O sol de agosto estava impiedoso. No sertão maranhense, parecia que o céu havia descido para assar a terra. O chão, rachado, deixava escapar um pó fino, e o cheiro de fumaça se misturava ao vento seco, denunciando que em algum lugar, não muito longe dali, a vegetação ardia.
No povoado de Pedra Preta, na zona rural de Arame, três figuras se encontravam sob o abrigo minguado de um pé de juçara, cuja copa magra projetava uma sombra tão rala que era mais lembrança do que alívio.
O vento que passava parecia concordar. Trouxe com ele uma cortina fina de fumaça, cobrindo o céu de um cinza triste. Ao longe, uma linha laranja tremeluzia — o sinal claro de que outro pedaço do cerrado maranhense estava sendo devorado.
— Mas como é que a gente vai plantar sem queimar? — insistiu Seu Avelino, a voz carregando mais dúvida do que resistência. — O mato toma conta, o solo endurece…
O barulho seco de galhos estalando chegou até eles. Era o som do fogo mastigando o mato, invisível, mas presente. No dia seguinte, equipes do Corpo de Bombeiros e de brigadas voluntárias estariam na área, com abafadores, sopradores e mochilas costais, combatendo as chamas que avançavam sem pedir licença.
Raimundinho mostrou fotos no celular:
— Aqui, ó. Essa propriedade em Lago do Junco planta milho, mandioca e feijão junto com espécies nativas. O produtor quase não usa fogo. E quando usa, é só pra limpar um trecho pequeno, de forma controlada. A produção aumentou e ele ainda vende madeira de reflorestamento legalizada.
"O fogo apaga o verde, mas sua atitude acende a vida."
Esta frase de efeito copiara do Programa Maranhão sem Queimadas e utilizou como tema gerador das aulas da semana.
Ao olhar pela janela, viu o céu tingido de laranja pelo pôr do sol e pelo reflexo distante das chamas. Sabia que convencer Seu Avelino seria um processo lento, como o crescimento de uma muda no solo árido, mas também sabia que até a maior das florestas começa com uma semente , e a conversa daquele dia talvez tivesse plantado uma.
Na madrugada, enquanto o silêncio do povoado era cortado por um vento quente, cada um deles sonhou com um Maranhão onde o calor viesse apenas do sol e não das labaredas que roubam o verde e a vida.
José Casanova
Professor. Jornalista, Escritor e Cronista
Membro da Academia Bacabalense de Letras
Academia Mundial de Letras da Humanidade
Tutor da Academia Marahense de Letras Infantojuvenil







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