sábado, 20 de janeiro de 2024

CRÔNICA DO DIA: Aporofobia

 

Hoje, mergulharemos nas profundezas  da sociedade, onde a aporofobia, essa criatura insidiosa, tece suas teias imperceptíveis de discriminação. Aporofobia, um termo nascido da junção das palavras gregas "áporos" (pobreza) e "phóbos" (medo), não é apenas o temor aos menos favorecidos financeiramente, mas sim uma repulsa enraizada na exclusão social. O Neologismo criado pela filósofa espanhola Adela Cortina, além de designar aversão aos pobres também é utilizado para explicar suas implicações na democracia.

Nos meandros da aporofobia, os fundamentos são construídos sobre o alicerce da desigualdade. É o medo da pobreza personificado, a rejeição daqueles que estão à margem, lutando contra as correntes invisíveis da miséria. As causas desse fenômeno multifacetado residem na fragilidade da empatia, na falta de compreensão das realidades diversas que permeiam nossa existência difundindo estereótipos negativos associando  a pobreza ao perigo.

A origem da aporofobia remonta a tempos imemoriais, quando as sociedades começaram a diferenciar-se em estratos socioeconômicos. É alimentada pelo desconhecido, pela ignorância acerca das lutas diárias dos menos afortunados. A separação entre "nós" e "eles" cresce, semeando as sementes da aporofobia em solo social já fértil para a intolerância num país como o Brasil, construído pela mão de obra escravizada.

Exemplos de aporofobia surgem em diversas esferas da vida cotidiana. É visível nas expressões de desdém ao mendigo que estende a mão, nas portas fechadas aos desabrigados em noites frias. Ela se manifesta nos olhares atravessados ao passar por aqueles que buscam um lugar ao sol em meio à multidão. São gestos pequenos, mas permeados por uma grande barreira de indiferença.

Padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua em São Paulo, costuma denunciar nas redes socias  exemplos de aporofobia presente na arquitetura “antipobres”, comum nas grandes cidades como “uso de grades, espetos de ferro, cacos de vidros” em espaços púbicos para “evitar a presença e a permanência dos mais pobres, prinipalmente pessoas em situação de rua’, além dessas barreias físicas e sociais que nos dá uma “Sensação de segregação” ainda há lojas que orientam  seus clientes a não ajudarem pessoas em situação de rua.

Para combater a aporofobia, é imperativo construir pontes de compreensão. A empatia deve ser cultivada como uma flor delicada que, uma vez regada, floresce em cores vibrantes. Passam por procedimentos “ políticos  e educativos” que sejam capazes  de diminuir as desigualdades Educação é a luz que dissipa as sombras do desconhecido. Conhecer as histórias por trás dos rostos esquecidos é o primeiro passo para quebrar as correntes que aprisionam a compaixão.

As consequências da aporofobia são a rejeição e a “exclusão de pessoas pobres em espaços públicos e privados”. Os meios de comunicação precisam parar de retratar os pobres de maneira negativa. Essa postura da mídia alimenta um ciclo de desumanização que corrói os alicerces da sociedade, minando a solidariedade que é essencial para um convívio saudável. As cicatrizes deixadas pela exclusão são profundas, transformando-se em feridas abertas que sangram em cada interação desigual.

Neste palco da vida, a aporofobia é uma peça macabra que, se não desafiada, continuará a obscurecer a beleza da diversidade humana. Cabe a cada um de nós assumir a responsabilidade de iluminar os recantos mais escuros com a luz do entendimento e da aceitação. Só assim poderemos verdadeiramente construir uma sociedade onde a pobreza não seja um estigma, mas uma chamada à compaixão e à mudança. Que venham novas políticas públicas de combate à pobreza.

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