terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Polêmica: livro preconiza fim da dominação dos homens


Livro “O fim do homem e a ascensão das mulheres”: uma boa polêmica
No livro The End of Men and The Rise of Women (O fim do homem e a ascensão das mulheres), ainda não publicado no Brasil, a jornalista americana Hanna Rosindefende que após séculos de de dominação masculina, os próximos anos serão das mulheres.
A tese da Hanna, segundo Maria Laura Neves, que escreveu sobre o livro para a revista Claudia, é que as mulheres estão mais aptas do que os homens a responder às demandas da nova economia, baseada nos serviços.
“Somos mais qualificadas – 60% dos formandos nas universidades brasileiras são mulheres – e temos habilidades valorizadas hoje, como facilidade para a comunicação, versatilidade e capacidade de conciliação”revela.
A tese, como era de se esperar, gerou muitas críticas. Veja abaixo quatro especialistas incrementam o debate.
Esquecido e desfavorecido
“Esta não é a primeira vez que uma recessão coloca as mulheres no papel de vencedoras e os homens assumem o de perdedores. Em 1848, o filósofo alemão Friedrich Engels escreveu que, em tempos de crise econômica, os homens pobres ficam em casa e as mulheres saem para trabalhar. Durante a Grande Recessão da década de 1930, elas entraram no mercado de trabalho porque muitos foram demitidos. Então, essa discussão tem pelo menos 160 anos. Acredito que a atual crise vai passar e que não estamos diante do `fim¿ do homem. Ocorre que, quando o mercado está mais cauteloso, a maneira feminina de agir realmente é mais valorizada. Em geral, os homens são mais adeptos do risco. Mas, no final, como o capitalismo é movido pela ambição e pelo gosto ao risco, penso que quem chega ao poder é – e tem de ser – mais agressivo e competitivo. E os homens são melhores do que as mulheres nisso.
De qualquer forma, não é fácil ser homem (mas não estou querendo dizer que é fácil ser mulher!). As estatísticas mostram que eles ainda trabalham mais horas do que elas. Os postos mais perigosos, sujos e pesados são ocupados por eles. Para ter uma ideia, cerca de 90% das mortes em acidentes de trabalho nos Estados Unidos são de pessoas do sexo masculino. Eles também são as maiores vítimas de crimes violentos e vivem menos do que as mulheres. Homens têm um custo de vida menor, mas pagam mais impostos. E, mesmo assim, recebem menos benefícios do governo. Quais países oferecem direito à licença-paternidade? Homens não amam os filhos menos que as mulheres, mas as leis do divórcio são favoráveis às mães em muitos países. O pai que se separa e consegue a guarda dos filhos é exceção. São todas questões já antigas, e eu ficaria surpreso se fossem resolvidas. Talvez isso aconteça em um mundo gerido por mulheres – o que não acredito que vá acontecer.”
Novo sexo frágil
“Não acredito no ‘fim dos homens’, mas em uma crise da masculinidade que começou há anos e ainda não foi resolvida. À medida que o poder foi deixando de ser exclusivamente masculino, eles passaram a se dedicar mais aos filhos e à casa e a prestar atenção nos próprios sentimentos. Aí se assustaram e se amedrontaram com a própria fragilidade. Ficaram perdidos e deprimidos. A ascensão feminina continuou, abalando cada vez mais a autoestima dos homens, porque a masculinidade se confirma pelo poder e pela vitória. Se as mulheres tomam a dianteira de tudo, eles não sabem o que fazer. Outro ponto que fragiliza é que os homens perderam espaço no mercado, mas não se afirmaram completamente em casa. Por exemplo, quando se dispuseram a se aproximar mais dos filhos, encontraram resistência. Raramente a mulher quer mesmo dividir o poder dentro de casa. Qual de vocês nunca criticou o marido por não dar banho ou vestir o filho do jeito certo quando ele resolve fazer isso sozinho? A atitude deixa o homem desestimulado e o paralisa. Porque não há jeito certo de cuidar dos filhos ou da casa. Existem jeitos diferentes. Homens e mulheres precisam aprender a dividir o poder, dentro e fora de casa.”
Era de igualdade
“Discutir o fim do homem e a ascensão da mulher da maneira como propõe a teoria de Hanna Rosin não acrescenta nada ao debate da igualdade de direitos. O machismo se baseia na noção de superioridade inata do homem e nas diferenças absolutas entre os gêneros, que nunca foram comprovadas. Sugerir uma nova era em que o poder e as regras serão invertidos é se basear nas mesmas premissas do machismo. A maioria dos americanos acredita que homens e mulheres são iguais. Suspeito que há pessoas interessadas apenas em colocar fogo na guerra dos sexos porque isso vende livros.
Analisando as mudanças apontadas pela autora, o que vejo, na verdade, é um novo período, em que homens e mulheres terão a mesma autonomia. Penso que a crise da masculinidade exista apenas entre os homens que não aceitam que a mulher ganhe mais ou tenha mais prestígio do que eles. Não acho que se trate de uma crise generalizada, e sim de uma aflição que atinge somente aqueles que ainda não se adequaram a uma era de igualdade. Não estamos mais em uma guerra entre os sexos. Isso é resíduo de uma mentalidade masculina estreita, criada por uma ideologia patriarcal, da qual alguns têm dificuldade de escapar. Considero importante ressaltar que as questões que prejudicam homens negros ou gays não estão contempladas nesse tipo de discussão. O segundo grupo, por exemplo, desafia o conceito de masculinidade há décadas e nada foi dito sobre isso.”
Longa jornada
“Não estamos nem perto de presenciar o fim do homem no Brasil. Estudos mostram que a velocidade da participação feminina em espaços predominantemente masculinos vem diminuindo da década de 1990 para cá. A escalada das mulheres a postos de poder foi intensa entre os anos 1970 e 1980, mas, depois, o ritmo diminuiu. E nós ainda ganhamos 70% do salário deles. Além disso, nossa ocupação do mercado de trabalho não levou a alterações na divisão das responsabilidades em casa e dos serviços domésticos. Isso continua em nossas mãos. Mulheres gastam cerca de dez horas semanais com tarefas da casa, enquanto os homens utilizam apenas uma hora com isso. A vida deles não mudou nada com nossa entrada no mercado de trabalho ou nossa ascensão a postos de poder. Mas nós ficamos mais sobrecarregadas. Outro ponto é que, diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos, por aqui a crise econômica de 2008 abalou mais as mulheres que os homens. Um estudo do governo federal mostrou que, no Brasil, o emprego delas foi mais afetado que o deles. Um detalhe é que, quando um homem perde o trabalho, ele se mantém no mercado na categoria de desempregado. Quando é com a mulher, ela volta para casa e sai do páreo. Não vejo nenhum grande avanço.”

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