Por Paolla Arnoni
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
A imprensa e a ufologia - Ataque em verde e amarelo
novembro 19, 2010
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Com a onda de invasões ocorrendo pelo mundo, o Brasil não poderia ficar de lado. Em 22 de novembro de 1954 em Caratinga, Minas Gerais, uma estação de rádio transmitiu em detalhes uma invasão alienígena. O detalhamento dos “marcianos”, suas naves e armas causaram pânico em todos os ouvintes. A notícia não se limitou, jornais da capital mineira enviaram seus repórteres à Caratinga para cobrir a suposta invasão alienígena. Não satisfeito, o radiotelegrafista pediu – com conotação apelativa e insistente - que as Forças Armadas fossem enviadas ao local. O Ministério da Aeronáutica, sob comando de um coronel, enviou um avião com seus acessórios para defesa e ataque. A notícia foi retransmitida ao estado do Rio de Janeiro, o que fez a situação se alarmar ainda mais, porque mais pessoas acreditaram no caos gerado supostamente por seres de outro planeta. O telefone da redação do jornal de Belo Horizonte não parava de tocar com ouvintes solicitando mais informações sobre o suposto ataque.
No momento em que a imprensa carioca começaria a documentar o suposto ataque, uma chamada desmente o ocorrido:
Aqui não desceu disco nenhum, cidade na mais perfeita calma. (Jornal Última Hora, 1954)
Pouco depois desta notícia, a cidade voltou ao seu estado normal, as pessoas retornaram seus afazeres e o avião enviado pela FAB regressou. Os jornais da época afirmaram que esse “trote” não passou de uma brincadeira de mau gosto provocada pelo locutor, pois ele achava a cidade extremamente monótona. A revolta dos cidadãos e do diretor regional do departamento dos correios e telégrafos (DCT) resultou na abertura de um inquérito para a devida apuração do caso. Inspirado na catástrofe de Orson Welles, o profissional narrou a hipótese de um ataque para o aumento da audiência de sua rádio.
Anos mais tarde, em 30 de outubro de 1971, em São Luís do Maranhão, a Rádio Difusora - líder de audiência - comemorava seu oitavo aniversário. Em meio à programação, o radialista anuncia a entrevista com um astrônomo do observatório nacional, que estava em solo maranhense, para investigar vestígios de um disco voador que teria pousado próximo à capital. Minutos depois a rádio informa que um cientista presenciara uma série de explosões na superfície de Marte em direção ao planeta Terra. Esta notícia, dada em meio ao terror dos ouvintes, contribuiu para crer na veracidade da invasão. Com o intuito de atrair mais anunciantes e aumentar sua audiência, os diretores da radio planejam essa estratégia, e para que não houvesse um transtorno de fuga na região divulgam que a nave pousara na entrada da cidade e que uma equipe de reportagem foi desintegrada pelos seres extraterrestres. Informa ainda que o Exército Brasileiro aguarda ordens expressas da Força Aérea para controlar a situação. É cada vez mais dramático o cenário da cidade. O pânico surge depois de informar que houve uma queda de uma esfera brilhante de 20 metros de diâmetro e a aproximação de uma nuvem negra à capital, e que o mesmo estaria acontecendo em solo carioca.
As conseqüências tomam proporções tamanhas que a rádio sai imediatamente do ar por consenso de Juízes Federais, Procurador da Justiça Estadual e Delegado da Polícia Federal. Medidas mais severas não foram tomadas porque os líderes da rádio editaram a gravação da invasão acrescendo um trecho que afirmava ser uma ficção inspirada em Orson Welles, mesmo com essa medida falsa, o Comandante do 24º Batalhão de São Luís obriga aos locutores a cada meia hora a veicular uma nota de esclarecimento para tranqüilizar a população.
A dita preocupação do roteirista em não causar pânico entre os cidadãos e os órgãos governamentais não convence, até um esquadrilha da FAB (Força Aérea Brasileira) de Belém sobrevoou a região de São Luiz e no final da transmissão do programa de rádio recebeu ordens expressas de ignorar seu destino e retornar à base. Já entre os civis, os casos mais graves foram de algumas pessoas feridas devido ao caos e à invasão da emissora por telespectadores revoltados com a transmissão. Em meio à confusão algumas pessoas ameaçaram cometer atentados à bala contra a emissora e seus proprietários.
Este caso mistura elementos inexistentes de outras farsas jornalísticas com relação ao fenômeno UFO. Ocorre durante o auge da ditadura militar, ou seja, uma farsa dessas ultrapassa as medidas de censura e o caso acontece durante o período em que a Guerra Fria se acirra entre Estados Unidos e a extinta URSS.
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