terça-feira, 13 de setembro de 2011

Australopitecus sediba pode ser o mais antigo ancestral do homem




 (DIVULGAÇÃO)

Há séculos, os cientistas tentam reconstruir a história da humanidade e responder a uma pergunta fundamental: como e quando o Homo sapiens surgiu? Agora, uma nova peça mais especificamente dois esqueletos fossilizados encontrados em 2008 em uma caverna na África do Sul parece embaralhar ainda mais o complexo quebra-cabeças montado pelos cientistas até hoje. O conjunto de ossos transformados em pedra há quase 2 milhões de anos guarda características semelhantes às dos hominídeos modernos, apesar de ainda apresentar traços como os encontrados nas espécies mais arcaicas. Seria esse, então, o ancestral mais antigo do homem, aquele que deu origem aos hominídeos e permitiu que o Homo sapiens reinasse mais tarde sobre a Terra? Essa é uma pergunta ainda sem resposta e sobre a qual os especialistas devem se debruçar nos próximos anos.

A primeira grande descrição desse importante conjunto de ossos está publicado na forma de um especial de cinco artigos na edição de hoje da revista científica Science. O que mais intriga os cientistas em relação a essa espécie, batizada de Australopitecus sediba, são suas características morfológicas, por vezes opostas do ponto de vista evolutivo. Ao mesmo tempo em que possui semelhanças aos hominídeos que originaram o Homo sapiens como os dedos curtos com falanges menos curvadas, pés indicando que eram bípedes e estrutura muscular dos braços semelhante às dos homens, ela traz traços que os distanciam da linhagem humana, como o cérebro relativamente pequeno, o tornozelo muito fino e uma capacidade de caminhar reduzida, além de um quadril menos largo. Fósseis mostram um cérebro pequeno, mas surpreendentemente avançado; uma mão muito evoluída, com um polegar longo como o de um ser humano; e uma pélvis muito moderna. Mas, ao mesmo tempo, possuem uma forma de pé e tornozelo nunca vista em qualquer espécie de hominídeo, afirmou em entrevista à imprensa mundial Lee Berger, pesquisador da Universidade Witwatersrand, na África do Sul, e líder do estudo.Muitas características avançadas encontradas no cérebro e no corpo possivelmente tornam a espécie o melhor candidato a mais antigo ancestral do gênero Homo, mais do que descobertas anteriores, como o Homo habilis, completou.

Classificação
O conjunto inusitado de características faz com que existam diferentes possibilidades de classificação para os vestígios encontrados na caverna de Mapala, no centro-oeste sul-africano: eles poderiam permanecer como restos de uma espécie do gênero Australopitecus, ou ser considerados integrantes do gênero Homo nesse caso, seriam ancestrais do Homo habilis (o hominídeo mais antigo conhecido até agora) ou estarem posicionados entre o habilis e o Homo erectus. CCerca de metade dos nossos colegas concordam que o melhor posicionamento é dentro dos Australopitecus, e cerca de metade sugere que ele deve ser considerado Homo, disse ao Correio o pesquisador Kristian Carlson, da Universidade Witwatersrand, em Joanesburgo, na África do Sul, um dos autores da pesquisa.

Pelo menos até que o impasse seja desfeito, a espécie continua no grupo dos Australopitecus, especialmente em razão do tamanho e formato do crânio. essa foi uma decisão difícil. Por enquanto, isso é algo para o qual não há resposta certa, acrescentou à reportagem o antropólogo Steven Churchill, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. Para nós, o tamanho do cérebro, a pequena estrutura corporal e os braços longos em relação ao tamanho do corpo indicam que esse era um australopitecus com notas de evolução de hominídeos.

Classificações à parte, o importante é que a ciência pode estar diante do primeiro ancestral do homem moderno. Por isso, os fósseis encontrados por acaso por Matthew, filho de 9 anos do pesquisador Lee Berger são tidos por antropólogos e arqueólogos como a maior descoberta da década relacionada à evolução do homem.

O primeiro artigo anunciando a novidade científica também capa da Science foi publicado em abril do ano passado, mas só agora as ossadas foram descritas de maneira completa. Além de um panorama discutindo o posicionamento da espécie na árvore da evolução, dois artigos trazem uma análise detalhada dos ossos da mão, da pélvis e do pé dos dois exemplares: uma mulher adulta e um adolescente do sexo masculino.

O movimento da comunidade científica em torno dos fósseis se deve principalmente ao excelente estado de conservação das amostras, que provavelmente foram arrastadas para o interior da caverna por uma tempestade os dois indivíduos parecem ter morrido em um curto espaço de tempo e cobertas ao longo dos anos por rocha calcária, o que garantiu a preservação dos ossos. Além disso, o período ao qual pertencem, cerca de 1,997 milhão de anos, permanece como uma lacuna para os cientistas. Pouquíssimos e mal conservados fósseis contam a história da evolução nessa época.
Ferramentas
Outro ponto polêmico em relação à espécie está no uso de ferramentas. Até agora, acreditava-se que o primeiro fabricante de ferramentas tenha sido o Homo habilis. Essa crença se baseava em estudos de 21 ossos de mão fossilizados encontrados na Tanzânia, que datam de 1,75 milhão de anos atrás. No entanto, a análise do A. sediba, que viveu pelo menos 200 mil anos antes, mostrou que artefatos de pedra e madeira já poderiam estar sendo utilizados. CEle tem um polegar longo, mas é surpreendente que esse polegar seja ainda mais longo do que os que vemos nos humanos modernos, comentou o pesquisador Tracy Kivell, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha. punho estava mais bem preparado para suportar cargas maiores, tornando-os capazes de agarrar com força, acrescentou.

A descoberta causou tanta reação no meio científico que a revista especializada Nature dedicou espaço na sua edição on-line para discutir a descrição dos fósseis. Na publicação, Donald Johanson, palaeoantropólogo da Universidade Estadual do Arizona, afirma que seria necessária uma comparação de outras partes do corpo da nova espécie para determinar se a espécie era um hominídeo.É possível que estejamos diante de um outro ramo na árvore evolutiva, sugeriu. Já Bernard Wood, paleontólogo da George Washington University, acredita que a nova descoberta abre muitas novas perguntas: e agora em diante, a identificação de ancestrais humanos será muito mais difícil do que era ontem.
FONTE: Correio Braziliense

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