Foto: divulgação/Cimi
Depois da
detenção de dois “mateiros” – indivíduos que marcam as árvores para a
derrubada – dentro da Terra Indígena Caru, oeste do Maranhão (MA), a
tensão tomou conta do povo Awá-Guajá e de seus apoiadores. A base do
Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na aldeia foi atacada e os
indígenas não podem entrar na mata sob pena de morte. A ação de
madeireiros não é novidade dentro do território, já demarcado e
homologado.
Indígenas não podem entrar na mata sob pena de morte -
Povo caçador e coletor, os Awá convivem com a ameaça e presença dos
invasores há anos. De acordo com os relatos dos indígenas, cerca de 40
caminhões, cinco tratores e uma tropa de mateiros atuam diariamente
dentro da floresta.
No final do mês passado, os Awá e o Cimi mais uma vez denunciaram os
madeireiros, mas dessa vez para a Frente de Proteção Etnoambiental
Awá-Guajá, criada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em tempos
recentes.
A Frente organizou uma operação que reúne o Ibama, a Polícia Federal
(PF), Polícia Rodoviária Federal, entre outros, para combater a extração
ilegal de madeira na região. Guiado pelos indígenas, um grupo desta
operação realizou a detenção dos dois mateiros para averiguação. A
notícia logo se espalhou e os primeiros sinais de que os madeireiros
revidariam foram disparos de arma de fogo dentro da mata ao redor da
aldeia.
Os indígenas, receosos por ações mais violentas dos madeireiros, chegaram a recolher mulheres e crianças à floresta, além de produzirem flechas como preparativo para um possível ataque. Logo a situação ficou mais grave, como era esperado.
Os indígenas, receosos por ações mais violentas dos madeireiros, chegaram a recolher mulheres e crianças à floresta, além de produzirem flechas como preparativo para um possível ataque. Logo a situação ficou mais grave, como era esperado.
No dia 3 de setembro, a base do Cimi na aldeia Awá foi atacada;
documentos, materiais e arquivos acabaram incendiados e a casa só não
foi completamente destruída por conta dos próprios Awá-Guajá, que
impediram a continuação do atentado. Conforme os indígenas relataram, o
ataque foi feito por dois outros Awá, cooptados pelos madeireiros.
“A questão da madeira está dentro da aldeia, com o assédio dos
madeireiros. Oferecem motos para os indígenas, presentes dentro da Terra
Indígena Caru. Dessa forma, alguns indígenas acabam cooptados”, explica
a missionária Rosane Diniz, do Cimi. Por sorte, nos instantes do ataque
ela e outra missionária estavam na aldeia Tiracambú, distante 15 km da
aldeia Awá. A comunidade se reuniu e pediu ao Cimi que permaneça no
território.
Ausência da Funai
Para indígenas e missionários, a ausência e omissão da Funai motivam a
invasão do território, bem como as ameaças e assédios. Rosana afirma
que quando chegaram nos Awá, no final do mês passado em visita
periódica, encontraram o povo completamente abandonado. Madeireiros
armados circulam livres e sem qualquer impedimento pelas aldeias.
“A casa de farinha e a máquina de pilar arroz com problemas, sem
previsão de conserto, equipamentos mínimos em falta e os relatos dos
caçadores sobre os madeireiros mostram o descaso da Funai”, diz.
Sem fiscalização e maior presença do Governo Federal e do órgão
indigenista, madeireiros fazem a retirada dos imensos troncos de árvores
derrubadas do Território Indígena sem maiores problemas. Os indígenas
cobram fiscalização permanente na área, tanto do Ibama como da Funai.
A Terra Indígena Caru tem 170 mil hectares. Lá vivem 300 indígenas
divididos em três aldeias: Awá, Tiracambú e Juriti. Na área vivem também
povos em situação voluntária de isolamento, altamente ameaçados pelos
invasores. O território abrange o município de Bom Jardim e os povoados
de Alto Alegre do Pindaré. “A gente defende que tem que haver processo
de fiscalização permanente. Sem isso, a comunidade se torna alvo”,
defende Rosana.
Com a ausência efetiva dos órgãos governamentais, indivíduos saem dos
povoados e atuam junto aos índios dizendo que podem fazer o que a Funai
não faz. Dão cestas básicas, presentes, levam para o outro lado do rio
Pindaré. De acordo com indígenas Awá, os índios que atacaram a casa do
Cimi foram “presenteados” com motocicletas.
Grandes roças também são abertas pelos invasores, em detrimento da
mata nativa. O resultado é a caça rareada e a poluição das águas:
igarapés são assoreados para que tratores sejam lavados na beira dos
rios. Essa época do ano é também período de se colher e comer mel entre
os Awá: estão impedidos porque a floresta agora não representa mais
vida, mas morte.
“Para acertar a Funai decidiu mandar cestas básicas para o povo não
ter que correr risco na mata. Como pode fazer isso com um povo caçador e
coletor? O órgão deveria era proteger a área dos Awá para que a cultura
e o modo de vida deles sejam garantidos”, ataca a missionária.
Entre os Awá, tudo se resume numa frase: “Naxatarihi areka’a mama ta”
que em português significa: “Não queremos ver a destruição da nossa
floresta!”.
A reportagem procurou o coordenador da Frente de Proteção
Etnoambiental Awá-Guajá para saber quais medidas de proteção estão sendo
tomadas, mas não o localizou nos dois telefones disponíveis. Até o
momento, não há informações se alguma equipe da Funai se deslocou para o
Território Indígena. O Ministério Público Federal (MPF) já tomou
conhecimento da situação
0 comentários:
Postar um comentário