A mortalidade infantil e materna vem
caindo no Brasil, mas, quando se considera apenas o universo de mães
adolescentes, a taxa ficou estável durante 13 anos. A constatação está
no Estudo sobre as Políticas Públicas de Proteção à Saúde Infantil e
Materna no Brasil: um Olhar Especial para os Filhos de Mães
Adolescentes, elaborado pela organização não governamental (ONG) Visão
Mundial, a partir de dados secundários de pesquisas de institutos e
universidades públicas.
O levantamento mostra que as mortes de
adolescentes gestantes com menos de 19 anos (236 casos) aconteceram por
complicações na gravidez, no parto, ou no pós-parto. No caso das mortes
de crianças, os dados revelam que, dos 42.684 meninos e meninas com
menos de 1 ano que morreram em 2009, 7.917 eram filhos de adolescentes
com menos de 19 anos, ou seja, 20% dos casos, a mesma taxa de 13 anos
atrás.
“Tanto na mortalidade materna quanto infantil, 60% das mortes seriam
evitáveis se houvesse política ou ação mais específica de pré-natal
contextualizado para grupo adolescente”, ressaltou Neilza Costa,
coordenadora técnica da campanha Saúde para as Crianças Primeiro,
promovida pela ONG.
Mesmo alertando para a estagnação do
número de mortes de filhos de adolescentes e das brasileiras que
engravidaram com idade entre 10 e 19 anos, o levantamento da ONG Visão
Mundial, que, entre as mães de todas as idades, os índices de
mortalidade vêm caindo e que o país deve conseguir cumprir a quarta Meta
do Milênio, de reduzir a mortalidade na infância.
O estudo reforça ainda uma conhecida e
estreita relação entre renda e taxas tanto de mortalidade infantil
quanto materna, e de gravidez na adolescência, que é um fator de risco
de morte da criança e da mãe. Uma das pesquisas relacionadas no
levantamento foi realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), em 2010, e revela que 18% das meninas com renda per capita de
até meio salário mínimo têm pelo menos um filho, enquanto apenas 1% das
meninas com renda acima de cinco salários mínimos têm filhos.
Neilza explica que as realidades são bem
distintas, por falta de oportunidades, informação e um apoio mais
específico das políticas públicas. “A adolescente engravida por uma
série de razões, nem sempre a gravidez na adolescência é indesejada. Por
exemplo, pela limitação de oportunidades que é dada dentro de seu
contexto socioeconômico, ela traça como projeto de vida uma gravidez
como um projeto factível. Uma adolescente, de Salvador, assumiu para um
dos nossos grupos de trabalho que engravidou de forma planejada porque
em sua casa só tinha uma cama e a irmã dela que havia engravidado e teve
direito, depois da gravidez de dormir na cama. Ela queria o mesmo
privilégio”, relatou a coordenadora da Campanha.
No caso de D., que ainda não completou 18
anos, a chegada da filha, no ano passado, não foi planejada. O medo e a
vergonha fizeram a adolescente começar tardiamente o pré-natal e
cogitar a possibilidade de aborto. “Eu não queria o nenê, queria tirar.
Mas, depois que minha mãe soube, ela falou que não era para eu tirar
porque daria tudo errado e eu não tirei. Minha colega, quando
engravidou, tinha 14 anos e tirou o nenê e passou mal à beça. Quando eu
engravidei ela falou: ‘Você é maluca de ter filho! Tira!’”. No último
sábado (3) D. comemorou o aniversário de 1 ano de idade da filha.
As tentativas de aborto são outro
destaque do estudo, que defende a elaboração de uma política específica
para adolescentes em vez da simples orientação passada para as equipes
de atenção básica em saúde.
Até o fechamento da matéria, o Ministério da Saúde não tinha se pronunciado sobre o estudo.
Fonte: Agência Brasil
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