Rosângela Bittar
O ex-deputado Flávio Dino, PCdoB do
Maranhão, presidente da Embratur, acabou transformando-se em um
involuntário símbolo da luta do jovem político brasileiro contra as
ainda poderosas oligarquias nordestinas, uma saga de cordel que começou
há 10 anos e que não para de produzir novos versos.
Embora em aparente declínio, essa, como
todas as sobreviventes, tem um poder ainda extraordinário e suficiente
para sufocar qualquer movimento de oxigenação da prática política.
Vindo de uma vida profissional como
juiz, Flávio Dino foi eleito deputado federal em 2006 e despontou na
eleição municipal de 2008, concorrendo à Prefeitura de São Luís, em
segundo turno, com João Castelo, um dos ícones da política maranhense.
Aliado à esquerda, o deputado passou a desafiar o clã Sarney, liderando
os que abraçaram a causa da resistência à forma como o grupo do
ex-presidente da República, integrado basicamente por sua família,
conduzia os negócios do Estado.
Saindo bem daquele segundo turno de
disputa da prefeitura, Flávio Dino estourou em 2010. Ao disputar o
governo do Estado com Roseana Sarney, que vinha de uma retomada judicial
do gabinete que perdera antes em mais um soluço de desgaste do esquema
político do grupo, Flávio Dino foi derrotado. Mas passou por aquela
experiência do “perder ganhando”: Por apenas oito centésimos, cerca de
2,5 mil votos, perdeu a eleição para governador do Maranhão. Até o
ex-presidente Lula foi apoiar Roseana Sarney e impedir que o PT ficasse
contra os Sarney.
Parte do PT queria apoiar Flávio Dino
oficialmente, em coligação, ou não apoiar oficialmente os Sarney, mas o
partido se dividiu e a metade do petismo sarneysista, com apoio de Lula e
do PT nacional, ganhou a disputa e aliou-se à Roseana depois eleita.
Ainda hoje os petistas no Maranhão estão rachados ao meio: O único
deputado federal eleito, Domingos Dutra, que na campanha chegou a fazer
greve de fome no Congresso Nacional para que houvesse liberdade de
coligação no Maranhão, é do grupo de Dino; um dos três deputados
estaduais do PT eleitos naquela campanha ficou também fora do
sarneysismo.
O líder do PT que ficou contra Dino é
Washington Oliveira, hoje vice-governador de Roseana. Metade do partido
majoritário no poder federal segue com os Sarney, a outra metade com
Flávio Dino e PSB, PDT, PPS.
Para esse grupo, passada a refrega em
que Lula e a cúpula partidária renegaram seus aliados históricos em
favor dos Sarney, foi ministrado um pouco de oxigênio, e o governo deu a
eles a Embratur, hoje presidida por Flávio Dino.
A autarquia foi criada em 1966, faz
agora 45 anos, e concentrava toda a ação governamental na área do
turismo até 2003, quando Lula criou o Ministério do Turismo, mais um na
expansão desordenada do Estado, como fez em várias outras áreas. Nesses
últimos oito anos, ministério e autarquia dividiram suas tarefas.
Enquanto o ministro do Turismo comandou a política interna, a Embratur
ficou com a ação internacional. As famosas emendas parlamentares ao
orçamento da área do turismo, espaço de cultura da corrupção na pasta,
ficam todas com o Ministério, nada com a Embratur.
Assim, mesmo com um adversário
peemedebista do Maranhão no comando, o ex-ministro Pedro Novais, Dino
ficou no cargo e conseguiu levar adiante sua administração. Sob intensa
artilharia e denúncias sucessivas de corrupção, Novais foi um ministro
do Turismo recolhido a seu canto, nem sequer tomou iniciativas
relacionadas à Copa do Mundo, cereja de vários ministérios,
principalmente desse.
Eis porém que, caído Novais, a
presidente Dilma nomeia um ministro do Turismo mais sarneysista ainda, o
deputado Gastão Vieira, e volta a ficar instável a vida política do
grupo de Dino.
A presidência da Embratur é uma nomeação
do ministro chefe da Casa Civil, por delegação da presidente da
República, mas o titular do cargo deve satisfações ao ministro do
Turismo, em cuja órbita se situa a autarquia. Dino despachava pelo menos
uma vez por semana com Novais. Não foi avisado por ninguém da
Presidência, a não ser pelo próprio Gastão, em telefonema à meia noite,
após sair do Palácio da Alvorada quando recebeu o convite, que passaria a
dever vassalagem a um possível algoz político mais característico que o
anterior.
Nem Flávio Dino nem Gastão Vieira dão
sinais, no momento, de que o desenlace está próximo. O ministro o avisou
que fora nomeado, o que não deixa de ser uma deferência, e tem
despachado com ele rotineiramente. O presidente da Embratur, que tem
orçamento, administração e pessoal próprios, não viu problemas até o
momento nessa convivência e acha que o trabalho está fluindo.
Mas fora dessa cena oficial, começam a
surgir pressões para que Flávio Dino desista finalmente do cargo que
ocupa. Inclusive têm sido difundidas informações, originadas no PMDB, de
que, sendo impossível, por definição e erro de origem, a convivência
entre o ministro do Turismo e o presidente da Embratur, este teria que
ceder o posto. Até porque, de certa forma, a Embratur lhe dá um palanque
mínimo para uma candidatura em futuro próximo.
As pesquisas no Maranhão dão a Flávio
Dino a liderança. Há, nesses índices, muito de recall da campanha de
2010. Mas esta é uma definição adiada pelo grupo de Dino, por duas
razões: primeiro porque no seu campo político há vários outros
pré-candidatos a prefeito. E segundo porque seu interesse está todo
concentrado na disputa pelo governo do Estado, em 2014. Prepara-se para
buscar os oito centésimos de votos que lhe faltaram em 2010.
* Rosângela Bittar é chefe da Redação do Valor Econômico em Brasília.
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