terça-feira, 8 de julho de 2025

CRÔNICA - Imparcialidade: a face oculta do jornalismo!


A imparcialidade pode ser classificada como o maior conflito íntimo do jornalismo, já que o fazer jornalístico não consegue livrar-se das amarras politicas ou ideológicas de quem o produz.

Quem faz jornalismo o faz sempre a serviço de uma classe ou grupo social, às vezes possível ou passível de ser fotografado como uma mistura homogênea, mas composta de interesses contrários que aguardam momentos de tirarem suas máscaras sociais. Com o advento da internet perder-se num labirinto da ignorância de quem o produz sem o devido conhecimento técnico que deve ter a produção da informação.

A mesma informação poderá ser transmitida por diversas mídias de maneira diferente, mesmo que tenha o mesmo conteúdo, diferenciando-se na exposição do ponto de vista de quem a produziu. Vendo as coisas por esse ângulo podemos afirmar que não há imprensa imparcial, não existe imparcialidade no jornalismo, pois os veículos de comunicação, grandes ou pequenos, estão diretas ou indiretamente a serviço de alguém, seja pessoal, física ou um coletivo de interesses. O texto jornalístico traz em si uma carga semântica que se exterioriza através da linha editorial que segue.

A tez marrom do jornalismo ajuda a maquiar a realidade, gera conflitos existenciais, cria avatás da informação num mundo paralelo e conveniente aos interesses dos que dominam os meios de produção da notícia.

A imparcialidade, portanto, vira discurso politicamente correto que não sai do campo das ideias ficando na penumbra da realidade. Ser imparcial significa ferir interesses, magoar paixões ideológicas, causar mal estar aos privilegiados, e , certamente é uma virtude que ficará para a vida futura quando o jornalismo e a sociedade que o consome atinja um crescimento moral de acordo com o exercício da práxis imparcial.

A ética, diferentemente da imparcialidade absoluta, é uma bússola possível. É ela que deve orientar o jornalista diante do inevitável confronto entre suas convicções e os fatos que narra. Se a imparcialidade é um mito inalcançável, a ética é a ponte que ainda pode ser construída — não para apagar os traços de quem escreve, mas para garantir que o leitor saiba de onde eles vêm.

Num tempo em que as versões disputam o lugar dos fatos e os algoritmos empurram a informação para trincheiras, talvez reste ao jornalismo abandonar o verniz da neutralidade e assumir seu papel como construtor de sentidos, sempre atento à responsabilidade social que carrega. Porque, se não há como escapar das escolhas, que elas sejam conscientes, transparentes e, acima de tudo, comprometidas com o bem público.

No fim das contas, a verdade pode ser múltipla, mas a honestidade com o leitor não pode ser negociável. E é nesse limite — entre o impossível da imparcialidade e o necessário da ética — que o bom jornalismo ainda pode respirar.

Já que não podemos ser imparciais, sejamos pelo menos éticos.

José Casanova

Professor, Jornalista e Escritor membro da

Academia Bacabalense de Letras

Academia Mundial de Letras da Humanidade

Tutor da Academia Maranhense de Letras infantojuvenil

 

 

 

 

 

 

 

 

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