terça-feira, 7 de janeiro de 2025

CRÔNICA DO DIA: Pedreiras: A Princesa do Mearim

    

Pedreiras desperta cedo, com o sol beijando o rio Mearim e a brisa úmida carregando o cheiro de histórias antigas. O rio, com sua correnteza mansa e às vezes bravia, é um confidente silencioso. Dizem que ele guarda segredos que nem mesmo a Pedra Grande, sentinela da cidade, ousa contar. A lenda murmura que a pedra abriga mistérios, que ali moram encantos e talvez até uma princesa de outrora, cujo coração bate no ritmo das águas do Mearim.

    Os passos pelos becos e ruas levam à poesia. Porque em Pedreiras, poesia não se lê apenas nos livros: ela está no canto dos pássaros, nos gestos das mulheres bonitas que desfilam pelo mercado e nas palavras que ecoam no Bar do Índio. Ali, entre uma cerveja gelada e risos despretensiosos, nascem conversas que poderiam muito bem virar canções ou crônicas – mas ficam como promessas ao vento.

    João do Vale, o poeta do povo, é a alma viva desta cidade. Ele cantou a seca, o chão rachado e a força do trabalhador, mas também deixou versos de saudade que parecem gritar por cada esquina de Pedreiras. Samuel Barreto, por sua vez, bordou o espírito da cidade com letras finas, como se o Mearim lhe ditasse os versos. Entre eles, há outros poetas, cantadores, artistas cujos nomes talvez não cruzem fronteiras, mas são imortais para quem vive aqui.

    No Diogo, lugar de encontros e desencontros, o amor é uma chama que ora brilha, ora se apaga. Amores não resolvidos vagam pelas ruas, como fantasmas de histórias que nunca encontraram um final feliz. Talvez por isso, o Carcará sobrevoe atento, como se quisesse vigiar os corações partidos que caminham pelo bairro.

    Há um quê de divino em Pedreiras também. São Benedito é o padroeiro e protetor, a quem o povo recorre com fervor e danças em sua festa. Entre os batuques do tambor de crioula, folia de reis, lendas urbanas  e as procissões, percebe-se que a fé aqui é pulsante e cheia de cor, assim como a própria cidade.

    Se a música é a alma do lugar, o Mearim é o coração. Suas águas refletem o céu e as sombras das mulheres bonitas, que parecem sempre caminhar apressadas, mas carregam a calma de quem sabe que o tempo em Pedreiras não segue o relógio, mas o ritmo das margens do rio.

    E então há o Lago da Onça, de onde dizem que vem mais um mistério. Suas águas escuras, cercadas de lendas e histórias que os antigos contam, reforçam que Pedreiras não é apenas uma cidade – é um estado de espírito, um lugar onde o tempo se dobra e tudo parece ao mesmo tempo eterno e passageiro.

    Pedreiras é isso: uma cidade que canta, que conta e que encanta. Seus segredos estão escondidos nas curvas do rio, nas palavras dos seus poetas e no brilho dos olhos de quem ama e sofre aqui. Porque amar Pedreiras é aceitar que ela nunca se revelará por completo – e é exatamente isso que a torna tão fascinante. 

Por José Casanova
Professor, Jornalista e Escritor membro da
Academia Bacabalense de Letras
Academia Mundial de Letras da Humanidade
Tutor da Academia Maranhense de Letras Infantojuvenil

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