Em uma tarde ensolarada no Bairro Setúbal, em Bacabal, o
poeta Paulo Campos visitava a casa de Diomar, conhecido carinhosamente como
Pajé, um verdadeiro guardião da cultura maranhense. Sentados à sombra de uma
mangueira frondosa, observavam o ensaio animado do bumba-meu-boi, com seus
personagens coloridos dançando ao som dos tambores.
Paulo, com sua voz tranquila, que parecia carregar os
segredos do mundo, iniciou a conversa:
_Pajé, meu amigo, tenho pensado muito nos mistérios da vida
ultimamente. Como explicar a beleza efêmera dessas manifestações culturais,
como o bumba-meu-boi, que alegram nossos corações, mas duram apenas um instante
no tempo?
_Paulo, meu irmão de poesia, os grandes mistérios da vida
estão justamente nesses momentos fugazes, onde a alegria e a tristeza se
encontram, onde a vida e a morte dançam juntas, como os personagens do nosso
boi. Cada batida do tambor, cada passo de dança, nos lembra que somos parte
desse ciclo eterno. Catirina pra mim, representa todas as mulheres do bairro, o
Cazumbá os encantos que às vezes falam comigo. Acredita Paulo?
O poeta refletiu por um momento, contemplando a dança dos
brincantes, e então disse:
_É verdade, Pajé. Em cada batida do tambor, podemos ouvir a voz dos nossos antepassados, que nos ensinam a valorizar cada momento, cada
encontro, cada festa. E quando chegar a nossa hora, como acredita o povo,
seremos bem recebidos por Oxalá no reino de Aruanda, onde os tambores rufam de
forma diferente, mas igualmente bela.
Ambos sorriram. Assim, entre conversas e reflexões, Pajé e
Paulo Campos compartilhavam não apenas palavras, mas também o profundo respeito
pela vida e pela cultura que os unia, celebrando juntos os mistérios que tornam
a existência tão fascinante.
A vida é uma grande mistério, que por vezes nos põe em
labirintos com saída para a morte. O
tempo teima em dar uma natureza efêmera á vida que quando menos se espera se
despede de nós. Com Diomar não foi diferente, ele desencarna deixando órfã a comunidade que se despediu de um
de seus maiores ícones culturais.
O velório de Pajé foi o reflexo
da vida que ele levou, animada e cheia de cores. Enquanto amigos e familiares
se reuniam para se despedir, a comunidade se unia em uma celebração de sua vida. Na comunidade Setubal, com todas suas características
de um Quilombo urbano um silêncio respeitoso pairava no ar, quebrado apenas
pelo som suave dos tambores ao longe. Era o adeus a um grande vizinho. Sua
partida deixou um vazio, não apenas na comunidade, mas em todo o coração do
Maranhão.
Diomar era mais do que um produtor cultural talentoso; ele era um guardião da cultura maranhense, um defensor apaixonado das tradições e raízes que definem o povo daquela terra. Sua dedicação e amor eram evidentes em cada projeto que ele tocava, em cada evento que ele organizava. Ele não apenas preservava a cultura, ele a celebrava, trazendo vida e cor para as tradições que tanto amava.
Em suas mãos, o bumba-meu-boi
dançava com mais energia, as quadrilhas juninas brilhavam com mais intensidade,
e o carnaval ganhava um novo significado. Mas o legado de Diomar não se resumia
apenas às festas e celebrações; ele também se estendia à culinária maranhense,
onde sua paixão e habilidade culinária encantavam a todos que provavam suas iguarias.
Mas além de suas habilidades, era
a generosidade e gentileza de Diomar que o tornavam verdadeiramente especial.
Ele estava sempre pronto a compartilhar seu conhecimento, a ajudar aqueles que
precisavam, a inspirar os mais jovens a seguirem seus passos. Sua presença era
como um raio de sol, aquecendo os corações daqueles ao seu redor.
Enquanto a comunidade se despede de Diomar, o Pajé, é certo que seu legado viverá para sempre. Em cada batida de tambor, em cada dança de boi, em cada prato de arroz de cuxá, seu espírito estará presente, lembrando-nos da importância de preservar e celebrar nossa cultura.
O sol se punha sobre o velório de Pajé. Paulo Campos, o poeta, lembra o ultimo bate papo:
“E quando
chegar a nossa hora, como acredita o povo, seremos bem recebidos por Oxalá nas terras
de Aruanda, onde os tambores rufam de forma diferente, mas igualmente bela.”
Pajé, que sua alma seja recebida
com alegria nas terras de Aruanda, onde seu amor pela cultura maranhense
continuará a brilhar para sempre.
Professor, Jornalista e Escritor membro da
Academia Bacabalense de Letras
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