Denise Rothenburg e Alana Rizzo no Correio Braziliense
Nesta entrevista ao Correio, ele conta
que está empenhado em buscar o que considera sua principal missão:
convencer a sociedade brasileira de que a maior batalha da Copa é a da
imagem que o país deixará ao mundo. “Temos hoje a imagem de um país
festeiro e acolhedor. Se conseguirmos agregar a isso a imagem de
eficiência e competência, estaremos cumprindo o maior legado da Copa
para a nossa e para, pelo menos, duas gerações. Essa é a nossa batalha”,
diz. A seguir os principais pontos da entrevista.
Correio: A operação da PF no Ministério do Turismo e as denúncias afetaram também o trabalho da Embratur?
Flávio Dino: Não houve
nada relacionado à Embratur. Evidente que houve um questionamento do
modelo e a minha preocupação principal nesse momento é mostrar que uma
coisa são as irregularidades que devem ser apuradas, investigadas e
combatidas, sobretudo nessas parcerias público-privadas. Outra coisa é o
modelo da política pública de turismo. Se tem coisas erradas, devem ser
corrigidas. Portanto, determinei uma auditoria aqui na Embratur para
apuração. Isso está em curso e termina em 30 dias. O que a gente precisa
aperfeiçoar? Primeiro, como essas entidades são selecionadas. Baixei
uma portaria para que sejam selecionadas exclusivamente por chamamento
público, que é uma espécie de licitação com outro nome, porque o aspecto
fundamental é o mesmo: a publicidade e um critério objetivo de seleção
para fazer convênios.
No caso da Operação Voucher ficou muito
claro que há um novo modelo de fraude baseado em ONGs, que não são mais
fantasmas, têm sede e são regularizadas, mas fraudam os contratos.
Por isso, falei de duas coisas que
precisam ser melhor reguladas. Uma é a seleção. A segunda é justamente
essa: acompanhamento, monitoramento e controle. As fraudes estão em dois
âmbitos: na má seleção, de entidades que não têm capacidade de executar
o convênio ou, às vezes, nem existem mesmo; e está também nessa
necessidade de haver uma prestação de contas mais aperfeiçoada.
O senhor tem braços para isso? O que mais se ouve nos ministérios é que não há gente para controle, para fiscalização…
É um fato. Pedi a colaboração da CGU
(Controladoria-Geral da União) e, ao mesmo tempo, estou num movimento no
governo para que haja nomeação dos nossos funcionários para recompor as
equipes. Temos um concurso já homologado para 84 pessoas. Em termos de
servidores efetivos isso vai triplicar o contingente atual da Embratur,
uma vez que temos só 40 concursados.
O chamamento público não esbarra
ainda nas emendas parlamentares, que já vêm voltadas para determinados
institutos, como foi o caso da emenda da deputada Fátima Pelaes?
O Poder Executivo não é obrigado a
seguir essa indicação. Qual é a prerrogativa do parlamentar? Alocar o
recurso para uma determinada ação ou programa, vinculado a um estado.
Disso, o Poder Executivo não pode fugir. Mas ele não é obrigado a dizer
se quem vai executar é a entidade x ou y, ou seja, não há
incompatibilidade entre emenda parlamentar e chamamento público.
Isso pode causar uma certa indignação dos parlamentares que direcionam as suas emendas?
Acredito que não. É mais uma questão de
conversar. A função principal das emendas, que deve ser preservada, é
garantir uma alocação de recursos mais democrática, levando em conta a
grandeza do Brasil, a sua pluralidade. O que fugir disso, o que visar
exatamente a realização de um negócio ilegal, obviamente deve ser
combatido por todos, inclusive pelo parlamento.
Qual o orçamento que o senhor tem para tocar esses projetos?
Nas atividades fins da Embratur, temos
R$ 180 milhões, de promoção internacional, que é dividida em três
mercados: o europeu, o latino-americano e o norte-americano. Há uma
rubrica nova, outros mercados, como Oriente Médio e Ásia. Mas as ações
principais são concentradas nos três primeiros.
Como está o combate ao turismo sexual no Brasil?
Temos uma distinção: consideramos que
sequer isso pode ser classificado como turismo. Isso é crime e,
portanto, o nosso tratamento deve ser levando em conta esse conceito.
Como não é turismo, é crime, logo, é um assunto de repressão. Da nossa
parte, há uma preocupação de dissociar o Brasil dessa imagem, de destino
de exploração de mulheres, crianças e adolescentes. Nossa propaganda
hoje não tem qualquer tipo de conotação e de apelo para essa dimensão,
da beleza do nosso povo.
O senhor tem conversado com o ministro da Justiça ou a ministra Maria do Rosário sobre esse assunto?
Almocei essa semana com o ministro José
Eduardo Cardozo (Justiça). Um dos assuntos foi esse. A Polícia Federal
terá orientação específica para monitoramento de empresas brasileiras
que atuam nesse setor. No caso da Embratur, o que é crime encaminhamos
para a Polícia. Na parte de promoção, deixamos claro que o Brasil não é
um destino amigável para esse tipo de conduta.
Por que é tão difícil combater essa ideia e esse crime?
Durante muito tempo, era essa a imagem
do Brasil no mundo, de o país da festa, do congraçamento sem fronteiras.
A gente lida com a imagem dos outros sobre o Brasil. Os megaeventos são
importantes em si mesmos, porque geram empregos e renda. O mais
importante é qual a imagem que ficará do Brasil depois dos megaeventos?
Nós, Embratur, imaginamos que o nosso objetivo é consolidar essas marcas
que o país já conhece, de natureza exuberante, de um povo cordial,
amável. Mas, sobretudo, um país eficiente, moderno, competente e
realizador. Só durante a Copa, de telespectadores acumulados, serão 26
bilhões de pessoas durante os 30 dias do evento. Com efeito internet,
rádio, TV jornal, se a gente falar de 200 bilhões de notícias sobre o
Brasil não é absurdo.
Não há temor sobre um caos aéreo, com atraso nas obras em aeroportos?
Tenho absoluta certeza de que não será o
caos. E não só de expectativa, de torcida. É científica. O Brasil faz
grandes eventos com grande sucesso. Temos que calibrar as expectativas. O
legado de imagem, que está para adiante, é uma disputa que valerá por
20, 30, 40 anos. É essa disputa que tenho enfatizado como a principal e
deve ser incorporada por toda a sociedade brasileira.
Há pouco tempo, a Argentina recebia mais turistas que o Brasil. Por que não conseguimos atrair estrangeiros por seus resorts?
Primeiro, a localização geográfica. A
teoria mostra que o turismo é intrarregional. Cerca de 80% do turismo
europeu é feito por nativos. No Caribe, é movimentado por Estados Unidos
e Canadá, grandes emissivos. A América do Sul sempre atravessou
turbulência política, dificuldades econômicas e uma péssima distribuição
de riqueza. Além disso, há as barreiras naturais: A Floreta Amazônica e
a Cordilheira dos Andes. Ou seja, o turismo intrarregional na América
do Sul nunca foi muito forte. O relatório da Organização Mundial do
Turismo, divulgado ontem, mostra que o continente no qual mais cresceu o
turismo no mundo foi a América do Sul. Temos problemas de qualificação,
de serviços, de produtos. Tudo isso é um desafio permanente. Em 2011,
vamos chegar a 5,5 milhões de turistas estrangeiros e US$ 6,5 bilhões de
divisas oriundas do turismo. São os melhores números do Brasil, mas
aquém do que exportaremos.
E a questão do visto?
Preocupa muito. É uma barreira
burocrática, que o próprio trade turístico norte-americano questiona o
Departamento de Estado, tendo em vista a importância do Brasil no
mercado de lá. A tendência é: ou eliminar ou facilitar. O visto, além de
uma barreira burocrática, é uma barreira econômica, porque é caro,
custa US$ 130.
E a questão da segurança pública?
Fazemos uma pesquisa com estrangeiros
saindo do Brasil. A segurança não figura entre as cinco maiores
preocupações. A primeira reclamação é a sinalização turística. Se
olharmos Brasília, capital da República, não tem nem uma placa em
inglês. A gente não nota, mas eles notam. A segunda, rodovias. Tem ainda
idioma e aeroportos.






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