Prezado leitor, como artista da palavra, vivo no meio do povo
a observar sua evolução, mas ultimamente parece que chegou a hora da roda
grande passar por dentro da roda pequena. A família antes chamada celular meter na sociedade, foi infectada pelo
vírus da ignorância, a falta de empatia entre pais e filhos quebra os laços de
família. Depois de trabalharem 40 a 50 anos para manter a família, aos 60 anos
começam a serem ignorados pelos filhos que já pensam na partilha de bens que
por ventura foram construídos pelos pais.
Entre tantas histórias de pais maltratados pelos filhos, vou
contar a de dona Maria, que personifica
todas as mães Marias do Brasil. Maria, ao longo de sua vida, dedicou-se
incansavelmente a criar e cuidar de seus 10 filhos e filhas. Agora, em seus
anos dourados, a senhora Maria encontrava-se em uma situação delicada,
dependendo dos cuidados de sua prole.
Dentre os filhos, apenas uma filha, Carolina, assumiu a
responsabilidade de cuidar da mãe com a dedicação que a situação exigia. A
senhora Maria, agora idosa e fragilizada, necessitava de atenção constante.
Fraldas, medicamentos e visitas frequentes ao médico eram parte do dia a dia.
Lembro da sabedoria de minha velha mãe que dia: uma mãe cuida de dez filhos,
mas dez filhos não cuidam de uma mãe.
De fato, parece que dona Luiza tinha razão, pois na casa de
dona Maria, enquanto Carolina se desdobrava para garantir o conforto de sua
mãe, uma briga silenciosa ecoava pelos corredores da família. Os outros nove
filhos, movidos por interesses egoístas, começaram a disputar não apenas a
atenção da mãe, mas também seus bens e patrimônio.
Todos queriam ser beneficiados, mas não queria ter trabalhos
com a velha mãe. Numa tarde nublada, na sala de estar onde fotos antigas
testemunhavam dias mais simples, a tensão atingiu seu ápice. Diálogos ríspidos
e olhares acusatórios preenchiam o ambiente:
_Por que a Carolina é a única que se preocupa com a mãe? Ela
não pode ficar com tudo! Além do mais ela anda luxando muito, a comprar roupas
caras, só pode ser com o dinheiro da mamãe! – Disse Roberto para os irmãos.
_ A mamãe tem uma casa valiosa. Por que a Carolina merece
mais do que nós? Vamos tomar o cartão dela. – Decidiu Glória.
A disputa pelo benefício da mãe ultrapassava o limite do bom
senso. A senhora Maria, mesmo diante de suas limitações físicas, percebia a
discórdia entre os filhos. Entre lágrimas silenciosas, ela tentava repreender a
ganância que se instalara na própria família.
Enquanto os irmãos brigavam, Carolina buscava apoio legal
para garantir que a mãe recebesse os cuidados necessários e que seus bens
fossem protegidos. A lei, porém, mostrava-se complexa, e a situação tornava-se
um emaranhado de disputas judiciais.
Carolina (em uma conversa com o advogado): "Eu só quero
garantir que a mamãe tenha paz. Não posso acreditar que eles estão brigando por
dinheiro enquanto ela está aqui, dependendo de nós."
_Infelizmente, situações como essa são mais comuns do que se
imagina. A obrigação legal de cuidar dos pais é clara, é de todos os filhos,
mas a ganância muitas vezes obscurece o senso de responsabilidade. – Afirmou o
advogado.
A história da família de dona Maria é um reflexo triste da
realidade de muitas famílias. A disputa por heranças antes mesmo do falecimento
dos pais é um dilema que coloca em xeque não apenas a ética, mas também os
valores familiares. Enquanto a mãe envelhece, a obrigação moral e legal de
cuidar dela deveria ser prioridade, superando qualquer desejo por herança.
José Casanova
Professor, Jornalista e escritor membro da
Academia Bacabalense de Letras
Isso é uma verdade.
ResponderExcluirObrigada