Estou aqui a
passar saborosamente a língua no Maranhão. Das águas pardas do Mearim aos
mistérios da Ilha do Amor; o que me fascina são os falares do povo em seus
diferentes sotaques e sabores que me deixam encabulado. Dizem que a vida do
escritor é marocá a vida alheia, isso me dá uma arrilia com vontade de dále um bogue no primeiro
abestado que me vem com essa história.
Lembro bem dos
meus tempos de minino, lá pelos meus 17
ou 18 anos, quando ficava invocado comigo próprio, pegava minha
bicicleta e saia zilado lá por mufumbo, a rua dos prazeres, atrás de uma
nigrinha para queimar incenso no altar de Vênus. Hen-heim... Tempo bom aquele
em que se podia viver na bagaceira com segurança, hoje se você for bem aí na
praça de Santa Terezinha, se lasca todinho pois os meninos sabidos botam é pra
escatitar, são cão chupando manga, É o preço do progresso.
Nos finais de
semana colocava uma roupa nova e ia pra beira rio escritinho um artista de
novela, lembro de Luzanira, musa da união artística e operária bacabalense que
dizia:
_ Éguaaasss
Zezinho! Tá bunito como quê!
Eu ria
desconfiado e tímido. Queria mesmo encontrar meus parceiros, tentar entrar de
graça no Cassino da Urca, curtir as pedras naquela época tinha outro sentido.
Saíamos da festa urrando de fome. Era comum
“encostar” brocado, em alguma banca pra traçar uma panelada com farinha
e molho de pimenta. Defronte das bancas,
as vezes dava uma cascaria, era o maior furdunço. Tinha gente que nessas
horas falava mais que a nêga do leite, se estivesse no banheiro eu sempre
corria com o riri da calça aberto, nem terminava de rangar.
Esses fatos me
fazem lembrar o Jornalista Elbio Carvalho com sua cara de anjo barroco que fez
dieta, foi ele que sistematizou o que sei sobre jornalismo. A equipe de uma
conceituada televisão recebeu um repórter global para uma capacitação. O nobre jornalista global sempre ouvira falar
da exótica culinária maranhense, provou o arroz de cuxá, mas queria
experimentar algo picante, não é que a galera da Ilha resolveram fazer uma
fuleragem com o rapaz, e disseram:
_ Piqueno, vai
lá no Centro Histórico, e pede um dos mais exóticos pratos maranhenses, o
qualira! Tú vai gostar muuuiito....
_É mesmo? –
Indagou o carioca curioso. – o que é mesmo um qualira?
_ Vai, come
que tu vai gostar...
Logo mais à
noite o global repórter foi ao reviver apreciar o movimento, sentir o cheiro
das pessoas, viver a maranhensidade. Bumba-meu-boi em seus diversos sotaques, a
magia discreta do tambor de crioula, a sensualidade do cacuriá de dona Teté a
ginga da capoeira, a sensibilidade transcendental dos nossos poetas. Uma dose
de catuaba para desopilar o espírito, etc e tal..., mas ficou brocado e recebeu
sentar no melhor restaurante da área para comer alguma coisa:
_ Garçom, por
gentileza!
_Pois não –
Respondeu prestativo o garçom.
_ Gostaria de
comer alguma coisa
_ Temos peixe
a escabeche...
_Eu
quero comer um qualira. – Disse o jornalista cortando a fala do garçom
_Como meu
senhor?
_Eu quero
comer um qualira. – Respondeu o turista em alto e bom som a chamar atenção da
mesa ao lado.
Risos...
Uma voz solta
uma pérola do fundo do restaurante:
_ Serve pra
ele um qualira a escabeche!...
Risos...
Risos... Risos...O turista ficou desconfiado que fez alguma besteira.
_Marrapá! –
Falou o garçom – Te sai de boca, não
somos homofobicos, mas aqui nos terreiros do mará, qualira é o que mais tem, tu
que sabe se troca uma pequena nigrinha por um qualira...
O Turista
olhou ao redor e viu vários qualiras, a ficha caiu e compreendeu o mingué em que acreditou. O cheiro de peixe
vinha da mesa ao lado. Degustou com os olhos e falou:
_ Traga um, a
escabeche!...
Maranhês, Eita língua! Agora é tarde, morreu Maria Preá.
Maranhês, Eita língua! Agora é tarde, morreu Maria Preá.
Zezinho Casanova
Veja no Link acima um pequeno dicionário de Maranhês.
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