Era uma tarde abafada de domingo na
já não tão pequena cidade de Bacabal. Passando
de moto na BR 316, observo no bairro Trizidela, uma prédio público sem utilidade,
sendo usado como abrigo por um senhor
idoso, de cabelos longos e grisalhos. Este senhor, além de viver em situação de
rua, carrega consigo o estigma de ser acumulador. Descobri que o mesmo tem família,
mas que não consegue conviver com ela, ou será o contrário? Nas ruas, o vai e vem de pessoas
parecia um espetáculo constante, mas nos recantos silenciosos das casas,
algumas histórias se desenrolavam em meio a um emaranhado de objetos acumulados
ao longo dos anos. O senhor morador de rua, não era o único acumulador da
cidade.
Na casa de Dona Clara, uma senhora
simpática de cabelos prateados, moradora do bairro Madre Rosa, cada canto era preenchido por recordações que
pareciam ganhar vida própria. Jornais antigos, bonecas de porcelana, caixas
empoeiradas e uma infinidade de tralhas se amontoavam, criando um labirinto de
memórias.
Na cozinha, Dona Clara estava imersa
em uma conversa com seu neto, Marcos.
- Vó, por que você guarda tantas
coisas? A casa tá sempre cheia delas.
_ Ah, meu querido, são lembranças da
vida. Cada objeto conta uma história, uma parte de quem fomos um dia.
_ Mas a casa tá cheia demais, vó.
Isso não é bom.
_ Eu sei, meu amor. Às vezes, é
difícil se desapegar.
O que Dona Clara enfrentava era
conhecido como Síndrome de Acumulação Compulsiva, um transtorno caracterizado
pelo acúmulo excessivo de objetos, mesmo que sejam inúteis ou sem valor
aparente. A psicologia explica que, muitas vezes, os acumuladores compulsivos
associam significados emocionais profundos a esses itens, tornando-se difícil
se separar deles.
A situação estava ficando
insustentável ao ponto dos vizinhos pedirem ajuda às autoridades. Numa tarde
ensolarada, a psicóloga Dra. Marta Santos visitou Dona Clara para entender
melhor sua situação.
_ Dona Clara, entendo que cada objeto
é especial para você, mas precisamos encontrar um equilíbrio. O excesso de
coisas pode prejudicar sua qualidade de vida.
_ Eu sei, doutora, mas é difícil
abrir mão das lembranças. – Afirmou Clara em tom de nostalgia
A terapia tornou-se um caminho para
desvendar os sentimentos subjacentes e ajudar Dona Clara a superar suas
dificuldades. Enquanto isso, a comunidade se uniu para oferecer suporte
prático, ajudando na organização da casa e na tomada de decisões sobre o que
manter ou descartar.
Os sintomas de acumulação compulsiva
variam, mas frequentemente incluem dificuldade em descartar itens, ansiedade ao
pensar em se desfazer de objetos, e uma sensação de conforto ao estar cercado
por suas coisas.
Ao longo do tempo, com paciência e
apoio, Dona Clara começou a fazer escolhas conscientes sobre o que manter. Cada
objeto descartado representava um passo em direção à liberdade emocional.
Assim, entre o passado e o presente,
Dona Clara aprendeu a valorizar as memórias sem deixar que o peso do passado
sufocasse seu presente. O que parecia uma casa entulhada de objetos tornou-se,
aos poucos, um lar onde o espaço para novas histórias pôde florescer.
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