Em Janeiro de 2009 chegamos à cidade de Quipapá para prestar concurso
público para a Prefeitura Municipal. Enquanto tentava uma vaga para
Professor de História, Michele Maximino tentou uma vaga para Técnica de
Enfermagem. Com o resultado do concurso, comemorei o primeiro lugar, mas
Michele não obteve êxito. Em junho de 2009, tomei posse do cargo e em
julho comecei a trabalhar. Pedi remoção do concurso estadual, da Escola
Bernardo Vieira de Melo, em Jaboatão dos Guararapes, para a Escola Dr.
Fernando pessoa de Méllo e finalmente estava em uma cidade pequena, com
cerca de 25 mil habitantes, e de uma receptividade grandiosa. Boas
amizades, clima bom, custo de vida melhor ainda, sem trânsito, violência
quase inexistente, típica cidade do interior onde todos se conhecem. Um
belo local para criar filhos e educá-los.
No dia 03 de outubro 2013 tudo mudou. Em um programa ‘humorístico’ de
televisão em rede nacional e internacional, blindados pela liberdade de
expressão, somos atacados (relembre aqui)
por um projeto de humorista que em pouco mais de um minuto e meio
desferiu vários golpes contra a honra e a dignidade de uma doadora, que
além de doar mais de trezentos e cinqüenta litros de leite humano, ainda
dirigia cerca de 80 quilômetros até o banco de leite mais próximo, na
cidade de Caruaru, PE. (acesse aqui o site de Michele)
Tudo mudou. Pessoas ligavam, passavam mensagens, comentários nas
ruas, risadas em grupos, ataques no facebook; casos típicos de uma
pequena cidade do interior e de uma pequena minoria que é invejosa e
caluniosa. Quipapá não se resume a essas pessoas, elas não representam o
sentimento da maioria.
Fomos vencidos, perdemos a primeira batalha. Uma pequena parcela da
população regida pela “simples piada” de Danilo Gentili que até hoje
“surfa” na onda da piada, nos atacou covardemente. Já Danilo Gentili
ganhou mais seguidores no facebook; ganhou mais audiência em seu
programa; conseqüentemente mais patrocinadore$; uma nova emissora (SBT);
um salário que pode saltar de 70 mil para até 700 mil mês.
Quem ganhou com a piada? Michele deveria ser alvo de chacota em rede
nacional por que fazia campanha para incentivar mais doações de leite
humano? Desde o momento percebi que existe uma inversão de valores nesse
episódio. A doadora de leite humano que salva vidas foi transformada em
uma criminosa, pelo simples fato de doar leite e sensibilizar outras
lactantes a doarem o seu excesso de leite materno.
Mais uma batalha perdida
No último domingo (26 de janeiro de 2014) saímos da cidade e estamos recomeçando nossas vidas no Recife. Incertezas
é o nome dessa mudança de vida, causada por “uma simples piada”. Deixei
cinco anos de uma vida tranqüila, um concurso municipal, em virtude de
uma humilhação em rede nacional.
Recomeçar é a palavra de ordem, procurar uma escola para meu filho
Gabriel estudar, procurar um emprego para Michele Maximino, trabalhar e
ajudá-la a esquecer tudo. Não estamos arrependidos de nada, faríamos
tudo novamente, pois temos a certeza que Deus está no comando e não vai
nos abandonar. Perdoamos todos que nos fizeram mal, pois tenho a certeza
que ódio é um sentimento que devemos eliminar para não desencadear
outros males. Doar é dividir o seu amor com o próximo.
Texto enviado a Pragmatismo Político pelos autores Michele Maximino e Ederval Trajano E reproduzido em Diário do Mearim
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