sábado, 19 de julho de 2025

CRÔNICA DO DIA: Paraíba 67 vezes presente

O som do Parabéns pra você era ouvido pelos corredores como se cada prateleira cantasse junto. Balões amarelos e vermelhos tremulavam com a brisa das portas automáticas, e o cheiro de bolo recém-cortado disputava espaço com o de estofados novos e eletrodomésticos recém-ligados.

Na loja do Armazém Paraíba em Bacabal, o tempo parecia ter parado só para lembrar que 67 anos também se comemoram com coração  e, claro, com promoções. Clientes entravam e saíam como quem visita a casa de um velho amigo. Entre eles, dona Arlinda, 78 anos, se ajeitava com sua bolsa no braço e um sorriso no rosto:

— Menina, foi aqui que eu comprei minha primeira geladeira — disse ela à neta, que filmava tudo no celular.

— Em que ano, vó?

— Ora, nem tinha cartão de crédito! Eu pagava no carnê, mês a mês. E o vendedor me conhecia pelo nome. Seu Raimundinho! Você não lembra não? — E ria, como se pudesse ver o vendedor ali na frente, do outro lado do balcão, ainda de terno claro e caneta no bolso.

Logo ao lado, dois senhores comentavam animados:

— Tu te lembra, Chico, do tempo que a gente corria atrás do carro do Paraíba? Só pra ganhar uma bola ou seguir o balão?

— Lembro demais! E o balão subia tanto que parecia que ia levar a gente pro céu — Respondeu Chico, os olhos úmidos de infância.

Nu canto da loja, em ambiente criado especialmente para a ocasião, o gerente Paulo, de camisa bem passada e sorriso treinado, posava para fotos ao lado do bolo gigante. Falava com clientes, fazia stories para o Instagram e agradecia a presença de cada um com um aperto de mão ou um abraço.

 Ele não sabia. Ninguém sabia, mas naquele momento...

Ali, entre os corredores de ventiladores e televisores em promoção, passeava o espírito atento e silencioso de Mestre Claudino, fundador do Armazém Paraíba. Invisível aos olhos, mas presente em cada detalhe da festa. Ele observava com ternura os idosos que ali estavam, os netos que ouviam as histórias, o gerente que levava adiante o nome da empresa. Sorriu ao ver que aquele pequeno armazém de Bacabal havia se tornado uma das maiores redes do país, mas sem nunca esquecer de onde veio.

Como se sussurrasse com o vento, ele falou baixinho:

— Sucesso em qualquer lugar, mas com raízes fincadas aqui...

O som da banda voltou a preencher a loja. Entre os discursos e os brindes de refrigerante em copo plástico, o passado e o presente brindavam juntos.

— Vó, você acha que o Paraíba vai fazer 100 anos?

— Minha filha, do jeito que vai, vai fazer até 200. Porque quem planta com coração, colhe com o povo.

E o povo estava lá. Cantando, comendo bolo, comprando em 10x sem juros e celebrando algo que é mais que uma loja: é memória viva de uma cidade inteira.

O tempo passa, os boletos mudam de cor, o carnê virou app...Mais o Paraíba continua sendo aquele velho conhecido que todo mundo confia, e onde, se vacilar, você ainda sai com um jogo de panelas e uma história boa pra contar.

José Casanova 

Professor, Jornalista e Escritor membro da 

Academia Bacabalense de Letras 

Academia Mundial de Letras da Humanidade 

Tutor da Academia Marahense de Letras Infantojuvenil 

Um comentário:

  1. Lindo texto Zezinho. O Paraíba faz parte da história da minha vida. Meu pai foi funcionário desta loja quando era bem jovem. Fiz muitas compras no Armazém Paraíba de Bacabal. Saudades da minha terra.

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