terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Lula diz que quer relatório sobre Araguaia antes de deixar o governo

FONTE: O Globo

O presidente Lula, ao lado do ministro da Defesa, Nelson Jobim, durante solenidade de entrega da Medalha Mérito Tamandaré, pelo Dia do Marimheiro
 


  - Durante cerimônia de entrega do 16 prêmio de Direitos Humanos, nesta segunda-feira, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, que lhe entregue, antes de deixar o governo, dia 1º de janeiro, um relatório sobre como estão as buscas pelos corpos dos desaparecidos na guerrilha do Araguaia. A guerrilha se deu no final da década de 60 e foi debelada pelo Exército em 1972. Dos cerca de 80 militantes, menos de 20 sobreviveram. Há aproximadamente 50 pessoas desaparecidas e o Exército se nega a informar onde os corpos estão.

- Acho que estamos num estágio muito importante da conquista dos direitos humanos - disse Lula.

- Ainda falta muito. Eu pedi ao ministro Jobim que quero, antes de deixar a Presidência da República, um relatório de como está a comissão do Araguaia que está fazendo a investigação para que a gente possa deixar para a Maria do Rosário (futura secretária de Direitos Humanos), quanto para a presidente Dilma, o estágio que está a situação: se já terminou ou se continuam ainda as buscas. Mas eu quero entregar no estágio que está - discursou.

Antes de Lula tocar no espinhoso assunto do Araguaia, militantes de direitos humanos que assistiam à solenidade cobraram do governo a abertura dos arquivos do regime militar. Ao entregar o prêmio a Elzita Santos de Santa Cruz Oliveira, 97 anos, cujo filho Fernando Santa Cruz está desaparecido desde fevereiro de 1974, os militantes gritaram:

- Abertura dos arquivos já!

Depois, que Lula discursou, esses mesmos militantes, para se despedir do presidente, entoaram "ole, ole, ole, olá, Lula, Lula".

O presidente também cometeu uma gafe com Maria do Rosário, que ocupará o lugar de Paulo Vanucchi.

- Eu acho, Maria do Rosário, que você pode fazer o máximo que fizer, que irá apenas fazer igual (ao Vanucchi). Mais do que foi feito neste período eu acho quase impossível - declarou.

Ao perceber a gafe, Lula tentou consertar:

- Se bem que na política nada é impossível. E eu acho que, como as mulheres estão galgando cada vez mais espaços importantes na política, aquilo que parece impossível para um homem, pode ser baba para as mulheres.

Lula também foi eloquente nos elogios às mulheres, dizendo que têm uma "força mais porreta" do que os homens.

- Sinceramente, espero não estar pecando por excesso de otimismo.
Vanucchi se despede e elogia PNDH3

Ao se despedir do cargo de ministro chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi reconheceu nesta segunda-feira que houve avanços na área desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, qualificou como extraordinário o terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos lançado no ano passado pelo governo e que causou muita polêmica, como artigos que preconizavam o controle da mídia e a defesa do aborto, e adiantou que até o dia 31 sua Pasta editará um novo livro, chamado Habeas Corpus, que tem como premissa relembrar que há cerca de 180 desaparecidos políticos e o Estado tem de apurar o paradeiro dos corpos.

- As férias deste ano foram interrompidas porque houve o extraordinário evento de lançamento do PNDH 3, um grande legado do governo Lula - disse ele. Na verdade, o Plano foi lançado em dezembro de 2009.

- Houve dificuldades naturais na vida democrática, naturais em um governo, como é o governo de índole profundamente democrata, a índole profundamente democrática do nosso presidente. O tema dos direitos humanos ainda está sujeito a muitas incompreensões, distorções, que lamentavelmente contaminaram inclusive o processo eleitoral - reconheceu.

Para Vanucchi, as dificuldades estão sendo superadas com a busca de bom-senso.

- Não havia porque pretender que o PNDH3 fosse um documento perfeito, onde não coubessem ajustes, alterações. Isso é a vida democrática - admitiu.

Ao falar do livro que a Secretaria irá lançar, Vanucchi disse que o Brasil ainda não resgatou a dívida de devolver os corpos dos desaparecidos às famílias e elogiou o fato de que, desde 1988, haja uma política de direitos humanos no país.

- No governo FHC houve importantes avanços e esses avanços foram multiplicados no governo Lula.

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