Dalai Lama prega secularismo moral para milhares de pessoas em SP e diz que corrupção é como o novo cancer
Em palestra pública para milhares de
pessoas na manhã deste sábado, o Dalai Lama, líder tibetano do budismo,
afirmou que, aos 67, já está próximo de dar seu adeus, e insistiu no
legado da moralidade secular como forma de promover o entendimento e a
paz no mundo nas próximas gerações.
Segundo ele, a religiosidade é uma
questão de foro íntimo e cada um deve escolher a crença que melhor lhe
couber, inclusive nenhuma. Mas os indivíduos e o sistema educacional
devem cultivar valores maiores, em vez de buscar apenas o conhecimento e
o avanço material.
À tarde, o último compromisso do líder
religioso no Brasil será uma palestra no Sheraton WTC sobre o cultivo
das emoções positivas, na qual está confirmada a presença do ex-jogador
de futebol, Ronaldo, e sua mulher, Bia. Na quinta ele havia se reunido
com empresários e, na sexta, participou de um simpósio científico.
Tenzin Gyatsu, o 14º Dalai Lama, foi
recebido com aplausos hoje no pavilhão de convenções do Anhembi, em São
Paulo. Porém, a recepção ao prefeito Gilberto Kassab foi menos calorosa:
muitos vaiaram o político, que foi receber o katag (lenço branco
oferecido em saudações budistas).
No meio de seu discurso, o próprio Dalai
perguntou ao público se havia muita corrupção no Brasil e em São Paulo,
ao que boa parte reagiu com braços abertos e gritos de “muita” e “very
much”!
– A corrupção é como um novo câncer da
humanidade. Ela se alastrou pelo ocidente e oriente. A corrupção foi
crescendo ao lado do avanço material. Como é a situação no Brasil e em
São Paulo? Ela existe? _ perguntou o Dalai Lama, que também quis saber
da platéia sobre a distribuição de renda no país.
Porém, a mensagem que o líder budista
quis imprimir foi a de um legado de secularismo, ao qual fez uma única
ressalva, o “secularismo enviesado do comunismo”, em alusão à China, que
ocupa sua terra natal, o Tibete.
– Há muitos aqui que têm entre 20 e 30
anos. Minha geração está pronta para dizer tchau e ir embora. Mas vocês
que são a geração deste século e precisam assumir a responsabilidade e
encontrar uma forma para criar um mundo pacífico e compassivo — disse.
O líder explicou que a maior parte da
população mundial hoje não está ativamente engajada em práticas
religiosas. Portanto, para cultivar bons valores morais, o secularismo
seria o mais adequado, apesar de ele defender o espírito de “renúncia”
das religiões teístas e os princípios de promoção dos bons atos das
tradições não-teístas, como o budismo.
– Grande parcela da humanidade não tem
interesse por uma fé religiosa. Essa é a realidade. Se uma pessoa tem
uma crença, isso é questão de foro intimo. Mas não podemos negar que os
não-crentes também fazem parte da humanidade. Para eles, a paz interior,
a felicidade e a alegria também são valores importantes (…) O cultivo
de valores internos formam a base da vida feliz. Isso deve ser feito
através da educação, não pela pregação (religiosa). É importante que
esses conceitos tenham abrangência universal — disse o Dalai Lama.
– Precisamos ensinar, do jardim de
infância até a faculdade, que a moralidade é o caminho da felicidade. O
sistema educacional moderno presta somente atenção no desenvolvimento do
cérebro e não o desenvolvimento moral — completou.
Ele também citou a Guerra no Afeganistão
como um exemplo de que os caminhos da violência são infrutíferos e
passou a pregar pela desmilitarização mundial, que segundo ele começa
com o “desarmamento interno”.
– Para que se possa alcançar um
desarmamento externo, precisamos fazer um desarmamento interno. A raiva,
o ódio, o medo e a ganância são as causas primeiras da violência. É
importante prestar mais atenção ao nosso mundo interno emocional. A
partir da nossa capacidade de lidar com essas emoções negativas, podemos
levar o desarmamento externo a acontecer.
Quem é o Dalai Lama
O Dalai Lama é o
título de uma linhagem de líderes religiosos da escola Gelug do budismo
tibetano, tratando-se de um monge e lama, reconhecido por todas as
escolas do budismo tibetano. Também foram os líderes políticos
do Tibete entre os século XVII até 1959, residindo em Lhasa. O Dalai
Lama é também o líder oficial do governo tibetano em exílio,
ou Administração Central Tibetana. “Lama” é um termo geral que se refere
aos professores budistas tibetanos. O atual Dalai Lama é muitas vezes
chamado de “Sua Santidade” por ocidentais, embora este pronome de
tratamento não exista no tibetano, não se tratando de uma tradução.
Tibetanos podem referir-se a ele através de epítetos tais como Gyawa Rinpoche que significa “grande protetor”, ou Yeshe Norbu, a “grande joia”.
Acredita-se que o Dalai Lama seja
a reencarnação de uma longa linha de tulkus, que optaram pela
reencarnação, a fim de esclarecer a humanidade. O Dalai Lama é muitas
vezes considerado o chefe da Escola Gelug, mas esta posição oficialmente
pertence ao Ganden Tripa, que é uma posição temporária nomeada pelo
Dalai Lama (que, na prática, exerce mais influência). Dalai significa “Oceano” emmongol e “Lama” é a palavra tibetana para mestre, guru,
e várias vezes referido por “Oceano de Sabedoria”, um título dado pelo
regime mongoliano a Altan Khan (o terceiro Dalai Lama) e agora aplicado a
cada encarnação na sua linhagem. Os dalai lamas são mostrados como
sendo a manifestação de Avalokiteshvara, o Bodhisattva da Compaixão, cujo o nome é Chenrezig em
tibetano. Após a morte do Dalai Lama, uma pesquisa é instituída pelos
seus monges para descobrir o seu renascimento, ou tulku.
agência Globo com informações do Wikipédia
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