Foto: Arquivo/Secom Governo do Maranhão
A governadora Roseana Sarney acompanha (via link de Brasília), nesta terça-feira (30), às 16h40, no Palácio dos Leões, a reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural que, em Brasília, na sede do Iphan, que avaliará o registro do Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão como Patrimônio Cultural do Brasil.
Representante do Iphan, secretários de Estado e integrantes de grupos de bumba meu boi de diversos sotaques estarão presentes. A proposta foi apresentada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pela Comissão Interinstitucional de Trabalho no ano de 2008.
A comissão é composta pela Superintendência Regional do Iphan e atual Superintendência do Iphan no Maranhão, Secretaria de Estado de Cultura, Fundação Municipal de Cultural, Comissão Maranhense de Folclore, Grupo de Pesquisa Religião e Cultura Popular da UFMA, representantes dos Grupos de Bumba meu boi dos Sotaques da Baixada, Matraca, Zabumba, Costa de mão, Orquestra e de Bois Alternativos.
Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro de bens do patrimônio cultural brasileiro, presidido pelo presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 22 conselheiros de instituições como Ministério do Turismo, Instituto dos Arquitetos do Brasil, Sociedade de Arqueologia Brasileira, Ministério da Educação, Sociedade Brasileira de Antropologia e Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e da sociedade civil.
Histórico
Bumba meu boi do Maranhão
O boi, segundo o dossiê descritivo do DPI/Iphan, já era objeto de culto em diversas sociedades do mundo desde a pré-história.
Em algumas grandes festas populares do Brasil, a figura do boi é o elemento central, sendo que essas festas do boi ocorrem em todas as regiões. São brincadeiras como o bumba meu boi, boi bumbá, Boi Surubi, Boi Calemba, Boi Pintadinho, Boi Barroso, Boi Jaraguá, Boi de Canastra, Boi de Reis, Reis de Boi, entre outros.
Em relação ao bumba meu boi do Maranhão, uma das diferenças é o momento do ano em que as festas acontecem. Em geral, no Norte do país, as festas ocorrem durante o chamado Ciclo Junino, assim como o bumba meu boi do Maranhão. Já nos outros estados do Nordeste, os festejos se concentram próximo do Natal.
A festa comporta diversos estilos de brincar - chamados de sotaques - praticados por homens e mulheres, de diferentes classes sociais e que atuam profissionalmente como estivadores, pescadores, trabalhadores rurais e pequenos comerciantes.
De um modo geral, o auto do bumba-meu-boi é apresentado como a morte e a ressurreição de um boi especial.
As apresentações cômicas são feitas com grande participação do público e são entremeadas por toadas curtas contando a história sobre um boi precioso e querido pelo seu amo e pelos vaqueiros. Pai Francisco, o escravo de confiança do patrão, mata e arranca a língua do boi para satisfazer os desejos de grávida de sua esposa, Mãe Catirina. O crime de Pai Francisco é descoberto e por isso ele é perseguido pelos vaqueiros da fazenda, caboclos guerreiros e os índios.
Quando preso, são infligidos terríveis castigos e, para não morrer, Pai Francisco se vê forçado a ressuscitar o animal. É quando o doutor entra em cena para ajudar a trazer à vida o boi precioso, que, ao voltar, urra. Todos, então, cantam e dançam em comemoração. Como em muitas festas populares, o bumba meu boi também requer grande dedicação e preparo dos participantes ao longo do ano.
É necessário fabricar as vestimentas e treinar as toadas, entre outras atividades que, em geral, se concentram no fim do primeiro semestre e no início do segundo semestre. Os festejos podem ser divididos em quatro etapas: os ensaios, o batismo, as apresentações e a morte do boi.
Os ensaios começam no Sábado de Aleluia e seguem até a primeira quinzena de junho. Na véspera do Dia de São João, em 23 de junho, as rezadeiras fazem o batismo do boi que é acompanhado pelos participantes na sede dos grupos, nas Igrejas católicas ou em casas de culto afrobrasileiro. Esse é o momento de purificação do novilho, quando São João dá permissão para o boi brincar.
A partir daí começam as apresentações que se concentram no fim do mês de junho e vão até o dia de Sant’Ana, em 26 de julho.
Em São Luís, por exemplo, ocorrem em arraiais financiados pelo governo estadual e municipal, nas casas ou em arraiais de instituições. Existem dois grandes eventos que marcam a etapa de apresentações na cidade de São Luís: a alvorada na Capela de São Pedro, no bairro de Madre Deus, no dia 29 de junho, e o desfile da Avenida São Marçal, no bairro de João Paulo, no dia 30 de junho. Com o fim do ciclo festivo, os grupos começam a programar a morte do boi, um momento para encenação política, pois o tamanho da festa é diretamente proporcional ao prestígio daquele boi e do seu grupo na cidade.
A festa da morte, quando o boi retorna para São João, pode durar de dois a sete dias e envolve um elaborado ritual com ornamentos, toadas e encenação.
O universo místico-religioso e social da festa maranhenseDurante a realização do Inventário Nacional de Referência Cultural – INRC sobre o bumba meu boi do Maranhão, os técnicos do DPI/Iphan destacaram que a festa possui profundas relações com as esferas religiosas da vida através do catolicismo popular e das religiões afrobrasileiras e também se associa às expressões lúdicas.
Os participantes fazem o boi para pagar promessa ou como oferenda a entidades espirituais, por exemplo, como existem também aqueles que querem apenas fazer a sua apresentação. Desta forma, o bumba meu boi do Maranhão está presente em muitas dimensões da vida social dos participantes, tanto que existem regiões no estado onde os grupos fazem visitas às covas de cemitério para saudar os mortos, reforçando a relação que o ciclo festivo estabelece com o ciclo vital, com a vida e morte de bois e homens.
Medidas de Salvaguarda
Ao concluir que é no contexto da celebração que o universo místico-religioso com a devoção a São João, outros santos juninos e de cultos afrobrasileiros, as músicas, as danças, o teatro, os artesanatos, entre outros, alcançam seus sentidos plenos e se transformam no bumba meu boi maranhense, o Iphan indica o registro do Complexo Cultural do Bumba meu boi do Maranhão como Patrimônio Cultural do Brasil.
Para preservar a festa, o DPI/Iphan sugere algumas medidas de salvaguarda como o incentivo à documentação, conhecimento e divulgação; fortalecimento e apoio à sustentabilidade dos grupos; e valorização das expressões tradicionais do Bumba meu boi. Entre as sugestões de salvaguarda estão a implantação de políticas públicas em municípios do interior para integrar os grupos, buscando a valorização de expressões locais e a redução da discriminação.
Também é necessário criar novos espaços para a apresentação dos grupos, aproximando integrantes e a plateia, com o objetivo de manter viva a prática de sociabilidade tradicional do bumba meu boi, baseadas na aproximação entre brincante e espectador.
Outro patrimônio do Maranhão
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural também já avaliou o tambor de crioula do Maranhão como Patrimônio Cultural do Brasil.
A manifestação foi inscrita no Livro das Formas de Expressão em 2007.
FONTE: Imirante
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