois, acossado por dívidas, Marcus Pereira se suicidaria.
Foi ele o responsável pelo lançamento de algumas pérolas do cancioneiro nacional: Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, Arthur Moreira Lima, Banda de Pífanos de Caruaru, Canhoto da Paraíba, Carlos Poyares, Cartola, Celso Machado, Chico Buarque, Dércio Marques, Dilermando Reis, Donga, Doroty Marques, Elomar, Luperce Miranda, Marcus Vinicius, Paulo Bellinati (do Pau Brasil), Paulo Vanzolini, Quinteto Armorial, Quinteto Villa-Lobos e Sérgio Ricardo, entre outros, tiveram álbuns lançados pela Discos Marcus Pereira.
Lances de agora. Capa. Reprodução
Os maranhenses Irene Portela, Papete eChico Maranhão lançaram discos pelo selo. A codoense lançou Rumo Norte em 1979, entre repertório autoral e regravações de João do Vale; no ano anterior o visionário Marcus Pereira lançou Bandeira de aço eLances de agora, ambos citados entre os 12 discos mais lembrados da música do Maranhão, em enquete do jornal Vias de Fato.
Rumo Norte. Capa. Reprodução
Por lá Papete lançaria ainda Água de coco,Berimbau e percussão e Voz dos arvoredos; Chico Maranhão, além do disco brinde dividido com Renato Teixeira e de Lances de agora, lançaria ainda Maranhão(comumente conhecido como Gabriela, por seu frevo-título), e Fonte nova.
O acervo da gravadora Marcus Pereira está com a Universal Music (que adquiriu a EMI), que não tem interesse comercial em relançar este precioso catálogo, ao menos não com a urgência necessária. “Grande parte da música brasileira está simplesmente se perdendo por não haver interesse comercial”, declarou-me o jornalista Eduardo Magossi, que aborda a história da gravadora em sua tese de mestrado. Ele foi o responsável pelo relançamento dos quatro discos da série História das Escolas de Samba, dedicados à Mangueira, Portela, Império Serrano e Salgueiro e anuncia novidades para 2016, sem adiantar que títulos serão relançados.
Bandeira de aço. Capa. Reprodução
De um lado burocratas preocupados apenas com lucros de grandes companhias, de outro lado o poder público despreocupado com este imenso patrimônio cultural. Enquanto isso, viva a iniciativa do anônimo que decidiu disponibilizar esta valiosa coleção, de audição obrigatória para qualquer interessado em música brasileira.
[Update: Recomendando-me este texto de sua autoria o jornalista Eduardo Magossi alertou-me de uma incorreção no texto, aqui corrigido às 14h13; o primeiro disco lançado por Marcus Pereira foi Onze sambas e uma capoeira, e não a estreia fonográfica conjunta de Chico Maranhão e Renato Teixeira]
fonte:Homem de vícios antigos
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