terça-feira, 19 de julho de 2011

“Criatividade de brasileiro não vira inovação”,

Por: Melito da FECOMERCIO
Mesmo com a imensa diversidade cultural que estimula a criatividade, o Brasil ainda está distante de produzir modelo eficiente para desenvolver um mercado para economia criativa.
O que movimenta o mundo de hoje, a velha economia industrial baseada em mão de obra e produção barata, ou a economia criativa, que gira em torno do talento e da inovação constantes, além da geração de novos modelos de negócios?
É sabido que estamos longe de excluir o primeiro modelo. Mas a partir de hoje, às segundas-feiras, oBrasil Econômico vai publicar reportagens sobre as melhores iniciativas, sejam de governos ou de empresas, que estão alinhadas com a economia do futuro.
O pontapé inicial é dado pelo executivo Adolfo Melito, que está à frente do Conselho de Economia Criativa da Federação do Comércio (Fecomercio) que, apesar de otimista em relação ao potencial criativo do Brasil, mostra que o país ainda perde muitas oportunidades por causa de ações desastradas cometidas no passado.
O Brasil é um país criativo?
O Brasil tem potencial para ser um país criativo, mas não é. Temos que engajar mais as pessoas e melhorar, de maneira significativa, o nível de educação, além de explorar os processos de criação. Brasileiro é criativo sim, mas na fantasia.
Se não conseguirmos implementar o que é pensado, não geramos inovação. O índice baixo de implantação de ideias no país é muito baixo.
O profissional criativo quer…
A economia criativa é fruto do engajamento e não da obediência. Trabalhos que exigem pouca criatividade, típicos da economia industrial, não fazem parte desse mercado.
O profissional engajado quer ser o melhor na área em que atua e espera que a empresa lhe dê as ferramentas para progredir. Esse profissional também quer ter autonomia e, principalmente, propósito.
Hoje em dia as pessoas trabalham menos pelo salário do que pela possibilidade de ser reconhecido e ter uma expectativa futura, o que se contrapõem ao modelo tradicional.
Quais os inimigos da inovação?
Centralização, burocracia e organizações muito hierarquizadas.
O que difere a economia tradicional da criativa?
A diferença é que hoje estamos dentro de uma sociedade do conhecimento, onde as ideias influenciam coisas que você não imaginava antes. Isto porque estávamos baseados mais na tecnologia do que na imaginação. Hoje é a criatividade que gera negócios e inovação.
Há um exemplo prático no desenvolvimento de negócios?
No modelo tradicional de desenvolvimento industrial, instala-se uma fábrica onde há mão de obra que será capacitada e vai gerar uma produção barata.
Mas quando falamos de economia criativa temos um conceito contrário a esse. Instala-se o negócio, com foco em ser o melhor, onde estão os melhores talentos, que certamente são mais caros.
O governo brasileiro está em linha com esta nova economia?
Em 21 de janeiro, o governo federal criou a Secretaria de Economia Criativa, sob o comando de Cláudia Leitão. Essa secretaria está em articulação com várias áreas para formatar um plano estratégico para a economia criativa no Brasil, que será lançado em setembro. Estamos fazendo agora o que outros países fizeram há 17 anos.
Por que tanto atraso?
Tomamos decisões erradas que afetaram alguns setores e o primeiro é a educação, que afeta a formação de talentos, o maior bem da economia criativa.
Mas tivemos questões pontuais. Criamos a Zona Franca de Manaus há 34 anos para competir no desenvolvimento industrial. Mas não deu certo. Somos maquiadores de produtos.
Damos incentivos para Manaus para receber produto mais barato em São Paulo porque o frete é muito caro. A área de tecnologia também sofreu com a proibição de importação. Esses fatores mataram os nossos sonhos na área de hardware: eletroeletrônico, informática e telecom, uma vez que nada é desenvolvido no Brasil.
O que fazer para recuperar o tempo perdido?
Na economia do futuro, falamos mais em software do que em hardware. É a economia dos intangíveis. Por isso, não podemos criar as Suframas (em relação a Superintendência da Zona Franca de Manaus) ou as Sepin (Secretaria de Política de Informática e Automação) dos softwares.
Se pensarmos dessa forma para esta nova economia, vamos atrasar o país para sempre. Hoje já temos uma indústria de software, mas que só faz coisas simples.
Em quais áreas da economia criativa o país pode se destacar?
O Brasil tinha tudo para ser a economia mais verde do mundo, mas decidiu investir em uma economia velha, a do petróleo, onde estão sendo gastos bilhões de reais. É um tiro no escuro, ninguém sabe quanto vai custar o barril do petróleo do pré-sal. E ninguém acredita que o governo está agindo de forma empresarial nesta questão.
A Petrobras vem tendo seu pior desempenho no mercado no último ano, porque ninguém acredita que o governo está sendo empresário nesse caso. Ele está tratando a coisa de maneira política e colocando a Petrobras a serviço do governo.
Há alguma área na qual o país de fato já se destaca?
Quando começamos a montar o Conselho de Economia Criativa da Fecomercio, há cinco anos, vimos que no Brasil há setores que são criativos, como o artesanato e turismo cultural.
Já em design, uma área com destaque em várias partes do mundo, não dá para falar que o Brasil é bom. Claro que se falarmos nos irmãos Campana, eles são referência mundial.
Mas olhe a arquitetura. Temos muita influência do design europeu, italiano porque grande parte dos profissionais dessa área se formaram lá fora. Nosso design não reflete a cultura do país.

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