quinta-feira, 21 de junho de 2018

A importância do Maranhense Graça Aranha para Semana de Arte Moderna



     Apesar de existir uma ampla e variada fortuna crítica sobre o modernismo em São Paulo – revistas, autores, grupos etc. -, que procura dar conta da pluralidade do legado modernista –, alguns nomes parecem relativamente esquecidos pelas historiografias do movimento entre nós. Isso tem levado à concentração das análises em certo número de autores, projetos e obras, eleitos como representantes emblemáticos do período. José Pereira da Graça Aranha (1868-1931) é um deles.Reconhecido como um dos personagens centrais pelo grupo de intelectuais e artistas ligados à Semana de Arte Moderna de 1922, é, contudo, com raras exceções, deixado de lado pelos estudiosos em geral e, em geral, só está presentes nas análises de bastidores e/ou em referências de terceiros.
     Ao ocupar uma posição fora do "centro", Graça Aranha fornece um acesso privilegiado a uma cena ambígua, complicada e repleta de fios soltos, aos quais ele mesmo se encontram emaranhados. Este artigo pretende observar mais atentamente suas redes de sociabilidade e inserção, que revelam, entre outras coisas, as ambivalências do engate do autor em um projeto "moderno", assim como certas ambivalências presentes no interior do próprio movimento modernista brasileiro.

Graça Aranha: o "protomártir da nova era"


      A importância de Graça Aranha para o movimento modernista de 1922 tem sido muitas vezes minimizada, apesar da repercussão de suas obras e de ter sido seu o discurso de abertura da Semana de Arte Moderna. Definido por Oswald de Andrade, em fevereiro de 1922, como o "protomártir da nova era" (apud Boaventura, 2000: 108), descrito por Mário de Andrade, na mesma época, como "a antemão da Semana" (Ibidem: 61), Graça Aranha, aos poucos, passa a ter sua presença sistematicamente desprezada nas avaliações do movimento. Ao que parece, isso se deve à incorporação de um discurso formulado pelos próprios participantes do movimento, que, no decorrer do tempo, elegem e cristalizam as imagens de Mário de Andrade (1893–1945) e Oswald de Andrade (1890-1954) como seus líderes legítimos, o que acaba por ofuscar a pluralidade do grupo modernista.2

      Além de diplomata, Graça Aranha fora um os fundadores da Academia Brasileira de Letras e se consagrara nacionalmente com a publicação do romance Canaã (1902). Nas palavras de Di Cavalcanti, era "um nome sonoro de antologia escolar" (Di Cavalcanti, 1955: 112). Mário de Andrade, em artigo publicado por ocasião da Semana, explica que Graça Aranha emprestou para um projeto até então "inválido" o prestígio de seu renome e o apoio de sua atividade (apud Boaventura, 2000: 61). Desse modo, completa Di Cavalcanti, ele teria dado um ar de "seriedade" ao evento, pois "sua habilidade de diplomata, seu savoir faire de mundano, sua autoridade de mais velho, agiam como música sedutora" (Di Cavalcanti, 1955: 114).

      Secretário de Joaquim Nabuco (1849-1910), Graça Aranha havia passado um longo período na Europa, com estadas intermitentes no Brasil. Esteve em Paris, Londres e Roma, entre 1899 e 1903, época na qual frequentava o apartamento parisiense de Eduardo Prado (1860-1901), por meio de quem conhece Paulo Prado, seu sobrinho. De volta ao Brasil, entre 1904 a 1911, inicia um romance com Nazareth Prado (1875-1949), irmã de Paulo, mas logo regressa à Europa como diplomata, regressando definitivamente ao Brasil somente em 1921, meses antes da concretização da Semana. Seu retorno definitivo ao país e, mais especificamente, sua longa estada em São Paulo, quando sua esposa o esperava no Rio de Janeiro, estavam diretamente relacionados não apenas a um desejo de renovação estética e/ou a vontade de reencontrar Nazareth: Aranha tinha também importantes negócios comerciais a serem resolvidos na capital paulista.

      Desde o início do século XX, Graça Aranha vinha estreitando relações com a família Prado, sobretudo com Antônio Prado (1840-1929) e seus filhos, Paulo e Nazareth. Este mesmo círculo - junto a Oduvaldo Pacheco e Silva, marido de Nazareth, e Afonso Arinos de Melo Franco (1868-1916), também casado com uma irmã de Paulo Prado – havia organizado, em 1915, a vinda de Graça Aranha a São Paulo, para uma conferência oficialmente promovida pela Sociedade de Cultura Artística da cidade. Durante a conferência, realizada no recém-inaugurado Teatro Municipal – cuja construção, autorizada pelo governo de Antônio Prado, em 1903, fora concluída em 1911 –, Graça Aranha discursou sobre "A mocidade heroica de Joaquim Nabuco", tema provavelmente escolhido por ele mesmo.

      Por ocasião da conferência, Graça Aranha já estava envolvido com os negócios da família Prado, que não eram poucos. Dois meses antes, em fevereiro de 1915, Antônio Prado – que, na época, presidia um grande número de empresas, como o Banco do Comércio e da Indústria, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro, o Curtume Água Branca, o Frigorífico Barretos, a Vidraria Santa Marina, além de negócios imobiliários no Guarujá e o Automóvel Clube – lhe havia enviado uma carta a respeito de uma remessa de café para a Rússia, via Estocolmo, e sobre as exportações de carnes congeladas que a família começara a fazer para a Itália e Inglaterra (apud Azevedo, 2002).3 Graça Aranha lhe responde oferecendo sua ajuda para intermediar os negócios da família Prado na Europa (Ibidem).4
      Nesse período, a Companhia Prado Chaves – primeira exportadora brasileira de café, fundada em 1887 e então sob direção de Paulo Prado –,5 já era a maior exportadora de café da Primeira República, mas no setor de carnes congeladas a situação era bem diferente e o auxílio de Graça Aranha era de grande valia. Tratava-se de um novo ramo, com um mercado tradicional já ocupado, sobretudo pelos argentinos, mas com novos e gigantescos mercados abrindo-se rapidamente, envolvendo grande concorrência. Assim, para investir na venda de carnes congeladas, a família Prado fundara, em 1913, a Companhia Frigorífica e Pastoril de Barretos.
      Antigo funcionário da Companhia Prado Chaves, Pedro Luiz Pereira de Sousa, explica que foi Paulo Prado quem trouxe o know-how e os materiais da Europa e a mão de obra especializada da Argentina e dos Estados Unidos. Além disso, Paulo Prado teria se associado à poderosa Companhia Mecânica e Importadora, do conde Alexandre Siciliano (1860-1923), que também contava com a família Prado entre os acionistas herdeiros (Sousa, 1950).
      Aparentemente, pelo que se pode depreender das correspondências trocadas entre Antônio Prado e Graça Aranha, o autor de Canãa passa a intermediar, a partir de 1915, os interesses da Companhia Frigorífica e Pastoril de Barretos e os da Companhia Mecânica e Importadora de São Paulo junto ao governo inglês. Para isso, começa a receber mensalmente, de ambas as companhias, mil e quinhentos réis (Azevedo, 2002). Não por acaso, será descrito por Lima Barreto, em 1917, como o "caixeiro-viajante" dos Prados (apud Barbosa, 1952: 250).
      Figura prestigiada e com bom trânsito no circuito político-intelectual que governava as nações capitaneadas pela França e pela Inglaterra, Graça Aranha há de ter visto, com a ajuda da família Prado, as possibilidades de ganho que a guerra abria a esse novo tipo de investimento. Para justificar suas ações, irá defender os negócios realizados junto à família Prado como parte de uma guerra econômica contra a Alemanha, pelo abastecimento das nações aliadas. Já em carta à esposa, a justificativa será outra: "já é tempo de ser formiga – e deixar o canto de cigarra – farei tudo para ganhar a nossa vida e nos libertar de tanta pobreza" (apud Azevedo, 2002: 206).6  
      Ao retornar definitivamente ao Brasil, em novembro de 1921, além de tratar dos empreendimentos da família Prado, Graça Aranha visita a primeira exposição de quadros e desenhos de Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976), intitulada "Fantoches da meia-noite", na livraria O Livro, de Jacinto Silva. Anos depois, Di Cavalcanti explica como se deu tal visita:
     O velho Jacinto Silva chamou-me misteriosamente a um canto e anunciou-me a presença de Graça Aranha em São Paulo, pedindo-me que eu fizesse o possível para reunir gente nova no recinto de minha exposição, porque o glorioso acadêmico desejava contatos com a mocidade literária e artística de São Paulo. (...) [mas] mal havia terminado de me pedir a convocação dos moços paulistas, eis que chega Graça Aranha" (Di Cavalcanti, 1955: 112).
      Ainda que, segundo Di Cavalcanti, Graça Aranha tenha observado suas obras com "gloriosa distância", criticando o "atormentado" de seus desenhos e quadros, é nessa exposição que ele inicia uma aproximação com os futuros participantes da Semana de 1922, sendo apresentado pessoalmente a Mário e Oswald de Andrade, Menotti del Picchia (1892-1988) e Guilherme de Almeida (1890-1969) ((Di Cavalcanti, 1955: 112-113). Ao se aproximar dos modernistas de São Paulo, Aranha logo pensa em Paulo Prado – com quem, aliás, já havia conversado sobre "os jovens muito modernos" que conhecera em São Paulo – e lhes sugere que o procurem, pois acreditava que ele seria simpático ao movimento, por achar positiva a "renovação" (apud Azevedo, 2002: 268). Di Cavalcanti esclarece um pouco mais essa relação:

      Graça Aranha tinha uma ligação de amizade com Paulo Prado, personalidade que nenhum de nós conhecia e muito menos sabíamos ser um erudito da história do Brasil e um escritor excelente. Graça Aranha explicou quem era Paulo Prado e suas disposições em relação ao nosso movimento. Partindo para o Rio, Graça deu-me um cartão de apresentação a Prado e fui eu, do grupo modernista, o primeiro a conhecer aquela figura nobre e elegante de civilizado paulista, educado pelo tio Eduardo Prado, por Eça de Queirós, amigo de Claudel, homem que conheceu Oscar Wilde, dançarinas do tempo de Degas e o próprio Degas (Di Cavalcanti, 1955: 114-115).

      Após a virada do ano, no entanto, Graça Aranha escreve a sua esposa e afirma ter encontrado entre os paulistas um clima de "desânimo", pois faltava apoio material à Semana (Azevedo, 2002: 271).7 Paulo Prado, potencial financiador do evento, parecia estar mais envolvido com os negócios e com a política do que com a literatura e as artes. Segundo as próprias palavras do próprio Prado, "outros cuidados fala[va]m mais alto do que as mais atraentes polêmicas artístico-literárias" (Prado, 1926). Mas "agora tudo sai!", afirma Aranha, "estou organizando um comitê, com Paulo Prado à frente" (Azevedo, 2002). Assim, "a muito custo (...) começaram os preparativos das festas..." (Di Cavalcanti, 1955: 114). Além de incentivar a atuação de Prado, Aranha foi também responsável por acertar algumas participações cariocas no programa do evento, como as de Ronald de Carvalho (1893-1935) e Heitor Villa-Lobos (1887-1959), com os quais mantinha laços de amizade (Azevedo, 2002).

      Como reconhecimento de seu prestígio enquanto viabilizador da arte moderna, Graça Aranha é quem irá proferir a conferência inaugural da Semana de 1922, intitulada "A Emoção Estética na Arte Moderna". Retomando aí as ideias centrais de seu livro recém-lançado, A estética da vida (1921), Aranha lança as bases do evento modernista: "o que hoje fixamos não é a renascença de uma arte que não existe. É o próprio comovente nascimento da arte no Brasil, e como não temos felizmente a pérfida sombra do passado para matar a germinação, tudo promete uma admirável florada artística" (Aranha, 1968: 744).

      Deixando de lado o significado filosófico de sua concepção de arte (Jardim, 1978), podemos observar uma recusa em ver na imitação da natureza uma finalidade artística. Opondo-se a uma natureza "fixa" e "eterna", Graça Aranha explica que "tudo passa" e que o artista moderno deve estar em "íntima correlação com a vida moderna na sua expressão mais real e desabusada" (Aranha, 1968: 742). Nesse sentido, suas formulações parecem se afinar ao projeto modernista de renovação, que ele, não por acaso, anuncia ritualmente com o pronunciamento de abertura.

Parece claro, portanto, que a centralidade de Graça Aranha na Semana de 1922 diz respeito não apenas ao prestígio e ao apoio que ele oferece ao grupo, mas também às suas ideias, que irão dialogar com as propostas modernistas em curso. Meses antes do evento, quando da elaboração de A estética da vida, Aranha parece evidenciar também aquilo que será central no "segundo tempo modernista", ou seja, que sem a afirmação da nacionalidade a integração brasileira ao universal não estaria assegurada (Jardim, 1978).8 A "estética" por ele proposta reside justamente na integração do "eu" - a nacionalidade - à "realidade cósmica", e à sua "tradução estética" (Aranha, 1968: 734). Nesse sentido, não parece exagerado afirmar que o modernismo brasileiro é profundamente marcado por suas reflexões.9

Todavia, a literatura e as artes expandem-se em direção à política e vice-versa. Menos de 15 dias após a realização da Semana de Arte Moderna, as eleições presidenciais consagraram a vitória do candidato situacionista, Artur Bernardes (1875-1955), o que levou algumas unidades militares do Rio de Janeiro e do Mato Grosso a se insurgirem contra o governo. Entre elas estava a unidade do Forte de Copacabana, que iniciou sua revolta em 5 de julho, no mesmo dia em que Graça Aranha telegrafou a seguinte mensagem a Paulo Prado, em uma provável tentativa de articular a adesão paulista: "tumor arrebenta hoje" (apud Anjos, 1975: 152).


Muitos dos suspeitos de conspirar contra o governo são presos no dia seguinte ao levante de Copacabana, entre eles Graça Aranha, que ficará detido durante quase um mês. Nessa ocasião, Oswald de Andrade teria endereçado ao governo um manifesto de intelectuais paulistas, por ele redigido, pedindo a soltura do amigo. Logo após ser liberado, Aranha é convocado novamente para se apresentar à Polícia para uma acareação, mas prefere se afastar do Rio de Janeiro e da perseguição policial, fugindo para o interior de São Paulo, onde se estabelece em uma das fazendas de Antônio Prado, a São Martinho (Azevedo, 2002).


De acordo com as anotações do diário de Tristão de Athayde, Graça Aranha é mais uma vez detido em 1924. Embora não acredite no seu envolvimento com o movimento político paulista, Tristão ressalta que Aranha era sempre visto ao lado de Antônio Prado, "que seguramente anda[va] com o dedo em todas essas tramas revolucionárias" (Ibidem: 385). Inclusive, no "Manifesto Revolucionário de 1924", publicado em diversos jornais da época, os "chefes do movimento revolucionário" chegam a convidar publicamente Antônio Prado para assumir o governo de São Paulo (apud Silva, 1964: 531).


Talvez como uma forma de manifestar apoio ao escritor perseguido e à sua postura antigovernista, a redação da Klaxon - Mensário de Arte Moderna,10 a primeira revista modernista do Brasil, resolve lançar o último número de 1922 inteiramente dedicado a Graça Aranha. Como a Klaxon não possuía diretor ou redator-chefe –funcionando como um órgão colegiado no qual todos participavam das diferentes etapas de sua realização, e Paulo Prado era integrante do grupo da revista –, é bem possível que tal ideia tenha surgido no círculo da família Prado. De qualquer maneira, a homenagem é acatada pela Klaxon, ainda que as colaborações mostrem ser o personagem um tanto controverso. Os ensaios publicados são de amigos do homenageado, como os cariocas Ronald de Carvalho e Renato de Almeida. Mário de Andrade, presença frequente nos números anteriores, aqui comparece só com um poema, assim como Guilherme de Almeida e Sérgio Milliet (1898-1966). De Tarsila do Amaral (1886-1973), é publicado um retrato de Graça Aranha. De Oswald, nem uma só palavra.


Dois anos depois, as controvérsias em torno de Graça Aranha aumentam. Ao proferir a conferência "O Espírito Moderno", na Academia Brasileira de Letras, em junho de 1924, Aranha não somente propõe seu famoso desafio à instituição – "se a Academia não se renova, morra a Academia" –, como ressalta que "o primitivismo dos intelectuais é um ato de vontade, como o arcadismo dos acadêmicos" (Aranha, 1968: 53-54). Oswald de Andrade, que havia publicado no início do mesmo ano seu "Manifesto da Poesia Pau-Brasil", não fica nada satisfeito com o comentário daquele que tinha sido por ele caracterizado, ao lado de Paulo Prado, como "à frente" do movimento modernista (apud Boaventura, 2000: 53). Poucos dias depois, Oswald publica no jornal A Manhã um ataque direto ao conferencista:


Graça Aranha é um dos mais perigosos fenômenos de cultura que uma nação analfabeta pode desejar. Leu mais duas linhas do que os outros, apanhou três ideias além das de uso corrente e, faquirizado por uma hipnose interior, crédulo e ingênuo, quer impor à outrance os seus últimos conhecimentos, quase sempre confusos e caóticos" (apud Batista et al., 1972: 216).


Ao longo de todo o artigo, Oswald de Andrade procura desmoralizar a figura de Graça Aranha. Revela, ainda, que o contato de Aranha com o cubismo, um dos temas da conferência na Academia, teria ocorrido "apenas há três semanas, tomando chá comigo e Paulo Prado no ateliê na pintora Tarsila do Amaral" (Ibidem: 217). Em carta ao poeta Manuel Bandeira, Mário de Andrade afirma que Graça Aranha teria confessado a Paulo Prado que aquela era mesmo uma crítica dirigida a Oswald e ao seu interesse pelas propostas primitivistas europeias, o que, para Mário, criou uma situação muito "desagradável" (apud Moraes, 2000: 135).11 Esses indícios sugerem que, de fato, não havia grupos definidos durante a Semana de Arte Moderna; as divergências e coletivos mais definidos parecem surgir posteriormente.12


O impacto positivo deixado por Graça Aranha em Oswald de Andrade, e em outros participantes da Semana, por ocasião da realização do evento, parece ter aos poucos se alterado, ao mesmo tempo em que os próprios modernistas redefiniam seus agrupamentos e disputavam a liderança do movimento. Mário de Andrade, por exemplo, ao enviar uma carta de solidariedade a Aranha pelo seu desligamento definitivo da Academia, confessa a Manuel Bandeira ter subtraído uma "ironia" na carta ao "camarada": "a ironia vinha do sacrifício que ele fazia da Academia para ganhar a grande Glória de ser condutor de gentes" (apud Moraes, 2000: 154).13 No ano seguinte, em carta a Paulo Prado, Mário conclui que Graça Aranha só deu seu apoio à Semana de 1922 por ser um "interesseiro", "interessado" e "interessista" (apud Calil, 2004: 224).14

      As acusações de que Graça Aranha queria tomar para si a liderança do movimento atingem tais dimensões que a redação do jornal A Noite, após publicar, em 1925, uma entrevista na qual Mário de Andrade o chama de "papa do futurismo", publica também uma nota ressaltando que "não é verdade que o escritor Graça Aranha tenha vindo a esta casa protestar por termos dado ao Sr. Mário de Andrade e não a ele o papado do futurismo" (apud Batista et al., 1972: 279). No mesmo ano, em artigo publicado na Estética, revista carioca modernista dirigida por Sérgio Buarque de Holanda (1902-1987) e Prudente de Morais Neto (1895-1961), Mário faz questão de enfatizar que o modernismo não veio ao Brasil "dentro da mala de Graça Aranha" (Andrade, M., 1925: 338).
 
      Pelo que se sabe, Paulo Prado, apesar de ser o autor do prefácio da Poesia Pau Brasil (1925), de Oswald de Andrade, não se manifestou a respeito dessas acusações, mantendo-se diplomaticamente afastado de tais polêmicas. Graça Aranha não só continuará participando dos empreendimentos da família Prado, como irá romper de vez – embora não publicamente – seu casamento oficial para ficar com Nazareth (Azevedo, 2002). Inclusive, em 1928, Prado será um dos colaboradores da revista carioca Movimento Brasileiro, dirigida por Aranha e Ronald de Carvalho. Tal publicação, em seu primeiro número, adianta aos seus leitores trechos do ainda inédito Retrato do Brasil, de Paulo Prado, e elogia o autor do livro.15 Assim, em meio a tantas controvérsias, Prado parece ter preservado sua amizade com Graça Aranha.
Clique AQUI  e veja Biografia do escritor Graça Aranha.




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