Na partitura da vida brasileira, há uma melodia que nunca silencia, uma sinfonia tecida por dedos que traduzem a alma do povo em poesia e som. São os compositores, regentes invisíveis de nossa alegria, que nos fazem dançar, chorar, sonhar e resistir. Eles desenham em notas e versos o retrato mais fiel de nossa gente, da brisa leve do campo à correria caótica das cidades.
João do Vale, o poeta do povo, foi um desses que souberam capturar a alma das coisas simples e torná-las imensas. De Pedreiras sua terra e de seu coração, brotaram versos que carregam o aroma da chuva no sertão, a esperança teimosa de quem planta em solo árido e a dignidade de quem, mesmo em meio às dificuldades, não deixa de cantar. Ele mostrou que o popular é, na verdade, universal, e que as histórias de sua terra são as histórias de todos nós inclusivo do amigo Chico Buarque de Holanda,
Ao lado dele, Papete, o mestre de todos os sotaques, transformou o tambor e as vozes de um Maranhão plural em um manifesto de beleza e identidade. Suas mãos desvendavam os segredos dos ritmos, seus ouvidos ouviam o que outros não percebiam, e seu coração traduzia tudo isso em música que atravessa gerações.
E o que dizer de Zé Lopes, Paulo Campos e Samuel Barreto, essa trindade sonora que desenhou a alma do Mearim? Se há algo que não se cala é a voz dos rios. Eles cantaram as águas, as margens, os barcos, as esperas e os reencontros, transformando a paisagem em melodia. Samuel Barreto, em especial, soube dar corpo à alma sonora do Mearim, como quem recolhe conchinhas na beira do rio para fazer arte.
Joãozinho Ribeiro e Zeca Baleiro trazem em suas músicas um âmago que é pura poesia e afeto. Joãozinho compõe como quem borda uma colcha de retalhos, cada estrofe um fragmento de memórias e esperanças. Zeca, por sua vez, cria canções que são cartas de amor ao cotidiano, transformando o comum em extraordinário. Ele canta com o coração exposto, e nós, ao ouvi-lo, sentimos o calor de sua alma.
Itamar Lima, com sua poesia, nos lembra que as palavras têm um peso leve, como se fossem asas. Ele escreve para além da música, criando imagens que habitam os silêncios entre as notas. E Perboire Ribeiro, com sua versatilidade, prova que a música é um caleidoscópio, onde cada giro revela novas cores e nuances. Emanuel de Jesus e Marcelo Duarte fizeram tremer os terreiros do Maranhão.
Estes são os compositores que fazem mais do que música; eles nos oferecem uma trilha sonora para a vida. Sua arte é espelho e janela: reflete quem somos e nos abre para o que podemos ser. Eles dançam no compasso de nossas alegrias e nos embalam nos momentos de dor, reafirmando a grandeza da existência humana.
Que o compositor seja sempre o regente da alegria das almas brasileiras, aquele que, com coragem e sensibilidade, nos guia através das melodias do viver. Pois não há silêncio onde há música, e não há tristeza que resista à poesia que brota de um coração em compasso.
Professor, Jornalista e Escritor membro da
Academia Bacabalense de Letras
Academia Mundial de Letras da Humanidade
Tutor da Academia Maranhense de Letras Infantojuvenil
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