Pedro sempre fora o tipo de pessoa que se esconde atrás de uma boa piada. O tipo que, se alguém perguntasse como estava, responderia com um sorriso torto e um "tô na luta, né?"... Era o que ele dizia para os outros, e mais importante ainda, o que ele dizia para si mesmo.
No entanto, nos últimos tempos, a luta parecia ter se intensificado. Cada dia era uma batalha silenciosa, uma guerra travada dentro dele, onde o inimigo não tinha rosto, nem forma, mas se fazia presente em cada esquina do pensamento. Ele acordava, sentia o peso do mundo sobre os ombros e tentava seguir, mas havia algo em sua mente que o paralisava. A sensação de estar afundando, de estar sem ar, de viver em uma vida que não parecia ser a sua, mas que ele não sabia como deixar para trás.
A depressão se infiltrou com a calma de uma maré alta. Não houve grandes sinais de alarde, não houve um momento específico que Pedro pudesse apontar como o começo. Mas, lentamente, ele percebeu que já não sentia prazer nas coisas que antes amava. O trabalho, as conversas, até o café da manhã... Tudo parecia uma repetição vazia de algo que já não fazia sentido.
E, no entanto, Pedro continuava a brincar, a fazer piadas, a dar risadas. Ele pensava que, se fosse o "engraçado", ninguém perceberia o que realmente estava acontecendo. Se ele fosse o "forte", ninguém questionaria sua dor. O problema é que o corpo não mente, e, aos poucos, ele foi se tornando um reflexo daquilo que sentia por dentro: uma sombra de si mesmo."Não é normal", ele pensava, enquanto olhava para o espelho. "Não posso estar assim. Eu não posso ser fraco."
O que Pedro não sabia é que estar assim não o tornava fraco. Era o contrário, na verdade. A verdadeira força estava em admitir sua vulnerabilidade, em dar nome ao que ele sentia. Até que um dia, em uma das tantas conversas rasas que ele tinha com os amigos, alguém, talvez pela primeira vez, disse algo que ele não esperava ouvir:
- Pedro, você não está sozinho nisso. Todos nós temos algo, você sabe?
Era uma frase simples, mas que caiu sobre ele como uma tempestade. Foi a primeira vez que ele percebeu que não precisava carregar o peso do mundo sozinho. E mais importante, foi a primeira vez que ele entendeu que não havia vergonha em pedir ajuda.
O Janeiro Branco chegou como uma onda, e Pedro, sem perceber, estava deixando-se levar por ela, surfando na sua miscelânea de sentimentos Era o momento de refletir, de olhar para si mesmo com mais cuidado. Afinal, quem nunca sentiu, ao menos uma vez, o peso da ansiedade, do estresse, da solidão mental? Quem nunca se viu escondendo suas angústias, pensando que ninguém entenderia?A partir daquele momento, Pedro não se permitiu mais vestir a capa do "forte". Ele entendeu que, na verdade, ser verdadeiro consigo mesmo é o maior ato de coragem que alguém pode ter. Ele aprendeu a falar sobre o que sentia, a nomear suas dores, a ouvir mais seus próprios pensamentos sem medo de ser julgado. E ao fazer isso, foi como se a nuvem que pairava sobre ele começasse a se dissipar.
E, pela primeira vez em muito tempo, ele se sentiu leve, mesmo que apenas por alguns instantes.
Professor, Jornalista e Escritor Membro da
Academia Bacabalense de Letras
Academia Mundial de Letras da Humanidade
Tutor da Academia Maranhense de Letras Infantojuvenil
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