domingo, 21 de outubro de 2012

Saiba como afastar seu filho de "doenças de gente grande", como estresse e obesidade



Má alimentação e pouca atividade física têm feito da obesidade um problema sério entre crianças


O ritmo acelerado da vida moderna tem afetado não só a saúde dos pais. Cada vez mais, crianças estão sendo atingidas pelos novos padrões de comportamento e recebendo diagnósticos de doenças que já foram exclusividade dos adultos. Entre os problemas de saúde que passaram a fazer parte da infância estão obesidade, pressão e colesterol altos, estresse, depressão e LER (Lesão por Esforço Repetitivo).  

A OBESIDADE INFANTIL NO BRASIL

Segundo pesquisa realizada pelo IBGE com o Ministério da Saúde, entre 2008 e 2009, uma em cada três crianças de 5 a 9 anos estava acima do peso, sendo que 16,6% dos meninos e 11,8% das meninas eram obesas.
Entre os jovens de 10 a 19 anos, a obesidade atingiu 5,9% dos garotos e 4% das garotas. Em pesquisa semelhante, realizada em 1974 e 1975, os números da obesidade, nessa faixa etária, eram 0,4% e 0,7%, respectivamente.
Dessa lista, a obesidade, com seus desdobramentos, é uma das mais preocupantes. Para os especialistas, uma das principais causas do aumento de peso entre crianças é a má qualidade da alimentação, com excesso de produtos industrializados, ricos em gordura, sal e carboidratos.
“Antigamente, as famílias comiam refeições com arroz, feijão, carne, vegetais, uma fruta de sobremesa. Hoje se consomem mais comidas prontas e industrializadas”, diz Zuleika Halpern, endocrinologista representante do Departamento de Obesidade Infantil da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).

A diminuição da atividade física também é apontada como culpada pelo problema. Com a violência crescente nos centros urbanos, as crianças passaram a brincar menos na rua. Ao mesmo tempo, o avanço da tecnologia criou estímulos para que elas fiquem dentro de casa em atividades que consomem pouca energia, passando a maior parte do tempo na frente da TV ou do computador. “Muitas vezes, coloca-se a criança na frente da televisão até para comer”, afirma Zuleika.
Um fator decisivo nesse quadro é a participação da família. “A alimentação das crianças depende totalmente dos adultos que cuidam dela”, declara a endocrinologista. “Os pais ficam fora de casa o dia todo e não têm tempo para controlar a alimentação dos filhos. Muitas vezes, eles nem percebem o que estão fazendo”, diz Alessandra Cavalcante, pediatra do Hospital São Luiz, em São Paulo.
Além da má alimentação, o desmame precoce, antes dos seis meses recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), e a substituição do leite materno por fórmulas lácteas também têm sido apontados como indutores da obesidade e da hipertensão, de acordo com José Martins Filho, professor titular emérito de pediatria da Unicamp e autor de “Quem Cuidará das Crianças? A Difícil Tarefa de Educar os Filhos Hoje” (Papirus Editora), entre outros livros.

Assim como nos adultos, o excesso de peso ainda nas primeiras fases da vida não vem sozinho, sendo acompanhado por alterações na pressão sanguínea e nos níveis de colesterol e de açúcar no sangue. “Antigamente, uma criança mais gordinha podia desenvolver diabetes e ter alto índice de colesterol na vida adulta. Hoje, ela já apresenta isso na infância”, diz Zuleika Halpern.

COMO AJUDAR CRIANÇAS ACIMA DO PESO

“É preciso procurar o pediatra o mais rápido possível, porque, quanto mais cedo a obesidade é confirmada e tratada, mais chances a criança tem de ser um adulto saudável. E quanto mais jovem é a criança, mais fácil a recuperação”, afirma a endocrinologista Zuleika Halpern.
“Não é preciso proibir nada para a criança. Se ela for a uma festa, pode comer um docinho, pode ir a uma lanchonete de vez em quando e até deixar a avó estragar a alimentação, se for só uma vez por semana.”
De acordo com os especialistas, com a entrada na adolescência, a perda de peso fica mais complicada, dificultada pelas mudanças hormonais típicas dessa fase da vida.
Segundo Martins Filho, médicos já se preocupam em medir a pressão arterial de todas as crianças e em dosar, anualmente, a partir dos quatro anos, a glicemia e o nível de colesterol.
Além dos problemas de saúde decorrentes do excesso de peso, outros aspectos da vida da criança acabam prejudicados, afetando sua relação com o corpo e sua autoestima. Para o professor da Unicamp, a obesidade pode interferir no desenvolvimento neuromotor e psíquico. “Toda criança com doença crônica acaba tendo menos vitalidade. E o ‘bullying’ nos gordinhos é frequente e faz muito mal à personalidade.”

O diagnóstico de obesidade, no entanto, não é irreparável. Com o envolvimento de toda a família na reeducação alimentar, é possível reverter o quadro e fazer com que a criança tenha uma vida adulta livre de complicações.

Agenda lotada

Estresse, ansiedade e depressão são distúrbios comuns na vida atribulada dos adultos que também começam a fazer parte da infância. No caso das crianças, os responsáveis são, em geral, o excesso de atividades paralelas à escola e as pressões dos pais para que elas apresentem um desempenho acima da média de seus colegas.

“Esportes e cursos de línguas são apenas duas entre as atividades disponíveis para crianças e, como o mercado de trabalho exige cada vez mais, os pais colocam os filhos em muitas delas ao mesmo tempo para que eles tenham todas as oportunidades,"diz Melina Blanco Amarins, psicóloga infantil do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, "mas, muitas vezes, eles não aguentam”, afirma.
FONTE:   Juliana Zambelo Do UOL, em São Paulo

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