terça-feira, 25 de maio de 2010

Chico atuou nos bastidores de superprodução

POR KAMILLE VIOLA
Rio - Um ‘diretor invisível’ foi responsável pelas cenas mais emocionantes de uma superprodução que estreia hoje em 340 cinemas Brasil afora. O elenco de ‘Chico Xavier’ garante que o médium esteve no set de filmagem — e até quem não é espírita sentiu sua ‘atuação’. O mineiro, que completaria 100 anos hoje, ainda faz arrepiar Nelson Xavier — um dos atores que lhe deram vida na telona —, quando ele conta as experiências.
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Nelson, que interpreta o espírita na sua fase mais madura, até dá o testemunho de alguns fenômenos. “Foi uma revolução na minha vida. A gente precisa acreditar no amor. A gente não pode sair ileso disso, nem ignorá-lo. Eu tinha uma cena para fazer e me emocionava muito mais do que o previsto”, lembra o ator.

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O ator acrescenta que o espírito de Chico o acompanhou. “Eu estava no intervalo conversando com a Renata Imbriani, que fazia uma mãe que recebia a carta de um filho morto, e ela disse: ‘Ele está aí ao seu lado.’ Eu caí em prantos”, conta Nelson. “Ele esteve mesmo presente. Essa emoção é que me conduziu, mais do qualquer outra coisa”, diz ele, que se emociona sempre que fala da experiência de participar do longa.

O diretor Daniel Filho também relata a ‘participação’ de Chico e de outros espíritos. “Na cena da desobsessão, o Ângelo (Antonio, que faz o médium quando jovem) começou a rezar e uma senhora teve uma incorporação. Nós fomos obrigados a parar a filmagem”, descreve Daniel. Paulo Goulart, que é espírita e no filme vive um jornalista, lembra que Nelson jamais seguiu o Kardecismo. “Ele não tinha essa religiosidade que nós, que já estamos ligados, temos. Mas é impressionante como tudo isso vai fazendo com que a pessoa de repente comece a descobrir outros caminhos”, acredita.

Ana Rosa vive um personagem que tem tudo a ver com ela. Na fita, a atriz é Carmen Perácio, que, junto do marido, explica ao jovem Chico o que é Espiritismo e esclarece que ele tem o dom da mediunidade. O casal o auxilia nas primeiras sessões. “Fiquei muito feliz com o papel”, conta ela, que já dirigiu a peça ‘O Cândido Chico Xavier’, sobre a vida do médium.

A história começa no programa ‘Pinga-Fogo’, em 1971, em que Chico (Nelson Xavier) responde a questões de jornalistas sobre os mais diversos assuntos ao vivo, no estúdio da extinta TV Tupi. Esse é o ponto de partida para que ele relembre momentos de sua infância sofrida (em que é vivido por Matheus Costa) e juventude. Na sabatina, o mineiro detalha como descobriu a mediunidade, o que o tornou alvo de críticas e desconfiança. As memórias levam à dura luta para ser reconhecido e respeitado no Brasil inteiro.

Paralelamente, existe a trama do diretor do programa, Orlando (Tony Ramos) e sua mulher, Glória (Christiane Torloni), que perderam o filho. Ela tem a esperança de receber uma mensagem psicografada; ele, cético, desconfia das cartas. “Foi uma experiência muito forte para a Christiane, que na vida real passou pela experiência de perder um filho”, conta Marcel Souto Maior, autor do livro que deu origem ao roteiro. Daniel frisa, porém, que o foco do filme não é religioso.

“Não é uma mensagem de Espiritismo, mas de pensamento. O Chico tinha frases como ‘Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim’. Ou ‘Isso também vai passar’, mesmo quando você está no auge, ou ‘Como se pode morrer educadamente?’. Se existe mediunidade visível é o quanto esse homem se doou e o quanto ele aprendeu se doando”, acredita.

Artistas se lembram de momentos marcantes com o médium mineiro


Além das multidões que procuravam Chico, muitos nomes do meio artístico tiveram contato com ele. Ana Rosa, por exemplo, esteve com o médium em três situações. A primeira vez, com a equipe da versão original da novela ‘A Viagem’, em 1975, em que a atriz fazia uma cena em que incorporava um espírito. A segunda foi em 1995, quando, já convertida ao Espiritismo, perdeu a filha Ana Luisa. Mas Chico estava mal de saúde e não psicografava mais. A última vez foi quando a atriz apresentou a peça ‘Violetas na Janela’, baseada em livro psicografado por Vera Lúcia Marinzeck, em Uberaba. “Quando a gente participou da reunião no centro, a vibração que a gente sentia era tão grande que era impossível conter as lágrimas”, descreve Ana.

Nascida em família espírita, Beth Goulart encontrou o médium em diversas situações. “O Chico fazia eventos beneficentes em São Paulo e eu ia com a minha mãe (a atriz Nicette Bruno). Ele ficava no palco psicografando e nos chamava para ajudar”, conta Beth. “Teve um episódio que me marcou muito. Ele estava atendendo muita gente e nós ficamos orando por ele em silêncio. Em um momento, ele veio dizer: ‘Obrigado pelo que vocês estão fazendo por mim.’ Ele percebeu, sem a gente contar ”, diz Beth. Ela participou do filme ‘Joelma, 23º Andar’ (1980), de Clay Cunha, baseado numa história de psicografia de Chico.

Cássia Kiss esteve com o médium duas vezes: na própria residência de Chico e na Casa da Prece, onde ele atendia. “Foi tocante ver tantas pessoas (tinha até gente sentada na janela) indo ao encontro dele, que já estava bastante doente. Foi muito especial”, lembra ela. Rosi Campos, a Cleide do longa, assistiu a sessão em Uberaba. “Ele psicografou por cinco horas e leu as cartas. Foi emocionante. Tinham nome, sobrenome, assinatura, contavam histórias que só as famílias sabiam, como no filme”, diz.

Histórias psicografadas também chegarão às telas de cinema

A biografia do médium é apenas o pontapé inicial dos lançamentos relativos a Chico Xavier no cinema no ano de seu centenário. ‘Nosso Lar’, de Wagner Assis, é baseado no livro psicografado por Chico em 1944, que vendeu cerca de 2 milhões de exemplares e conta a história do espírito André Luiz, que ditou 16 livros ao espírita. Previsto para 3 de setembro, o filme traz efeitos especiais do estúdio canadense Intelligent Creatures (boa parte da história se passa no plano espiritual) e trilha sonora do americano Philip Glass.

Othon Bastos, Ana Rosa, Paulo Goulart e Renato Prieto estão no elenco. ‘E a Vida Continua’, dirigido pelo ator Paulo Figueiredo, também é inspirado num livro de André Luiz lançado por Chico. O documentário ‘As Cartas’, de Cristiana Grumbach, traz depoimentos de pessoas que receberam mensagens psicografadas pelo médium. E ‘As Mães de Chico’, que tem entre seus diretores Glauber Filho (de ‘Bezerra de Menezes — O Diário de um Espírito’) e reúne histórias de mulheres que receberam cartas de seus filhos mortos, mais uma vez traz Nelson Xavier na pele do médium.

Nelson Xavier: ‘Lidei com um santo. Não tem como resistir, é algo forte, leva às lágrimas’

Aos 68 anos, Nelson Xavier não hesita em dizer que Chico Xavier é o papel de sua vida. “Ele vai me acompanhar para sempre”.

1. Você sempre se emociona falando sobre o filme e diz que mudou muito por causa do personagem...

Fui invadido por uma onda de amor que me balançou. Quando eu vi, estava lidando com um santo, e foi uma coisa tão forte que não tem como resistir, porque é muito intenso, leva às lágrimas. Isso me acompanhou durante todo o filme, a ponto de ultrapassar os limites de um trabalho artístico.

2. É verdade que sempre confundiram seu nome com o do Chico?

De vez em quando alguém me chamava de Chico, e algumas vezes eu respondi: “É a mãe!!!”

3. Como você construiu o papel?

Eu e Ângelo Antonio (que faz o Chico jovem) ensaiamos muito. Mas o que me conduziu foi essa emoção, a única explicação era a presença do Chico, uma coisa de invasão, de posse mesmo.

4. Você já era seguidor da doutrina espírita?
De jeito nenhum! Desde criança tive contato com o Kardecismo, mas só agora li um pouco... Eu resgatei a relação com a minha mãe, que sempre quis que eu lesse.

5. Teve algum momento no filme que te tocou mais?
Quando fico de pé e rezo, estou rezando com a minha mãe. Eu resgatei a relação com ela, porque sempre zombei do Espiritismo. Ela queria tanto que eu aderisse (chora).
FONTE: O Dia

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