segunda-feira, 25 de abril de 2011

Relator do Código Florestal, Aldo Rebelo, no olho do furacão verde

FONTE: Correio Braziliense


O ex-presidente da Câmara dos Deputados Aldo Rebelo (PCdoB-SP) voltará à ribalta durante a semana sob marcação cerrada de ambientalistas. Depois de um ano e meio debruçado sobre o projeto de modificação do Código Florestal, o parlamentar ouviu soar o gongo. Indica que na quinta, ou no máximo sexta, deve finalizar o texto final do relatório que ditará os rumos da preservação ambiental no país pelos próximos anos. Antes, participará de uma última reunião sobre o tema promovida pelo governo federal com várias pastas da Esplanada dos Ministérios. O documento, que será lido em plenário na semana que vem para votação, pretende ser um consenso entre as bancadas ruralista e ambientalista e os diversos setores do governo. Como todo fiel da balança, Rebelo transpira para sair do processo sem encarnar o papel de vilão para ambos os lados.
Em relação ao relatório aprovado pela Comissão Especial que analisou o novo código em setembro passado, Rebelo fará concessões pontuais ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), mas manterá boa parte das exigências feitas pelos ruralistas. Da última reunião no Palácio do Planalto devem fazer parte os ministros Antônio Palocci (Casa Civil), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) e Wágner Rossi (Agricultura), além de parlamentares ruralistas e ambientalistas. A presença da presidente Dilma Rousseff ainda não foi confirmada.
No processo de negociações, o MMA aceitou a possibilidade de liberar os agricultores da necessidade de averbar a área preservada em cartório — bastará, agora, o cadastro da área em sistema na internet. Da mesma forma, a pasta também deixou acertada a possibilidade de recomposição de áreas desmatadas dentro das bacias hidrográficas, o que permitiria ao produtor regularizar sua situação sem mexer no terreno ocupado atualmente — bastaria a compra de área com a preservação exigida na mesma bacia.
O ministério ainda concordou com a possibilidade de plantações em encostas de morros com inclinação de até 45 graus, desde que de espécies lenhosas, como café, uva e maçã, e manteve áreas consolidadas fora da necessidade de preservação às margens de rios. Por fim, o acordo prevê a soma das áreas de preservação permanente no cálculo das reservas legais — porções mínimas do terreno que devem ser preservadas em cada propriedade. Em contrapartida às concessões, o MMA conseguiu manter a área mínima de proteção ao longo dos rios em 30 metros — para as consolidadas, a exigência cai para 15 metros. Outro ponto polêmico é o fim da anistia para os desmatadores. Aqueles que ficaram irregulares por conta da edição do código, em 1965, não serão incluídos na lista dos desmatadores, mas terão de recompor as áreas em um prazo de até 20 anos.
Força da caneta
Entre os pontos polêmicos que ainda restam no relatório, o governo federal tentará fazer prevalecer a força da caneta presidencial para evitar a primeira derrota mais séria no Congresso. Faz parte da lista a necessidade de manutenção de reserva legal para todos os proprietários rurais — Rebelo pretende isentar o pequeno produtor com áreas de até quatro módulos fiscais ou 150 hectares. “Talvez, não fique nada pendente da reunião, mas ainda estamos dialogando sobre a exigência de reserva legal. Quero que seja dispensada para os pequenos agricultores, mas o governo ainda está reticente. Sendo mantida a regra atual, o pequeno produtor será severamente prejudicado”, diz Rebelo.
Mesmo que saia da reunião com o governo sem arranhões e com o texto consolidado, a volta à ribalta do ex-presidente da Câmara terá o primeiro ruído hoje, com a publicação de um estudo sobre as alterações do Código Florestal, feito pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. O documento será divulgado durante a tarde, como forma de pressionar o relator a ser mais econômico nas modificações sugeridas.
Em uma prévia do documento, a proposta de Aldo Rebelo é classificada como “insustentável” e atrasada do ponto de vista tecnológico. Sinal de que, se há chance de consenso com o governo, dificilmente o quadro se repetirá com os ambientalistas.

0 comentários:

Postar um comentário