Dia 11 do mês corrente, o Jornal “O
Globo”, do Rio de janeiro, reproduziu texto de autoria do jornalista
Juan Arias intitulado: “Por que os brasileiros não reagem?”. Nele, o
articulista espanhol indaga se o os brasileiros perderam a capacidade de
indignação diante dos sucessivos escândalos ali listados. O artigo
reproduzido em periódicos de grande circulação gerou debates em
emissoras de televisão. O canal de assinatura Globo News, dedicou sábado
passado um programa “Painel” especial sobre o controvertido assunto dos
limites da corrupção na esfera pública, e a sensibilidade ética da
nossa sociedade diante dos reiterados e contumazes desvios de
personalidades da política nacional.
No programa da Globo News, o
professor Marco Antônio Villa, da Universidade de São Carlos, desancou a
centenária República brasileira, como consolidadora do padrão de
corrupção que se espalha por todos os poderes do Estado, mas
responsabiliza particularmente o Judiciário pela impunidade, e convoca a
nação a uma cruzada contra a corrupção pela ética pública. Mais adiante
será abordada a tormentosa questão da partilha de responsabilidade
entre os poderes republicanos e a forma de cobrá-la. Fica em aberto o
questionamento crucial: o Brasil é um país republicano?
Já que tudo começou com o texto
de Arias, correspondente de “El País”, o principal periódico da Espanha,
não custa lembrar que a corrupção brasileira é em parte originária da
cultura ibérica que o periodista conhece muito bem, a partir da
indistinção entre o patrimônio privado e o público, este último
pertencente ao Rei da Espanha e de Portugal que o dividia entre parentes
e apaniguados. A colonização luso-espanhola transplantou para os
trópicos o Estado patrimonialista, inteiramente incompatível com a
República e os seus correspondentes vícios, dentre eles, o
locupletamento da coisa pública e o caudilhismo, à busca sempre de
homens providenciais, ao largo das ideologias e dos partidos políticos.
O jornal “El País” tem dedicado
espaço aos triunfos da economia brasileira, apresentando-a como
emergente e triunfante, embora faça ressalvas ao péssimo quadro de
distribuição de renda e desigualdade social. Ano passado, poucos meses
antes das eleições presidenciais, realizou entrevista com o
ex-presidente Lula, definindo-o como “multi-ideológico”, destacando que
nas relações com a Espanha, o chefe de Estado brasileiro dera-se bem com
o direitista primeiro-ministro José Maria Aznar, de modo igual com o
socialista José Luiz Rodriguez Zapatero. Mas qual e diferença entre um e
outro? Ambos representavam a Espanha, e afinal tratava-se de relações
institucionais. Mas é fato, na prática deste mundo financeirizado,
chegado ao poder em termos de políticas públicas, não diferenças entre o
conservador e o esquerdista. Não se esquecendo de sublinhar que ambos
os governos foram pontilhados de escândalos de corrupção.
Herança cultural à parte, a
crise da corrupção não açoita apenas aos ibéricos, que o digam os
ingleses, alemães, americanos, franceses, chineses, japoneses. O mundo
dominado pelo poder do dinheiro e dos bancos encontra-se mergulhado em
profunda crise ética. O Estado encontra-se apropriado por interesses
privados. No Brasil, na Espanha e no mundo, urge que se refaça o pacto
político e se remodele as instituições, incluindo a representação
política. A Islândia começar a dar o exemplo está reescrevendo a
Constituição com a participação da população através da internet.
O Judiciário, apresentado pelo
historiador Marco Antonio Villa, como o principal legatário da herança
colonial ibérica, não é melhor nem pior que os dois outros poderes, As
leis é que precisam ser feitas pelo povo, em benefício do povo. Afinal,
não custa nada sonhar, pois é uma das boas heranças da nossa cultura,
como bem desenhou San Thiagp Dantas em “Dom Quixote- um apólogo da alma
ocidental”.
O mesmo San Thiago, cujo
centenário de nascimento agora comemoramos, era a esse propósito
profético: a reação à corrupção virá do povo, que no caso brasileiro, é
bem melhor que a sua elite.
jbericeira@veloxmail.com.br
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