terça-feira, 23 de janeiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: Canção Silenciada dos Povos Originários

No coração da terra onde o verde se mistura com  as águas pardas dos rios, existe uma história que ecoa através das eras, uma narrativa entrelaçada com as raízes do solo, as folhas das árvores, e os murmúrios dos ventos. É a história dos povos indígenas do Brasil, cujas vozes, um dia tão vibrantes quanto o canto dos pássaros ao amanhecer, foram silenciadas pelo descaso, pela indiferença e pela violência.

Desde o primeiro contato com os colonizadores, as tribos indígenas foram confrontadas com a fúria de uma tempestade que nunca se acalmou. Palavras em Tupi Guarani, uma língua que flui como o próprio Rio Amazonas, carregam consigo a tristeza de um passado manchado de injustiças. O "Nhanderu" que era reverenciado, testemunhou o desenrolar de tragédias, enquanto a terra que antes pulsava vida tornou-se testemunha silenciosa de uma verdade brutal.

Hoje, em meio a florestas que ainda ecoam os lamentos do passado, existem, segundo levantamento do Instituto sócio ambiental,  mais de 266 povos indígenas no Brasil, das etnias  Guarani, Ticuna, Caingangues, Macuxi, Yanomami, Terena, Guajajara, Xavante, Potiguara, Pataxó, verdadeiros guardiões da natureza, cujos territórios são sagrados para a preservação do equilíbrio vital do nosso planeta. Principalmente, os Yanomâmis, que viram suas terras serem invadidas e suas crianças, sementes de esperança, caírem como folhas secas.

Estes povos, falam cerca de 160 famílias linguísticas, “maioria dessas famílias linguísticas — como o tupi-guarani, o juruna, o mundunkuru, o jê, o karajá e o maxakali — pertence a dois troncos: o tupi e o macro-jê”.

A história desses povos é um  complexo e doloroso  livro que ainda está sendo escrito. A indiferença das autoridades, como um vento frio cortante, varreu as necessidades dos indígenas para debaixo do tapete da negligência. A busca desenfreada por recursos, muitas vezes disfarçada como desenvolvimento, tornou-se a maior ameaça para esses povos que têm a terra como mãe e a natureza como irmã.

Os Ianomâmis, como tantas outras tribos, são os guardiões das florestas, os vigias das águas, os cantores da biodiversidade. Seus corações pulsam em harmonia com a terra, e suas almas estão entrelaçadas com o destino da natureza que protegem. As crianças, com seus olhos cheios de curiosidade e esperança, representam a continuidade dessa ligação sagrada.

Hoje, enquanto levamos adiante o cajado da existência, é imperativo que as novas gerações despertem para a urgência de respeitar e preservar os povos originários. É hora de curar as feridas do passado, de plantar sementes de compaixão e compreensão. Os Ianomâmis, os Guajajaras e todos os povos indígenas, merecem mais do que respeito; merecem justiça, merecem ser ouvidos, e merecem o direito inalienável de viver em paz nas terras que seus ancestrais protegeram por séculos.

A floresta é a sinfonia da vida, e os povos indígenas são seus maestros. Nossa responsabilidade é assegurar que a canção não seja silenciada, que a harmonia perdure, e que as próximas gerações aprendam a dança da coexistência respeitosa com aqueles que sempre foram os verdadeiros guardiões da natureza.

José Casanova
Professor, Jornalista e Escritor membro da
Academia Bacabalense de Letras

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