segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

CRÔNICA: Os meninos invisíveis

 

Era uma vez uma cidade escondida nas sombras, que apesar de pequena, a violência e a criminalidade eram constantes. A principal violência era doméstica, como  a maioria das mulheres daquele lugar. Em meio  a esse cenário sombrio, vivia uma criança chamada Lucas, de apenas 11 anos de idade. Vivia a  brincar com o primo José, que todos fazendo uso da lei linguística do menor esforço;  chamava de Zé. Zezinho para a mãe e Zinho para os amigos. O que vem a "Calhar" com sua situação social. Infelizmente, a realidade de ambos era marcada pela pobreza e pela falta de oportunidade.

Lucas e José pertenciam a famílias desestruturadas, onde o desemprego e a escassez de recursos eram suas realidades. O Pai de José, desiludido com a vida, despereceu e sua mãe lutando para sustentar a família, mal conseguia colocar comida na mesa. A situação era desesperadora. Lucas não  era diferente, no entanto, o pai não desperecera, mas vivia mergulhado num  lago açu de bebidas alcoólicas. 

Nesse contexto, Lucas e José encontraram apoio e acolhimento em um lugar inesperado: um traficante local conhecido como Marcelo. Contrariando todas as expectativas, a família de Lucas teve uma conversa franca e decidiu que ele poderia se juntar ao tráfico de drogas, pois era uma forma de garantir o sustento da família e sua própria sobrevivência. Nessa esdruxula negociação,  José foi de brinde.

No começo, José sentia medo, Lucas incerteza afinal, ele era apenas uma criança. Mas, em meio à escuridão, ele  encontrou  uma espécie de família adotiva no ambiente hostil das ruas. Marcelo o traficante, viu neles uma inocência que havia perdido há tempos e decidiu protegê-lo como se fosse seus próprios filhos. Já José, encontrara no traficante o Pai que houvera perdido para o mundo e chegou quase a  amá-lo como se fosse seu pai.

Lucas aprendeu a lidar com o jargão das ruas, a negociar e a sobreviver no meio do crime organizado. Ele se tornou o "garoto de recados", tão rápido quanto um "Avião" responsável por entregar pacotes e mensagens nos pontos de venda de drogas espalhados pela cidade. Apesar dessa  realidade sombria, ele mantinha a sua inocência e  esperança de um dia escapar desse mundo perigoso.  José por sua vez, tornou-se de confiança do "Pai", era uma espécie de espião e passava informações privilegiadas para Marcelo sobre qualquer coisa que pudesse atrapalhar os negócios.

Aos poucos, porém, Lucas começou a questionar sua situação. Ele via o impacto negativo que o tráfico de drogas causava na comunidade. Amigos de infância se perdiam para o vício e a violência se intensificava. Ele sabia que aquele  não era o caminho certo, mesmo que fosse a única forma de sustento para sua família. 

Certa noite, aproximadamente dezenove horas e vinte e cinco minutos,  José fez a  primeira "ronda" da noite, deitou-se na rede em que Marcelo costumava deitar, balançava-se enquanto  assistia televisão, a janela da casa que dava pra rua deixou aberto na expectativa que entrasse eu ventinho, de repente  um homem moreno claro, estatura mediana pra alta, passou a pé na rua e efetuou um disparo de arma de fogo para dentro da residência , atingindo José que estava na rede. Certamente o alvo dos disparos poderia ser Marcelo, já que o mesmo costumava deitar na rede nesse horário.

A notícia choca a cidade e ganha o mundo. No quartel do 15º BPM  o comandante Major Berredo olhava-se no espelho com ar de revolta e preocupação.  O distintivo que indicava sua patente parecia não representar nada nessas horas de dor. Agora de nada valeria questionar o apoio do conselho tutelar, do ministério publico e dos conselhos de assistência social. Cada dia que passava tinha mais certeza que segurança publica começava na família, passava pela escola e terminava numa trabalhos coletivo da sociedade. Tomou um corpo de água, engolido a seco a realidade, ainda mais quando soubera que no velório da criança, comentava-se a bocas pequenas que o tiro que matou José poderia ter sido disparado pelo próprio Marcelo numa suposta briga com a esposa e acabou atingindo a criança.

Depois da morte de José, Lucas sentiu-se sozinho no mundo. Com coragem e determinação, decidiu mudar o rumo de sua vida. Buscou ajuda junto a instituições sociais e encontrou pessoas dispostas a ajudá-lo a abandonar o mundo do crime. Com o apoio  da maçonaria e a colaboração de um programa de proteção às crianças em situação de risco, ele foi afastado do ambiente perigoso onde vivia.

A trajetória de Lucas serve como alerta para as consequências da desigualdade social e da falta de oportunidades. Mostra também a importância de oferecer apoio e soluções concretas para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Afinal, todas as crianças merecem um ambiente seguro e oportunidades de crescimento, independentemente das circunstancia em que nasceram.

Prezado leitor ou leitora, essa é uma história fictícia, mas infelizmente reflete uma realidade que muitas crianças enfrentam em diferentes partes do mundo. É nosso dever como sociedade garantir que todas as crianças tenham acesso a uma vida digna, cercada de amor, proteção e oportunidades de crescimento.

Por José Casanova



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