O Estado do Maranhão hoje, ao mesmo tempo, se debate entre as páginas de sua história e as feridas abertas da contemporaneidade. As sombras do passado, muitas vezes, insistem em se projetar sobre o presente, e, nessa tessitura complexa, desdobram-se tramas que revelam um lado nefasto e persistente da sociedade: O trabalhos escravo em pleno século XXI.
Segundo dados do próprios governo federal , o Brasil teve em 2023, o número de 3.422 denúncias de trabalho escravo. Em 12 meses 61% a mais do que em 2022. O Código Penal Brasileiro em seu artigo 149 afirma que o trabalhos escravo moderno "É caraterizado pela submissão de alguém a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou seu preposto". O resgate de pessoas em situação análoga à escravidão, foi o maior em 14 anos.
Nos últimos anos o Maranhão vem se destacando como um dos estados como maior fornecimento de mão de obra escrava no Brasil. É impossível falar de trabalho análogo a escravidão e não citar a luta de dona Pureza de Bacabal no Maranhão, sua história de vida foi imortalizada pela sétima arte, na brilhante intepretação da Atriz Dira Paes, no premiadíssimo "Pureza - o filme".
Dona Pureza, mulher forte e resiliente, representa a luta contra o impensável: o ressurgimento de trabalhos análogos à escravidão em solo maranhense e em outros estados brasileiros. A terra que um dia foi testemunha do grito de liberdade dos escravizados, agora ecoa com os sussurros de uma realidade que desafia a memória coletiva.
Em meio aos vastos campos e fazendas, onde o verde da natureza tentava encobrir as cicatrizes sociais, dona Pureza empreendia uma jornada solitária na busca pelo seu filho, aprisionado nas correntes modernas do trabalho escravo. Uma mãe destemida, com essa atitude de Mãe Coragem, ela se tornava a voz daqueles que eram reduzidos ao silêncio pela exploração desumana.
A história de dona Pureza entrelaça-se com o trágico enredo que ainda assola não apenas o Maranhão, mas também o Brasil e o mundo. É uma narrativa que reverbera além das fronteiras geográficas, revelando a persistência de um problema global que desafia os limites éticos e morais da sociedade contemporânea.
A escravidão moderna, com suas correntes invisíveis, não se limita a uma única nação. Estende-se como uma teia sinistra, conectando países e continentes, enquanto a humanidade, paradoxalmente, avança em outros aspectos. Os elos da exploração são forjados não apenas por grilhões físicos, mas também por sistemas econômicos complexos que perpetuavam a desigualdade: o capitalismo selvagem capaz de transformar o homem moderno em verdadeiros primatas morais.
Dona Pureza, em sua busca incansável, personifica a resistência contra um mal que, embora transformado, persiste em atormentar a consciência coletiva. Seus passos eram marcados por uma determinação que refletia os ancestrais que, um dia, também sonharam com a liberdade.
Ao narrar a saga de dona Pureza, somos confrontados com a urgência de romper os grilhões do silêncio e da indiferença. O Maranhão, berço de histórias de lutas e conquistas, não pode permitir que os traumas do passado obscureçam o brilho de um futuro justo e livre para todos os seus filhos.
Que as tramas do tempo nos ensinem que a liberdade é um direito inalienável, e que as histórias de dona Pureza sirvam como um chamado à ação, recordando-nos de que a verdadeira grandeza de uma nação reside na garantia da liberdade e dignidade para cada um de seus cidadãos
Por José Casanova
Dona pureza, mulher de grande coragem e exemplo de deteminação.
ResponderExcluirZezinho casanova, esta crônica é tão necessária e como é admirável a sua sensibilidade para as causas sociais. Parabéns pela belíssima crônica.