O símbolo do pedido global por mudanças na tecitura do mundo capitalista é o sorriso cínico do rebelde católico Guy Fawkes (1570 - 1606), eternizado em uma máscara cada dia mais presente nas manifestações no Brasil, iniciadas neste mês. A imagem da moda ganhou força em 2011, nas ruas de Londres e de Nova York, durante os movimentos Ocuppy, e, depois, nas ruas do mundo. Quando milhares de manifestantes acamparam em Zucotti Park, localizado na região financeira de Wall Street, os governantes não sabiam exatamente o motivo da mobilização daqueles jovens mascarados, mas se viram obrigados a alterar a plataforma das candidaturas à presidência nas eleições seguintes dos Estados Unidos. No Brasil, a miscelânea de reivindicações abarcam mobilidade urbana, ampliação dos direitos de minorias e bem-estar social. No interior e nas capitas, milhares têm demonstrado descontentamento com a gestão pública e manifestado pedidos pelo cumprimento de direitos garantidos pela Constituição.
A origem da máscara descende da cultura pop, no roteiro da HQ criada por Alan Moore e desenhada por David Lloyd (leia quadro). Numa Inglaterra fictícia, vivendo sob regime fascista, o rebelde V luta por liberdade e abala as estruturas do Estado, escondendo-se sob a máscara inspirada no personagem histórico Guy Fawkes. Nos quadrinhos, V usa a mesma máscara que preenchem as ruas do mundo %u2014 hoje, um símbolo icônico, como a camiseta estampando Che Guevara; a letra A de anarquia; ou um dedo em V, dos conceitos de paz e amor da geração hippie. Há quem desconfie do uso da figura de V/Fawkes nos protestos de ideologias incertas. Uma das reflexões vem do pesquisador de histórias em quadrinhos e mestrando em comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) Lima Neto. Ele lançou um desabafo em redes sociais sobre o uso da indumentária.
"O V, e não o Guy Fawkes, é um símbolo que pode ser manipulado para qualquer lado de uma discussão política. Isso aprofunda-se gravemente quando o símbolo vem da sua versão aguada e alterada do cinema, em que exatamente os avisos sobre a ambiguidade do símbolo são arbitrariamente deixados de lado", escreveu Lima.
"Usar essa máscara esconde a falibilidade humana, o mau-caratismo, e pode ser muito perigoso nesse presente em que o cinema a elege como fantasia de poder. Sou fã de quadrinhos de super-heróis, mas faço questão que eles permaneçam nas páginas do gibi", posiciona-se o pesquisador. Para o bem ou para o mal, essa é a cara da mudança no mundo contemporâneo.
Por trás da máscara
GUY FAWKES
A resiliência do católico Guy Fawkes em não entregar companheiros da Conspiração da Pólvora, no Reino Unido, mesmo depois de preso e torturado quando tentava explodir o Parlamento em ação de protesto contra as decisões do rei inglês James I, em 1605, é rememorada na comemoração da Noite das Fogueiras (em 5 de novembro).
ALAN MOORE
A figura excêntrica de cabelos longos e olhos profundos de Alan Moore, roteirista de quadrinhos, são a marca deste bruxo inglês. O artista é responsável por conceituar histórias recheadas de senso crítico. Declaradamente anarquista, Moore questiona governos e controles de poder. Apesar de duas de suas HQs terem ganhado versões cinematográficas bancadas por grandes estúdios (V de vingança e Watchmen), Moore não autoriza adaptações de suas obras feitas em Hollywood.
V DE VINGANÇA
Num futuro distópico, a Inglaterra está enterrada em regime autoritário de feições fascistas. Seguindo os ideais anarquistas de Mikhail Bakunin, Moore apresenta o Estado como limitador das liberdades individuais e o terrorista V como herói de uma guerra justa pela liberdade. As ideias apresentadas na HQ foram representadas de forma superficial no cinema, em 2006, em filme homônimo, dirigido por James McTeigue.
ANONYMOUS
Hackitivistas (soma das palavras hackers com ativistas) anônimos. As ações dos filiados se constituem na invasão de sites oficiais, mas também em espalhar informações sobre manifestações físicas pelo mundo. Seu símbolo maior é a máscara de Fawkes. No Brasil, o grupo usa os dizeres: "Nós somos Anonymous. Nós somos Legião. Nós não perdoamos. Nós não esquecemos. Esperem por nós".
FONTE O Imparcial
0 comentários:
Postar um comentário