Brasileiro adora novidade. Com as redes sociais não é diferente. Basta aparecer uma nova maneira de entrar em contato com os amigos da vida real e interagir on-line com eles e estará aberto o caminho para criar perfis. As redes que estão em alta no Brasil no momento, Facebook e Twitter, registram aumentos cada vez maiores do número de usuários brasileiros, principalmente após o lançamento das versões em português. Segundo dados do próprio Twitter, o Brasil está entre os quatro polos de maior envio de tuítes do mundo, ao lado dos Estados Unidos, da Indonésia e do Japão. No Facebook, que está prestes a ter 700 milhões de usuários em todo o mundo, são quase 20 milhões de brasileiros, dos quais 1,949 milhão se cadastrou apenas no mês passado.
Essa popularização, entretanto, não é bem-vista por parte dos usuários que frequentam há mais tempo essas redes sociais. Há poucas semanas, quando entrou no ar uma versão em português do Twitter, foi grande o volume de mensagens que não economizaram nas reclamações. Segundo os incomodados, a tradução atrairia um público diferente para o Twitter: as classes de baixa renda.
Utilizando expressões como “invasão da pobraiada” e “migração da favela”, esses usuários se manifestaram contrários à presença das classes C e D no Twitter e no Facebook. Sobrou para o Orkut, que virou sinônimo de tudo o que é ruim nas redes sociais: o termo “orkutização” foi cunhado para designar a entrada de pessoas das camadas pobres da sociedade no Twitter e no Facebook.
Patinho feio
Fundada em 2004 pelo turco Orkut Büyükkökten, a primeira rede social a se popularizar no Brasil nem sempre foi assim. No começo, a maioria dos perfis, comunidades e fóruns era em inglês, ocupados por usuários americanos. Mas isso apenas nos primeiros cinco meses. A situação mudou rapidamente quando e o sucesso foi tanto que o crescimento de perfis brazucas assustou os americanos. Um deles, Gary Dikarev, chegou a criar uma comunidade sobre o assunto, incomodado com a invasão do Brasil no Orkut. Boa parte do incômodo vinha das postagens ofensivas: palavrões e xingamentos em português apareciam com frequência nas comunidades em inglês. No fim, os brasileiros venceram a disputa pela nacionalidade da maioria no Orkut. Em contrapartida, ficamos com a fama de vândalos virtuais.
Fundada em 2004 pelo turco Orkut Büyükkökten, a primeira rede social a se popularizar no Brasil nem sempre foi assim. No começo, a maioria dos perfis, comunidades e fóruns era em inglês, ocupados por usuários americanos. Mas isso apenas nos primeiros cinco meses. A situação mudou rapidamente quando e o sucesso foi tanto que o crescimento de perfis brazucas assustou os americanos. Um deles, Gary Dikarev, chegou a criar uma comunidade sobre o assunto, incomodado com a invasão do Brasil no Orkut. Boa parte do incômodo vinha das postagens ofensivas: palavrões e xingamentos em português apareciam com frequência nas comunidades em inglês. No fim, os brasileiros venceram a disputa pela nacionalidade da maioria no Orkut. Em contrapartida, ficamos com a fama de vândalos virtuais.
Enquanto os americanos migravam para o Facebook, o Orkut se consagrou no Brasil entre todas as classes sociais. Para o consultor de estratégias de mídias sociais Luciano Palma, o sucesso era a novidade. “Era uma ferramenta nova, muito atraente e sua ascensão coincidiu com a popularização do acesso das classes C e D ao computador e à internet, graças à inclusão digital que ocorreu no Brasil nos últimos anos.” Como nada é novidade para sempre, o Orkut foi perdendo fôlego, ao passo que o Facebook do polêmico Mark Zuckerberg aparecia cada vez mais na mídia.
Ao mesmo tempo, publicidade indesejável, o famoso spam, joguinhos bobos e correntes de mensagens se espalharam pelo Orkut, aproveitando a popularidade da rede. Para o blogueiro Marcel Dias, dono do Byte Que Eu Gosto, o Orkut ter virado patinho feio e bode expiatório de tudo que é ruim na internet não é culpa das classes menos favorecidas. “O Orkut acabou pagando o pato porque gente com instrução se aproveita de pessoas mais humildes pra disseminar vírus e outras ameaças.”
Culpadas ou não, a entrada das classes C e D na internet e no Orkut foi execrada por algumas pessoas que já tinham acesso há mais tempo e a orkutização virou sinônimo de baixaria, pobreza ou falta de educação na internet. Para a estudante de comunicação Tatiana Tenuto, a diferença de comportamento e linguagem é o que incomoda as elites da web. “Vieram as fotografias de garotas de biquíni na laje, as perguntas sem pé nem cabeça nas comunidades, a demora no carregamento das páginas por causa do alto número de acessos etc”.
Viciada em internet e usuária assídua de redes sociais, Tatiana condena o uso do termo. “Acho que é o mesmo preconceito que ocorre com pobre no mundo off-line.” Marcel Dias também não concorda com a discriminação e já escreveu sobre o assunto nos blogs que possui. “A internet é livre e todos têm direito de usá-la. É um direito básico fundamental do ser humano. Se todos têm o mesmo direito de votar, de ir e vir, de consumir produtos pagando por eles, por que um bando de elitistas se acha no direito de gritar em redes sociais que a inclusão digital é uma coisa maldita?”
Exclusividade
Para Marcello Barra, professor de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), o que acontece na internet é uma reprodução do comportamento que emana da sociedade fora da web. Barra acredita que a não aceitação de classes menos abastadas na web é semelhante à polêmica recente em Higienópolis, bairro de São Paulo. Os moradores quiseram vetar a construção de uma estação de metrô no local por temer “um aumento de ocorrências indesejáveis” e tráfego de pessoas “diferenciadas”. “Os dois casos mostram como a sociedade brasileira ainda é muito autoritária. As pessoas não querem se misturar.” Para o sociólogo, os indivíduos querem se fechar em suas castas no espaço virtual da mesma maneira que no espaço físico. “Grupos na rede que não aceitam determinados indivíduos nada mais são do que condomínios fechados, onde as pessoas só convivem com quem querem.”
Para Marcello Barra, professor de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), o que acontece na internet é uma reprodução do comportamento que emana da sociedade fora da web. Barra acredita que a não aceitação de classes menos abastadas na web é semelhante à polêmica recente em Higienópolis, bairro de São Paulo. Os moradores quiseram vetar a construção de uma estação de metrô no local por temer “um aumento de ocorrências indesejáveis” e tráfego de pessoas “diferenciadas”. “Os dois casos mostram como a sociedade brasileira ainda é muito autoritária. As pessoas não querem se misturar.” Para o sociólogo, os indivíduos querem se fechar em suas castas no espaço virtual da mesma maneira que no espaço físico. “Grupos na rede que não aceitam determinados indivíduos nada mais são do que condomínios fechados, onde as pessoas só convivem com quem querem.”
Episódio semelhante ocorreu na semana passada, quando uma rede social que se diz exclusiva para gente bonita, o BeautifulPeople.com declarou ter expulsado 30 mil pessoas que se cadastraram irregularmente no site por culpa de um vírus apelidado de Shrek. O cadastro no site é desejado porque existe uma seleção dos usuários e quem entra se sente parte de uma elite. Quem deseja se cadastrar no BeautifulPeople precisa se submeter à votação dos usuários existentes, que decidem se o candidato é bonito ou não.
Segundo Luciano Palma, esse tipo de estratégia funciona como uma ação de marketing da rede. “As pessoas têm o desejo de se sentirem especiais, bonitas. É o glamour de fazer parte de um clubinho fechado que as atrai.” No início, Orkut e Facebook também chamaram atenção pela maneira de entrar: apenas por convites. ]
A necessidade de pertencer a algo exclusivo, selecionado e elitizado atrai as pessoas e provoca reações xenofóbicas. Além das pessoas de baixa renda, o Twitter já foi palco de discriminação contra negros, homossexuais e nordestinos. Para o funcionário público Rodrigo Amaral, que fechou contas do Facebook e do Orkut por causa do excesso de exposição, esse tipo de comportamento “é pura ignorância”. No Twitter, por exemplo, ninguém convive com quem não quer, basta apenas respeitar a presença do outro. “As pessoas confundem as ferramentas. Apesar de se chamarem redes sociais, são muito distintas e têm finalidades muito diferentes. A origem de cada uma é diferenciada e o foco é distinto.” Especialistas concordam que o preconceito não é criado por causa de uma ferramenta em si, mas pelo público.
Nordestinos
Irritados com a vitória de Dilma Rousseff nas urnas presidenciais de 2010, alguns usuários do Twitter postaram xingamentos contra o Nordeste pela boa votação da presidente na região. A estudante de direito Mayara Petruso ficou conhecida pela autoria de um deles, que dizia: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”
Irritados com a vitória de Dilma Rousseff nas urnas presidenciais de 2010, alguns usuários do Twitter postaram xingamentos contra o Nordeste pela boa votação da presidente na região. A estudante de direito Mayara Petruso ficou conhecida pela autoria de um deles, que dizia: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”
Fonte: Correio Braziliense
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