Dois metros de altitude: 1,77 m dela mesma, 13 cm de salto de sapato e 10 cm do coque
O DIA
Elke foi a primeira mulher a vestir o fardão da Academia Brasileira de Letras. Isso foi em 1973, dez anos antes da eleição de Rachel de Queiroz. O fato histórico ocorreu quando Austregésilo de Athayde (que presidiu a veneranda instituição por 34 anos) aceitou o convite para dar uma entrevista para o ‘Pasquim’. Nunca imaginamos que ele topasse falar para o jornaleco que fazia da ABL um dos alvos prediletos das suas chacotas.
Foi publicada no nº 210, de junho de 1973. Quando liguei para solicitar a entrevista, apenas quis saber quais seriam os participantes. “Millôr, Ivan Lessa, eu e Elke Maravilha”, respondi, achando que iria estranhar a inclusão da moça. “Tudo bem. Mas preferiria que fosse apenas a Elke”, comentou. Ela foi de meias roxas, algumas tiras de couro fazendo as vezes de saia, um colete branco mais peludo que gato angorá, sapatos duplex, tipo Carmen Miranda, os cabelos enrolados em coque. Dois metros de altitude: 1,77 m dela mesma, 13 cm de salto de sapato e 10 cm do coque).
Elke foi chegando e estalando na testa do presidente da ABL um beijaço bem vermelho. “O senhor não vai tirar a marca de batom?”, alguém perguntou. “Não, isso para mim, na minha idade, vale como uma condecoração.” E não se fez de rogado em posar para fotos com a musa. Quando saímos, três horas depois, Elke resumiu: “Ele é um sarro!”
Ela fez só duas intervenções: “Seu Astr, Astral...” Todos: “Austregésilo!” Elke: “É um nome muito difícil...” Austregésilo: “É mesmo. Pode me chamar de Joaquim Silva.” Elke: “Olha, Seu Joaquim, por que aqui não tem nenhuma acadêmica?” Austregésilo explicou: “Machado de Assis seguiu o modelo francês. A Academia francesa foi fundada em 1635 e nunca aceitou mulheres.” Elke quis saber qual era seu signo. “Eu sou de Libra, minha filha.” Elke: “Já vi tudo! Ganha sempre pela palavra.” O imortal também deve ter achado a Elke um sarro. Dos participantes da entrevista, sou o único sobrevivente!
Jaguar
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