sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Estudantes denunciam caso de preconceito sociorracial na Ufma

POR SAMANTHA FERNANDES
Especial para o JP

Estudantes do primeiro período do curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão (Ufma) denunciaram ontem ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da universidade um caso de suposto preconceito sociorracial, que teria sido praticado na instituição. Os alunos afirmam que o professor Alonso Reis Siqueira Freire, que ministrou, no primeiro semestre, a disciplina Introdução ao Estudo do Direito, praticou segregação dos alunos com maior poder aquisitivo brancos dos mais carentes e negros. No início de julho, o aluno nigeriano Nuhu Ayuba, de 21 anos, denunciou por racismo o professor José Cloves Verde Saraiva, 57, do curso de Engenharia Química da Ufma. A denúncia foi publicada em primeira mão pelo Jornal Pequeno e repercutiu nacionalmente. O professor Cloves se retratou.



Outra denúncia de racismo atinge a Universidade
Preconceito – Um aluno do curso de Direito da Ufma – que preferiu não se identificar, com medo de represálias – afirmou à reportagem do JP que o professor Alonso Freire praticava preconceito na metodologia utilizada em sala de aula. Ele contou que 13 alunos do turno matutino ficaram reprovados na disciplina ministrada pelo professor acusado e 35 do turno da noite desistiram ou reprovaram.
“A disciplina Introdução ao Estudo do Direito é pré-requisito para outras matérias do segundo semestre. Todos os que ficaram reprovados ou são pobres ou são pobres e negros. Acreditamos que existe sim um preconceito mascarado nas atitudes do professor, uma vez que ele disse em sala de aula que a Ufma não sabe fazer a seleção dos alunos, e ele, enquanto professor, iria fazer a triagem dos melhores”, afirmou o estudante.
A reportagem do JP conversou com outros calouros do curso de Direito e eles afirmaram ter presenciado vários indícios de preconceito durante as aulas. Um deles contou que um colega de turma, que é negro, teve um grave problema de saúde e apresentou atestado médico pedindo prova de segunda chamada, mas o professor negou o pedido, sendo que concedeu prova de segunda chamada a outros alunos que viajaram a passeio para outros países.
“Então, como nós não possuímos poder aquisitivo para viajar para a Europa não temos o direito de fazer uma segunda prova? E o motivo do aluno era doença. Ele nos pressiona a desistir do curso nos reprovando, sabendo que é quase impossível continuar na universidade sem a conclusão da cadeira”, afirmou o estudante.
Os alunos afirmaram que o professor Freire protelou o fim da disciplina até o dia 2 deste mês, sendo que o período de matrícula encerrou no dia 31 do mês passado. Segundo os estudantes, o professor atrasou o fim da cadeira para que os alunos ficassem reprovados e não conseguissem se matricular para o próximo semestre.
Os calouros contaram ainda que o professor escolhia sempre alunos brancos para explicar questões levantadas durante as discussões em sala de aula valendo 2,5 pontos.
Segundo os estudantes, se um negro ou desfavorecido socialmente se manifestasse para responder, 
mesmo respondendo de forma correta a questão, não obtinha os 2,5 pontos.
Uma estudante contou que numa prova oral, com duas questões, cada uma valendo cinco pontos, ela respondeu corretamente às duas questões, mas ele fez outras perguntas até que ela errasse.
“Eu sou mais uma das que ele marcou desde o início do período. Além de ser pobre, não concordei com algumas teses defendidas por ele em sala; por isso, fui perseguida pelo professor”, contou a estudante.
Ideias nazistas – O professor Alonso Reis, também foi acusado pelos alunos de defender ideias associadas ao nazismo. “Em uma aula ele falou que infelizmente no nosso país, diferentemente de outros, não temos a liberdade de dizer que temos preconceito contra negro, judeu, homossexual. Ele disse que preconceito contra judeu até podemos ter, matar é que é o problema”, afirmou um dos estudantes.
Os estudantes informaram que havia em torno de 100 alunos matriculados na disciplina de Introdução ao Estudo do Direito. Destes, 47 reprovaram e 90 por cento dos reprovados eram estudantes negros.
Um dos alunos que ficou reprovado na disciplina afirmou que não vai desistir. “O curso de Direito sempre foi um sonho, e não é por causa de pessoas assim, como o professor Freire, que vou desistir. Pretendo cumprir meu papel social, agora enquanto estudante, e no futuro como bacharel em Direito”, disse o calouro.
Os alunos do primeiro período do curso de Direito da Ufma já entraram com uma ação anônima no Ministério Público Federal (MPF) contra o professor Alonso Reis. “Temos muito medo do que pode acontecer. Ainda vivemos num Maranhão oligárquico comandados por quem tem influência política. Sabemos que essa denúncia pode acabar com carreiras que ainda nem começamos a construir, principalmente porque o professor Freire é irmão do coordenador do curso de Direito da Ufma, Alexandre Reis Siqueira Freire, e parente do senador Mauro Fecury”, declarou um estudante.
Após a reunião realizada ontem pela manhã com os estudantes do curso de Direito, a coordenação do Neab informou que vai apurar e esclarecer as denúncias apresentadas pelos alunos.
Outro lado – O professor Alonso Reis foi procurado ontem pela manhã pela reportagem do JP na Coordenação do curso de Direito da Ufma, mas não foi encontrado.

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